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terça-feira, 23 de junho de 2015

[8245] - FANTASIA OU ILUSÃO?! ...

Alcindo Amado
Cabo Verde, País de Desenvolvimento Médio! Fantasia ou Pura Ilusão?

Os desafios e as oportunidades que os objectivos de desenvolvimento sustentável colocam aos pequenos Estados Insulares em desenvolvimento e de rendimento médio constituiu o tema em debate, no programa Espaço Público da Rádio Nacional, do passado dia 13 de Junho de 2015.

Cabo Verde, País de Desenvolvimento Médio! Fantasia ou Pura Ilusão?
Naturalmente, e como tem vindo a ser hábito, não podia deixar de opinar sobre tão delicada e pertinente questão.

Todavia, e como era de esperar, a minha intervenção não caiu no agrado de um dos convidados que, enquanto defendia o seu “tacho” tentando fazer “frete”, saiu furioso em defesa do sistema, alegando que as minhas afirmações eram insultuosas.

Não agradou a esse sujeito eu ter afirmado, a dado passo que, em Cabo Verde, o estatuto de País de Rendimento Médio só pode justificar-se com a qualidade de vida (modus vivendi) dos políticos e de alguns “espertinhos” que gravitam à volta do Poder Central e Local. Esses realmente vivem num virtual país de desenvolvimento médio.

Para o Povo em geral, esse “status” não passa de uma fantasia, para não dizer uma pura ilusão. Esse tão falado desenvolvimento médio é coisa para se ver ao microscópio.

Poderíamos, efectivamente, estar neste patamar se, durante os quarenta anos de independência tivéssemos gerido de modo diferente os recursos a que tivemos acesso. Gastou-se muito dinheiro sem critério e sem nenhum retorno. Não se investiu em sectores chave que proporcionassem um real desenvolvimento económico, e daí o escandaloso desequilíbrio social e as assimetrias regionais. Comparemos a qualidade de vida de um cidadão que vive no interior do vale de São Miguel-Santiago, e outro que vive na cidade do Mindelo-São Vicente. São dois mundos diferentes.

Infelizmente, salvo raras excepções, Cabo Verde nunca teve governantes que se preocupassem com o futuro deste País. Preocuparam-se sim com o seu bem-estar. A miséria que, dia a dia, galga os vales e cutelos destas Ilhas confirma e retrata a minha decepção.

Os recursos financeiros (empréstimos e donativos de países amigos) esbanjados durante esses quarenta anos, poderiam ter catapultado Cabo Verde para o nível de desenvolvimento médio, caso fossem investidos em sectores dinamizadores de um verdadeiro crescimento económico, geradores de empregos perspetivados para produção de bens e serviços de qualidade, de forma a erigir uma verdadeira economia de mercado, que consiste em produzir e vender. Para que o lavrador seja motivado a aumentar a sua produção, tem que ter o mercado garantido. Para isso o circuito económico tem de funcionar naturalmente.

Não tiveram capacidade de preservar e atrair novas indústrias ligeiras de produtos semi-manufacturados, para absorção de mão-de-obra não qualificada, que abunda em Cabo Verde. Temos exemplos de vários países que emergiram graças à oferta massiva de mão-de-obra com e sem qualificação. Vejam, por exemplo, o caso do Vietnam, Coreia do sul, China, Filipinas, India, México, Tailândia, Indonésia, etc.

Por outro lado, os governantes de Cabo Verde nunca deram a devida atenção ao Mar que nos rodeia e que constitui a nossa única riqueza natural. Somos um pequeno país arquipelágico em termos territoriais. Contudo, a nossa zona económica exclusiva estende-se por uma área de 750.000 Km2. Temos peixe e não sabemos nem temos com que pescar. Neste momento, devíamos e podíamos ter criado em Cabo Verde um Instituto Politécnico vocacionado para o mar. Formação de pilotos e marinheiros de longo curso, pescadores e mergulhadores profissionais para responder à demanda da frota de marinha mercante que cruza as nossas águas. O Caboverdiano sempre adorou a vida do mar. Poderia ser uma grande saída para combater o desemprego nesta Ilhas, como foi noutros tempos, quando a emigração era menos exigente.

Poderíamos ter seguido o exemplo das Filipinas. Hoje em dia é bastante raro encontrarmos um barco de marinha mercante que não seja tripulado por Filipinos. Resultado do investimento feito no sector, e fruto de uma visão inteligente e inovadora, que injecta, anualmente, centenas de milhares de dólares na economia filipina.

Conhecendo a situação geoeconómica de Cabo Verde não dá para acreditar que continuamos a importar sal refinado e iodado da Europa! Uma autêntica aberração.

Com tanto mar à nossa volta e tanta gente sem emprego, importamos pescado para abastecer uma pequena unidade de processamento de pescado, a Frescomar, quando devíamos ter, em cada Ilha, uma unidade igual. Para que os leitores tenham uma ideia do impacto que o mar pode ter na nossa economia, a Frescomar, que não é um investimento de grande dimensão, emprega mais ou menos 800 pessoas, em São Vicente. Imaginem se pudéssemos implementar essa indústria em todas as Ilhas!

A indústria de processamento de pescado dá origem a uma série de subprodutos utilizados no fabrico de rações, fertilizantes, etc. Gera empregos e promove a exportação de um produto muito procurado no mercado internacional. É assim que se cria a economia e se promove o desenvolvimento dos pequenos Estados Insulares, como o nosso. Não se vai desenvolver Cabo Verde com fóruns, seminários, mesas-redondas, festivais, mas sim com trabalho abnegado para produzir resultados.

A construção e reparação naval é outra actividade que sempre esteve presente no DNA do Caboverdiano. Poderíamos ter explorado este sector, e de certeza que teríamos tido sucesso. Por favor, não consideram o caso “Cabnave” porque sempre esteve entregue à bicharada. Aliás, nunca teve uma gestão empresarial. Serve de poleiro para os “gestores”militantes dos Partidos Políticos no poder. Por isso nunca deu resultado.

Vejamos, por exemplo, o nosso lendário “Wilson” pequeno estaleiro construído pelos Ingleses em DjidSal - Mindelo, para reparação das lanchas utilizadas no transporte de carvão na Baía do Porto Grande. Essa infraestrutura sobreviveu à data da nossa independência. Com financiamento do Governo Holandês, foi modernizado e baptizado com o nome de ONAVE, passando a fabricar uma vasta gama de barcos de pesca e de recreio, que deu emprego a muita gente em São Vicente. O seu misterioso desaparecimento está envolto num grande escândalo, devido à negligência e falta de visão de certos irresponsáveis que abundam neste País, a gerir sectores importantes da nossa economia.

Um grande exemplo a seguir é o dos países nórdicos. Grandes produtores de petróleo mas sempre vocacionados para o mar. Detêm as maiores frotas de pesca do mundo, e estão entre os melhores construtores navais da actualidade. Não é por acaso que são os países mais bem governados e economicamente mais estáveis a nível mundial.

Precisamos mudar de mentalidade, e incutir uma cultura de produção para cativar investidores interessados. Precisamos reformar a nossa política económica que sempre consistiu em criar empresas públicas para alojar os “ilustres militantes” dos partidos políticos, ou seja, sem outros critérios a não ser a militância partidária.

Os sucessivos governos de Cabo Verde sempre tiveram dificuldades em introduzir políticas económicas geradoras de emprego para a população. Todavia, sempre tiveram uma grande habilidade em criar “tachos” para o clã que gravita à volta do Poder, constituído maioritariamente por parasitas e oportunistas, salvo raras excepções. Isto demonstra a necessidade de repensarmos, urgentemente, a forma de governar este nosso Cabo Verde, caso contrário jamais seremos, de facto, Um País de Desenvolvimento Médio.

O habitual abraço de fraternidade a todos.

Mindelo, 13 de Junho de 2015

5 comentários:

  1. Outra vez o Amado a quem "tiro o mau chapéu alto e baixo". Para quê acrescentar mais neste artigo bem detalhado onde não existe um "porém". Pessoalmente, venho criticando a negligência do Governo relativamente ao mar desde que descobri que vendíamos latas de 5 kgs de atum aos italianos que o revendiam em volumes de 100 ou 200 gramas, ganhando uns 800 a 900 senão 1000%. Porquê? Porque isso beneficia os negociadores de acordos que prejudicam o povo e beneficiam os negociadores. Porquê um mini-Ministério do Mar e um espalhafatoso Ministério da Cultura que não passa de um grupo de organizadores de festas e festivais cujos benefícios materiais vão, essencialmente para dois canalhas refinados que se organizam para brevemente terem o monopólio do sector. - Prometo voltar.

    Eduardo Oliveira


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    1. Ops: -
      Na 1a linha dece-se lêr "tiro o MEU chapéu alto e baixo".
      Importante
      Minhas desculpas.

      Eduardo Oliveira

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  2. Subscrevo o comentário do Valdemar. O artigo é muito positivo e é recheado de boas e pertinentes sugestões.

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  3. No semanàrio ASemana este artigo mereceu vàrios encômios e houve até debate pois os que discordam com a verdade são muitos ainda, não por convicção mas estupidamente por aberração politico/partidària. E o pior é o grande nùmero de gente que devia defender a sua parcela com unhas e dentes mas, em vez disso, se prostitue por coisa de nada ou por adolatria inconcebivel a um deus que nunca fez milagres em parte nenhuma e nunca terà a metade de simpatia na terra de onde quer ser comandante.
    O caboverdeano, povo que a miséria ensinou a ser criativo e "desenrascado", perdeu o sentido de orientação e jà não sabe que sempre viveu e vive no norte que é a salvação. O povo navega num mar de sargasso sem o seu "Capitão" mas no rabo de um pseudo-mestre que nunca dirigiu senão a sua tabanca a modos de um régulo
    Estamos perdidos e não vemos nada no horizonte. E, em fez de fazer trabalhar a memôria, optamos por seguir as àguas de um capitão Tiginha que, embora perdido no mar largo, continuava procurando um porto sem salvação.

    Ema Rodrigues
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  4. Concordo com o teor do artigo e os comentários

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