DA PROBLEMÁTICA DA UNIDADE GUINÉ-BISSAU E CABO VERDE ABORTADA ...
CABO VERDE FACE AO NOVO PATERNALISMO DITATORIAL.
“Esperemos que a nova orientação de Presidente Costa Gomes compreenda melhor que Cabo verde é parte integrante da Guiné-Bissau, que muitos militantes e dirigentes do P.A.I.G.C. são oriundos do arquipélago”. (Novo jornal de Cabo Verde 31/10/74).
Se Cabo Verde é parte integrante da Guiné, por que razão se fala repetidamente de unidade e se diz que a mesma só pode ser decidida pelas populações interessadas?
Deflui desta pergunta que asseguro que os portugueses sempre exploraram a divisão entre povos em razão de questões de índole étnico-cultural para reinar no aparato do Estado. Agora que vi que um guineense em conversa comigo me teria dito que Cabo Verde era parte integrante da Guiné-Bissau, razão por que indago porque o PAIGC insiste em não retirar da sigla “C” que significa Cabo Verde?!
CABO VERDE FACE A UM NOVO PATERNALISMO DITATORIAL
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Quando em 1965 foi criado o PAIGC com objectivo de se libertar duas colónias cada uma constituindo uma entidade sócio-cultural própria poucos observadores teriam eventualmente descortinado as dificuldades que tal iniciativa poderia vir a engendrar.Não porque um certo desfasamento social ou cultural possa constituir um obstáculo a qualquer tipo de unidade, que esta se manifeste sob a forma de cooperação económica, militar ou outra mas devido ao carácter confuso e demagógico dos argumentos utilizados pelos representantes do Partido.
E nesta perspectiva que a união Cabo Verde –Guiné tem suscitado e continua a suscitar muita controvérsia, dando assim lugar à divisão dos Caboverdeanos, independentemente da orientação política de cada um, em dois blocos distintos: os que são pró e os que são contra a unidade. Estes últimos são rotulados de “reaccionários”, “traidores”, “cachorros de dois pés” e outros adjectivos do mesmo teor. Mais ainda, os que estão no arquipélago são perseguidos e muitas vezes enviados para as prisões outrora ao serviço a política colonial-fascista de Salazar; os que estão no estrangeiro são ameaçados de não mais poderem pisar o solo caboverdeano, pelo menos enquanto durar o reinado dos actuais ditadores.
Encontramo-nos, desse modo, perante a mesma situação que conhecemos antes do 25 de Abril último: perseguições, vasculhas, intimidação, encarceramentos arbitrários que regularmente obrigam muitos dos nossos compatriotas a escolherem o caminho do exílio.
Tudo isto porque não se está de acordo com a tese unitarista defendida pelo PAIGC. Com efeito a exigências da união Cabo Verde Guiné baseada em laços sanguíneos, culturais, etc, não constitui um argumento convincente na medida em que Portugal, utilizando as mesmas frases poderia apresentar uma exigência semelhante. Nessa altura a independência das ilhas de Cabo Verde, direito que não pode de forma alguma ser alienado, ficaria à mercê de um simples jogo de palavras aquilo que se pretende fazer com o destino político do território, não obstante só uma das partes estar directamente interessada? Vejamos um exemplo: “Ontem, em S. Vicente, Aristides Pereira pronunciou outro discurso no qual anunciou que a união da Guiné-Bissau e das ilhas de Cabo Verde seria decidida livremente pelas populações interessadas, mas que em caso algum semelhante unidade poderá significar anexação ou sujeição de uma das partes à outra”. (Diário de Notícias -25/2/1975)
No entanto a Constituição da República da Guiné (independente desde Setembro de 1973) apresenta essa união como um imperativo e estabelece sanções para aqueles que não estiveram de acordo? Se não vejamos: os indivíduos que pela sua acção ou conduta atentem contra a unidade do povo da Guiné e Cabo Verde ou favoreçam o colonialismo, o imperialismo, o racismo ou o tribalismo, serão privados do exercício dos direitos políticos e liberdades fundamentais do cidadão”. (art. 22 da Constituição atrás citada). Como se pode constatar a contradição é flagrante e dispensa comentários.
O mesmo Aristides Pereira, noutras ocasiões, afirma que os opositores da causa unionista são contra a independência e, na qualidade de traidores, de reaccionários, devem ser combatidos e eliminados. Mas de que lado está a traição e a reacção?
A História e o povo de Cabo Verde cedo ou tarde farão o seu julgamento. Então, os verdadeiros traidores (aqueles que tudo fazem para anexar a nossa Terra a um País estrangeiro) serão desmascarados e receberão o castigo que merece.
Vejamos agora um outro tipo de argumentação que, embora proveniente do Secretário-Geral da O.U.A., insere-se perfeitamente no âmbito do reportório propagandístico do Partido: “Esperemos que a nova orientação de Presidente Costa Gomes compreenda melhor que Cabo verde é parte integrante da Guiné-Bissau, que muitos militantes e dirigentes do P.A.I.G.C. são oriundos do arquipélago”. (Novo jornal de Cabo Verde 31/10/74). Se Cabo Verde é parte integrante da Guiné, por que razão se fala repetidamente de unidade e se diz que a mesma só pode ser decidida pelas populações interessadas? Esta pergunta para a qual não encontramos uma resposta consequente justifica, em certa medida, o aspecto abusivo, opressivo, policial do actual Governo Transitório. Aliás, utilizando argumentos facciosos e nadando num mar de contradições, os servidores da política de Moscovo apenas conseguiram impor a sua hegemonia no arquipélago graças a uma acção ditatorial e intimidativa.
Enfim, o regime totalitário perante o qual nos encontramos mais uma vez confrontados, devemo-lo à arbitrariedade do Governo português e o oportunismo de uma minoria caboverdeana pretensamente representativa. E o denominador comum dessa arbitrariedade e dessa arbitrariedade e desse oportunismo, longe dos interesses do nosso povo, parece ser o social-imperialismo soviético.
CALÚ (In Perspectivas –Boletim da Comissão Caboverdeana Ordem –Independência, Ano 2, Abril 1975, Nº. 3, de que foi um dos dirigentes, Engenheiro Manuel Delgado, tendo como editor responsável A. Walrandt-Courcelles, rue de Monceau 22.Ht. Bélgica, p. 4/8).
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Pedro Rogério Delgado |
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