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domingo, 10 de maio de 2015

[8134] - SAL E S.VICENTE - GRANDES INVESTIMENTOS!...

José Duarte
José Duarte, presidente da Cabo Verde Investimentos (CI): “Estamos a negociar grandes investimentos para São Vicente e Sal”
10 Maio 2015

A Cabo Verde Investimentos (CI) está a negociar dois grandes empreendimentos para a ilha de São Vicente, um para a Zona de Desenvolvimento Turístico Especial de Praia Grande e outro para o Flamengo. Os projectos têm orçamentos acima dos 80 milhões de euros, cada, e incorporam a componente Saúde direccionada para a Terceira Idade. Nesta conversa com Cifrão, o PCA, José Duarte revela ainda que a CI está também a transaccionar mais dois projectos para a ilha do Sal – além dos que já estão prestes a arrancar: as obras do empreendimento do Decameron em Ponta Sinó, o Lhana Beach – bem como na Boa Vista, onde o The Resort Group deverá lançar em breve a primeira-pedra do White Sands, e na capital o Hotel Hilton. Uma dinâmica que mostra, segundo José Duarte, a retoma dos investimentos estrangeiros, sobretudo no sector do turismo, que é a locomotiva da nossa economia. “É crucial aumentar o número de camas e de quartos. Cabo Verde não pode ficar encalhado com os doze mil quartos”, afirma. José Duarte, presidente da Cabo Verde Investimentos (CI): “Estamos a negociar grandes investimentos para São Vicente e Sal”
Cabo Verde regista neste momento uma tímida volta do Investimento Directo Estrangeiro (IDE). Que projectos concretos a Cabo Verde Investimentos (CI) tem em mãos neste momento para o país e em particular para a ilha de São Vicente, no sector do turismo?

Vou começar por São Vicente. Neste momento, em concreto temos o projecto de João d´Évora. Há cerca de um mês tivemos um encontro com os promotores do empreendimento e fez-se alguns ajustes para que possam avançar para a segunda e terceira fase. A primeira está bem encaminhada. São 30 casas, sendo que oito ou dez estão em adiantado estado de execução. É um projecto muito bonito e emblemático. Tem esta primeira fase de imobiliária. Na segunda vai-se construir uma faixa em declive, com oferta de restauração, boutiques, lojas, que vão desembocar numa piscina oceânica. Isso porque aquela baía é perigosa. Esta fase tem tudo para começar logo. Estamos à espera apenas de acertos dos terrenos com a Direcção do Património. A proposta do contrato de concessão dos terrenos já foi formulada. Portanto, de concreto para São Vicente temos João d´Évora.

Há outros projectos em negociação ou em carteira para a ilha?

Estamos neste momento a negociar outros dois importantes projectos para São Vicente. Um, para a Zona Turística Especial da Praia Grande, com um grupo belga, e, outro, para o Flamengo, com um operador norueguês. São projectos novos que nunca foram apresentados. São projectos de turismo de resort que possuem uma componente de Saúde. Mas temos também alguns projectos de promotores nacionais que estão a ser publicitados no Mindelo Meeting Point. Este encontro é um palco privilegiado para a análise de pelo menos uma dezena de projectos.

Turismo de Saúde
Sobre os dois projectos novos que referiu, o que vão trazer de inédito para este sector em São Vicente?

Como eu disse, são projectos de turismo que incorporam a componente Saúde. O de Praia Grande tem a particularidade de ser direccionado para o turismo de Terceira Idade e de Saúde, mas também de imobiliária e lazer. O de Flamengo também poderá vir a ter as mesmas componentes. Este é mais virado para o mercado nórdico, que demanda muito turismo de reformados e/ou Terceira Idade. Têm grande poder de compra. Quer o projecto da Praia Grande quer o de Flamengos vêem em São Vicente condições particulares para desenvolver este turismo.

Vão construir hotéis, casas ou villas para vendas e aluguer?

Não. Vão construir resorts integrados. No caso da Praia Grande estamos a discutir, ainda não concretizámos nada. Mas temos a perspectiva de haver um pequeno Centro Médico dentro do projecto. Estamos a falar de turismo de Terceira Idade, que tem de ter um suporte médico, não obstante a ilha de São Vicente estar neste momento a oferecer condições de saúde boas, não só a nível do hospital central, como também de clínicas privadas. São Vicente reúne, mais do que outras ilhas, condições para desenvolver este tipo de oferta turística.

Nos últimos tempos, tem-se falado muito em Turismo de Saúde. Cabo Verde está a tentar explorar este filão? Como?

- Já estamos a explorar a vertente do Turismo de Saúde. Mas são projectos de grande dimensão; exigem por isso grande volume de investimento e precisam ser muito bem trabalhados.

Quando fala em projectos de grande dimensão, está a falar de quanto?

Estamos a falar de projectos que ultrapassam os 80 milhões de euros. O projecto da Praia Grande está orçado entre 80 e 100 milhões de euros. E o de Flamengo é ainda mais volumoso. Mas são projectos que vão ser desenvolvidos por fases. Ou seja, os promotores não vão chegar aqui e, de repente, investir 100 milhões de euros. Vão investir de forma faseada em função da demanda. São projectos que vão oferecer, entre outros, esta componente de Turismo de Saúde. Estão virados essencialmente para este mercado de Turismo da Terceira Idade e reformados, mas também com a componente tradicional, ou seja, turística e de imobiliária turística. É a imobiliária turística que dá sustentabilidade a esses empreendimentos.

A vinda de promotores da Noruega, para investir no sector do turismo em Cabo Verde, é uma novidade?

De facto, é novo o investimento de operadores da Noruega no país, no caso, na Zona Turística Especial de Flamengos, que é enorme. São 1.100 hectares. Estamos a aguardar o promotor. A CI discutiu previamente e já assinámos um memorando de entendimento. O empreendimento deverá ocupar entre 150 e 300 hectares. Acordámos com o promotor que nos apresente um Plano de Ordenamento Turístico (POT) e nos faça uma proposta de implementação deste projecto. Estamos a aguardar a todo o momento – em princípio será agora em Maio – que nos apresente esta primeira referência analítica para podermos negociar. Vamos ter de discutir as fases e o projecto em si. O promotor vai apresentar-nos a proposta do POT e o plano de massa de implantação do projecto para começarmos a discutir e a contratualizar com o promotor a concepção dos terrenos, a aprovação dos projectos e os timings. São etapas e processos que vamos ter que negociar e discutir.

E quanto à Praia Grande?

O projecto da Praia Grande, promovido por um grupo belga, está muito mais avançado. Já tivemos uma primeira abordagem com o grupo. Aliás, assinámos um memorando de entendimento, que expirou. Estamos agora a retomar as negociações, conforme parâmetros que já estamos a discutir. Este projecto vai ocupar também em torno de 150 hectares. Vai ficar na Zona Turística Especial da Praia Grande, próximo do Calhau. As discussões estão numa fase um pouco mais avançada porque já temos um historial de negociações com o promotor. Pensamos poder fechar acordo e aprovar os projectos ainda este ano. Se assim for, podem arrancar a partir de 2017. Qualquer um desses dois projectos, pela sua dimensão, começa no entanto a levantar outras questões que vamos ter de resolver.

Redimensionar o aeroporto
Está a referir-se concretamente a que questões?

Estão a levantar questões em relação a algumas infraestruturas que existem em São Vicente, entre os quais o Aeroporto Internacional Cesária Évora. Vamos ter que redimensionar o aeroporto. Como está, pode não responder à demanda de tráfego e ao fluxo de aviões. Estamos a tomar nota e já apresentámos o Plano Director do Aeroporto (PD-AICE), elaborado pela ASA. Este mostra que o aeroporto está ainda sub-aproveitado ou sub-explorado. O aeroporto foi construído numa base de 13 voos internacionais por semana e recebe apenas três ou quatro, pelo que ainda há uma boa margem de crescimento. Mas, se estes dois projectos se concretizarem, vai-se levantar a questão da capacidade de resposta do aeroporto. São questões que o Governo e a CI estão a acompanhar e a modular em função das necessidades e das demandas.

Isso em relação a São Vicente. E há projectos para as outras ilhas?

Posso dizer que, neste momento, muita coisa está a acontecer na ilha do Sal. Desde logo temos o Hilton, que arrancou recentemente e está a avançar em velocidade de cruzeiro. Está também a evoluir a um ritmo muito satisfatório o investimento no terceiro hotel do The Resort Group, o Lhana Beach, que é proprietária do Meliá e Dunas Meliá deverá arrancar em breve o empreendimento Decameron em Ponta Sinó, também na ilha do Sal. O investidor já montou o canteiro e cercou o espaço da obra. São dez hectares de terreno onde se vai erguer um resort.

Este projecto vai ser também muito importante. É promovido por um grupo que já está na ilha da Boa Vista, na Praia de Chaves. Vão construir um empreendimento com 600 quartos, que terá um impacto grande no turismo. Mas a CI está a trabalhar na realização de mais dois investimentos, que muito provavelmente poderão estar negociados ainda este ano. Mas não vou adiantar nada ainda, porque estamos em negociação. São os dois também para a ilha do Sal, que tem neste momento em curso três projectos e está com perspectiva de ter mais dois. Acreditamos que poderá arrancar ainda este ano. Se isso acontecer, dentro de dois a três anos poderemos aumentar substancialmente a oferta de camas – no país e em particular na ilha do Sal.

Fluxo turístico
São muitos investimentos, numa altura em que o Instituto Nacional de Estatística fala na redução do fluxo turístico. Concorda?

De facto, reduziu-se um pouco em 2014 e este ano também a procura é menor. Mas é nossa opinião que a redução do fluxo deve-se à melhoria verificada em outros mercados. Cabo Verde beneficiou-se com o recrudescer da situação no norte da África, sobretudo no Egipto e na Tunísia, que são mercados tradicionais. Mas é preciso que fique claro que nem tudo está centrado à volta de Cabo Verde. Não estamos no mundo de Robinson Crusoé. Temos vários competidores muito fortes. Os destinos no norte da África são concorrentes para o segmento de turismo que oferecemos. E muitas vezes com preços competitivos. Tudo isso para dizer que, de facto, houve uma redução do fluxo de turistas. Mas também para realçar que chegámos a um ponto que se não aumentarmos o número de camas e quartos vamos ter sérios problemas. É crucial aumentar rapidamente o número de camas e de quartos que o país pode oferecer. 


Porquê? 


Porque estamos a ter demanda, e temos de responder. Cabo Verde não pode ficar encalhado com os doze mil quartos que possui agora. Temos de aumentar rapidamente – e, felizmente, as perspectivas são boas.

O José Duarte é um optimista?

Sou muito optimista. Passámos por uma fase de crise, é certo, e os impactos foram grandes. Esses impactos tiveram algum atraso no seu pico, mas quando atacou foi muito forte. 2010 a 2012 foram anos complicados. Em 2013 ainda se sentiu algum efeito, mas a partir dali, sobretudo em 2014, começámos uma ténue retoma. Agora estamos a ter uma boa procura. Todos estes projectos são uma boa indicação disso. Isso sem falar da Boa Vista. A ilha das dunas, que está sob alçada da Sociedade de Desenvolvimento, está também com boas perspectivas. Por exemplo, o The Resort Group, que já tem três hotéis no Sal, está a preparar para arrancar com o White Sands, na Boa Vista. Temos ainda o Hilton Praia, que está em perspectiva de iniciar.

Em Outubro, a Assembleia Municipal da Praia deliberou sobre uma proposta de alienação de um tracto de terreno ao The Resort Group para construir o Hotel Hilton. É nesta base que fala no arranque do Hilton?

Não!, porque o terreno onde vai ser erguido este hotel não tem nada a ver com a Câmara da Praia. Vai ser construído num terreno do Governo, sendo que parte já está resolvido. Foi uma cedência da embaixada de Cuba. A outra parte está ocupada pela Escola de Negócios e Governação (ENG). Mas a CI já encetou negociações com a ENG e com os promotores do empreendimento no sentido de deslocalizar a escola para outro (espaço) – a Câmara tem um papel importante na definição desta nova localidade.

Acredita que o Hilton Praia poderá arrancar ainda este ano?

Vai depender da disponibilidade do promotor, o The Resort Group, que já iniciou o Lhana no Sal e pretende avançar no imediato, agora em Maio, com o White Sands (Boa Vista). O arranque do Hilton depende totalmente do promotor e da sua projecção para realizar os seus investimentos. Mas as perspectivas são hoje muito melhores do que ontem, com a crise. A economia cabo-verdiana começa a sentir os efeitos da retoma.

Mas a impressão que se tem é que agora as autoridades estão mais cautelosas. É com muito esforço que falam dos projectos e em novos investimentos, contrastando com a euforia de há alguns anos. Porquê?

Penso que aprendemos a caldear as euforias, os entusiasmos e as expectativas. Temos de dosear isso tudo e não passar o tempo a gerir expectativas. Vamos entrar em período pré-eleitoral e redobram-se as ansiedades. É complicado. Eu também, como cidadão, tenho as minhas expectativas. Mas temos de saber geri-las para evitar frustrações.

Entretanto, apesar dos cuidados, vão ser apresentados vários projectos no Mindelo Meeting Point (que se realiza este fim de semana em S. Vicente).

É uma boa iniciativa do Governo, particularmente da ministra do Turismo, e muito oportuna. Penso que o Mindelo Meeting Point pode vir a ser institucionalizado numa base anual ou bi-anual, como um fórum de discussão de investimentos para o norte do país. Nesta primeira edição vão ser apresentados e discutidos vários projectos de promotores nacionais. Como sabe, temos neste momento as duas mãos cheias de projectos e ideias sobre a mesa. Alguns têm pernas para andar e estão suficientemente montados para atraírem a atenção de investidores.

Mas será que não é altura de diversificarmos os investimentos para não ficar apenas no sector do turismo?

Penso que a procura por projectos de turismo é porque, realmente, é o principal sector da economia do país. O turismo é a nossa locomotiva. Temos uma economia de serviços capitaneada pelo turismo. Precisamos diversificar, mas sobretudo redimensionar alguns projectos que estão a circular em algumas mesas. Muitos são irrealizáveis: foram concebidos na época do boom da imobiliária turística, mas continuaram com esta perspectiva. Hoje os projectos que se concretizam são menores – é uma das lições que devemos tirar nesta fase pós-crise. Costumo dizer, sob pena de me tornar fastidioso e até repetitivo, que os projectos que estão a acontecer na ilha do Sal são desenhados para no máximo dez hectares de terreno. Na Boa Vista, talvez sejam um pouco maiores, mas nada exagerado.

Para São Vicente foram elaborados vários projectos grandiosos, que nunca se concretizaram. Continuam de pé?

- O empreendimento Cesária Resort caiu. É definitivo e não se fala mais no assunto. O Fortim está parado por outras razões, que não interessa aqui referir. Este é um projecto que se passou pela CI foi muito ao de leve, pelo que não temos condições de falar sobre ele. Mas há outros. Acredito que o Mindelo Meeting Point vai tentar puxar alguns promotores para a realidade. Vai apresentar oito a dez pequenos projectos. Estou convencido que um dos impactos deste evento é mostrar aos promotores essa necessidade de redimensionar e reconceptualizar esses projectos.

A CI não tem como fixar prazos para concretizar os projectos?

O Governo acaba de aprovar a criação de uma comissão que tem a responsabilidade de avaliar a eficácia da política de disponibilização de terrenos nas Zonas Turísticas Especiais, coordenada pela CI. Esta comissão integra a Direcção-Geral do Património do Estado e os ministérios das Finanças; do Turismo, Investimento e Desenvolvimento Empresarial; e do Ambiente, Habitação e Ordenamento do Território. Tem um mandato para fazer o levantamento exaustivo de todas as ZDTI. Vai começar na ilha do Sal, onde existem se calhar os maiores problemas em sede das ZDTI. Estou convencido que o Estado vai finalmente normalizar algumas situações esquisitas. Mesmo na Boa Vista e no Maio há muitas situações que se foram arrastando, um pouco por culpa do próprio Estado e da Administração.

Diz isso porquê?

Entendo que não houve fiscalização e monitoramento mais conseguidos. E as situações foram recrudescendo.

Recentemente noticiámos um caso inédito no Porto Novo, construído sem licença, dentro da orla marítima, e que nunca foi fiscalizado…

É um caso clamoroso de falta de fiscalização. Eu até admito que tenha faltado informação ao promotor, financiador ou construtor. É uma desculpa que posso aceitar. Agora, o que não posso admitir é a apatia dos poderes públicos. As autoridades viram este empreendimento a ser erguido e ninguém vai lá, ninguém fiscaliza, ninguém controla? Para mim, o mais grave nesta situação de Porto Novo é a clamorosa e completa falta de fiscalização. Não sei o que se vai fazer neste caso em concreto, mas esta situação é um exemplo paradigmático daquilo que estava a dizer em relação às ZDTI. E o Estado é o principal responsável porque não faz o controlo, não fiscaliza e não acompanha. Finalmente conseguiu-se compreender a necessidade e oportunidade de criar uma comissão para fazer esse trabalho.

Constânça de Pina - A Semana

3 comentários:

  1. "A promessa é uma armadilha onde so entram os idiotas"
    (Baltazar Gracian in Oràculo manual - 1647)

    Ema Rodrigues

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  2. De boas intenções está o Inferno cheio. Quem é que acredita mais nesta gente após 40 anos de mentiras e falhanço

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  3. O amigo José Lopes tem razão. Tantas promessas não cumpridas que já ninguém acredita nas boas intenções do Governo relativamente a S. Vicente. Esta ilha ficou de quarentena, como se tivesse doença contagiosa ruim. Quarentena e jejum prolongados, o que tem acarretado desnutrição grave e apatia do povo, resultado natural da fome, que não dá para este se revoltar
    e aplicar umas boas taponas aos governantes.

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