José Fortes Lopes |
TRANSPARÊNCIA SOBRE FACTOS DA INDEPENDÊNCIA DE CABO VERDE E DA 1ª REPÚBLICA 2ª PARTE
B-NEGOCIAÇÕES E PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA: A QUESTÃO DO PROCESSO DE TRANSIÇÃO
Nesta segunda parte elenco um conjunto de questões que se prendem com as Negociações entre Portugal e o PAIGC, o Processo de Transição em Cabo Verde, os Erros e Omissões. Obviamente, não é meu objectivo esgotar a problemática e as questões que outros cidadãos poderão colocar aos protagonistas do processo ainda vivos, mas tão só levantar um conjunto de questões que o comum do cidadão poderá colocar ou mesmo responder, nem que seja parcialmente.
O mínimo que se exige numa análise histórica é a Transparência e a Objectividade.
1- POR QUE RAZÃO OUTRAS FORÇAS POLÍTICAS (NOMEADAMENTE INTELECTUAIS CABO-VERDIANOS DE RENOME) NÃO FORAM CONVIDADOS PARA A MESA DAS NEGOCIAÇÕES DA INDEPENDÊNCIA.
2- QUAIS FORAM OS PRINCIPAIS PONTOS DISCUTIDOS E OS PONTOS DE DISCORDÂNCIA/DESACORDO ENTRE O PAIGC E AS AUTORIDADES PORTUGUESAS.
3- QUAIS FORAM AS POSIÇÕES NA MESA DAS NEGOCIAÇÕES RELATIVAMENTE À QUESTÃO DA DEMOCRACIA PLURI-PARTIDÁRIA.
4- PORQUE É QUE NÃO SE REALIZOU UM REFERENDO PARA QUE TODO OS CABO-VERDIANOS SE EXPRIMISSEM LIVREMENTE SOBRE UM ASSUNTO TÃO IMPORTANTE PARA O SEU FUTURO: A RUPTURA COM A POTENCIAL COLONIAL E A CRIAÇÃO DE UM NOVO ESTADO. MESMO QUE FOSSE UM DIREITO DE CABO VERDE À INDEPENDÊNCIA ESTE ACTO SOLENE DEVERIA SER SELADO POR UMA CONSULTA POPULAR E UM VEREDICTO ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA.
5- PORQUE É QUE HOUVE TANTA PRESSA EM DECLARAR A INDEPENDÊNCIA EM 5 DE JULHO DE 1975, QUANDO NESSA ALTURA NÃO HAVIA CONDIÇÕES POLÍTICAS, SOCIAIS E ECONÓMICAS PARA TAL DESIDERATO: 1 ANO DE UM GOVERNO DE TRANSIÇÃO ERA INSUFICIENTE PARA UM PAÍS COM CARÊNCIAS COMO CABO-VERDE
6- PORQUE É QUE AS NEGOCIAÇÕES PARA A INDEPENDÊNCIA NÃO GARANTIRAM UM PERÍODO MÍNIMO DE TRANSIÇÃO, DE PELO MENOS 5/10 ANOS DE MODO A:
-TODOS OS CABO-VERDIANOS, INDEPENDENTE DA SUA ORIGEM, CONVICÇÃO OU IDEOLOGIA E RESIDÊNCIA (DIÁSPORA) PUDESSEM PARTICIPAR PARA CONSTRUIR UMA SOCIEDADE DEMOCRÁTICA E PLURAL
-A ESTABILIZAR POLITICAMENTE CABO-VERDE, CONSTRUIR INFRA-ESTRUTURAS A CARGO DE PORTUGAL OU DA ONU.
- CRIAR ALICERCES PARA O FUTURO ESTADO, EVITANDO RUPTURAS NA ESTRUTURA FUNCIONAL E MANTENDO OS EQUILÍBROS SOCIOECONÓMICOS DO ARQUIPÉLAGO.
7- PORQUE É QUE NÃO SE RESPEITARAM OS HIPOTÉTICOS COMPROMISSOS DE INSTALAÇÃO DE UM REGIME PLURALISTA GARANTINDO UM LUGAR À OPOSIÇÃO (COMPETIA À POTENCIA COLONIAL VERIFICAR QUE NAS VÉSPERAS DA INDEPENDÊNCIA OS ACORDOS RESPEITANTES A ESTE PONTO SERIAM RESPEITADOS PELO PAIGC).
8- PORQUE É QUE NÃO SE OPTOU POR UM GOVERNO DE UNIDADE NACIONAL COM TODOS OS PROTAGONISTAS, INCLUINDO ELEMENTOS VALIOSOS NA DIÁSPORA QUE DESEMPENHARAM FUNÇÕES TANTO NAS EX-COLÓNIAS COMO NA EMIGRAÇÃO.
9- QUEM ORDENOU EM DEZEMBRO DE 1974 O ASSALTO À RÁDIO BARLAVENTO, UMA RÁDIO PRIVADA: PORQUE É QUE AS AUTORIDADES DE ENTÃO NÃO ASSUMIRAM O SEU CONTROLO GARANTINDO A PLURALIDADE E A LIVRE EXPRESSÃO DE OPINIÕES. RECORDE-SE QUE DE UMA ASSENTADA FORAM SILENCIADAS AS DUAS RÁDIOS DE MAIOR IMPORTÂNCIA PARA A PLURALIDADE NO ARQUIPÉLAGO.
10- QUEM ORDENOU A PRISÃO DOS OPOSITORES DA UDC E QUAL O PAPEL DA FORÇAS ARMADAS.
Já agora, seja-me permitido acrescentar algumas interrogações ao extenso inquérito do amigo José:
ResponderEliminar- Quem ordenou a minha detenção, em Junho de 1977 e porquê?
- Quem ordenou os interrogatórios a que fui submetido, alta madrugada, sob ameaça de arma de fogo e a aplicação de choques eléctricos, para me obrigar a confessar o inconfessável?
- Que Tribunal sentenciou a minha expulsão de Cabo Verde como "persona non grata", no prazo de 48 horas?
Não creio que alguma vez haja coragem moral para responder a estas questões, o que é pena mas, felizmente, nada do que me aconteceu nessa semana fatídica belisca o carinho que nutro pelas gentes e pela terra, onde vivi dos melhores anos da minha vida!
Mantenha,
Zito
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Uma reacção do Zito Azevedo do blogue ArrozCatum em forma de comentário ao meu artigo TRANSPARÊNCIA E O BJECTIVIDADE - 02 ...
ResponderEliminarRecorde-se que o Zito é uma vítima viva dos atropelos do período 1974- e foi apanhado na onda de repressão que se abateu sobre S. Vicente em 1977 com a prisão de figuras marcantes da sociedade mindelense, a alegada Intentona contra o poder do Paigc, uma farsa política inventada de todas a peças para justificar a instauração do regime de Partido Único. Tinha acabado a revolução estudantil do 25 de Abril e a abertura democrática chegava ao seu fim. Foi neste ano de 1977 que o Paigc mostrava as suas garras tendo endurecido politicamente e desenvolvido todo o seu aparato policial e de repressão. A chapa de chumbo abateu-se definitivamente sobre a nossa ilha de S Vicente e iniciou-se o silenciamento do todos os que com o 25 de Abril acreditavam que já se respiraria definitivamente em CV liberdade e a democracia. Acontecia neste ano a debandada dos que ainda resistiam e a lenta queda até ao fundo do poço em que nos encontramos em SV. A ilha com um peso económico, socio-político cultural, o fiel da balança de Cabo Verde, que projectou Cabo Verde ao mundo graças ao concurso dos melhores cabo-verdianos e de muitos que não nasceram aí mas que beberam da sua água apagava-se……, mas há ainda uma luz da vela ao fundo do Tunel.
Fiquei arrepiado ao ler as revelações do Zito. Eu apenas pensava que ele tinha sido simplesmente expulso, não que tivesse sido torturado e submetido a feroz interrogatório para confessar pecados que não tinha cometido.
ResponderEliminarO José complementa o seu inquérito com um comentário muito apropriado.
De resto, a resposta a todos esses quesitos formulados se resume numa única: a existência de um regime ditatorial e opressor. Tudo é possível quando se apropria do poder à margem das regras democráticas e se proclama o direito de agir arbitrariamente em nome do povo.
Ainda hoje pergunto como foi possível que a alma pacífica, tolerante e convivente do povo cabo-verdiano tivesse gerado gente capaz de oprimir e torturar o seu semelhante.
Quanto à luz ao fundo do túnel, oxalá não a deixemos bruxulear mais. É preciso alimentar-lhe o combustível. Para isso, o partido da independência, hoje um partido submetido à democracia, tem de se relançar numa escala mais ampla e em plena concordância com o figurino de um verdadeiro partido da esquerda democrática. Tem de se pedir perdão a todos os que foram vítimas dos atropelos do passado. Tem de se virar de vez a página. Tenho esperança na actual líder do partido. Outra geração, outro arejamento mental, outros horizontes ideológicos.