José F. Lopes |
5-Quando o regime do Estado Novo congelou o desenvolvimento político no arquipélago de Cabo Verde: Como o Passado Reflecte e Influencia o Presente e o Futuro:
In Cabo Verde 40 anos após a Independência: Reflexões e Balanço Final
Se retornarmo-nos ao início dos anos 60 ou mesmo à tomada do poder por Salazar e à fundação do Estado Novo em Portugal, chegaremos talvez à raiz de uma das principais causas dos problemas do Portugal contemporâneo (Metrópole as suas colónias), e perceberemos a razão do atribulado processo de independência das suas colónias africanas. Mas é um facto que o vasto império ultramarino colonial Português foi definhando ao longo dos séculos, talvez por má gestão e péssima diplomacia, numa altura em que potências coloniais como a Inglaterra ou Holanda atingiam o seu auge. A gestão por Portugal do período de 1960-1974 foi desastrosa e em geral atribuída à estreita e retrógrada visão do ditador Salazar, que manifestou uma total incompreensão do mundo saído da 2ª Guerra. Portugal vivia situações de miséria e opressão extrema em tudo semelhante e similar ao que se passava nas colónias. Usando um comentário do amigo Adriano Miranda Lima (1,2,3), o povo português era refém de grilhetas mentais de uma leitura do mundo de que não se conseguia libertar, quando o pós- 2ª Guerra Mundial já tinha pulverizado a ordem que regia o velho mundo. Por outro lado, Salazar sempre pensou que a obstinação e o confronto eram o melhor método para lidar com o país, o seu povo e o mundo (Eu conheço bem o povinho que governo, dizia ele). Só que não entendeu que a sua política teria reflexos graves não apenas no Portugal continental como nos territórios africanos e até no mundo. A responsabilidade primária pelo descalabro da descolonização incumbe, pois, em primeiro lugar ao regime Salazar/Caetano, que não soube ler correctamente os sinais dos tempos (ou seja, questão da descolonização na agenda da Nações Unidas graças à insistência dos EUA, uma nação ela própria nação nascida de um processo de descolonização), e por fim ao MFA, que que não conseguiu gerir adequadamente e com sentido de responsabilidade um processo transição por não resistir às pressões de vários quadrantes para liquidar à pressa um império (o chamado cut and run). Cabo Verde é assim apanhado no meio de um processo colonial para o qual não estava preparado. Segundo Miranda Lima, se a potência administrante fosse outra, provavelmente a história teria sido diferente do princípio (anos 50) ao fim (anos 70). Outros galos cantariam e jamais teria acontecido o que aconteceu. A descolonização teria disso conduzida com um plano bem gizado e que seria cumprido até ao fim. Mas a Inglaterra ou a França são o que são e Portugal é o que é.
Luiz Silva (1,2,3) vem corroborar Miranda Lima, indo até mais longe. Fomos vítimas da cegueira colonial, duma repressão política e cultural levada às últimas consequências; enquanto as colónias francesas e inglesas se desenvolviam ao nível político e cultural para nós isso era um grande tabu pensar pela própria cabeça, como dizia o Amílcar. O Gana teve um primeiro-ministro negro em 1957 e foi à Independência em 1960, enquanto que a França abria universidades nas suas colónias, jornais e rádios e mesmo televisão para levar o conhecimento, iniciou vários políticos africanos como deputados na Assembleia nacional como Sekou Touré, ou alguns foram ministros da França como Senghor, Houphouet Boigny e outros. Além disso, o papel importante da Présence Africaine no centro de Paris propiciou uma luta política importante que terminou na independência dos respectivos países com muita fraternidade. Nhô Balta dizia que era a PIDE que andava a criar políticos prendendo pessoas por prender só para justificar a sua presença em São Vicente. E foram esses políticos feitos pela PIDE, que num oportunismo rasteiro, agora revindicam o direito de combatente da Pátria. Não incluo neste grupo os emigrantes da França e Holanda que foram para a luta para a libertação de Cabo Verde. Estes sim: renunciaram aos salários, a uma vida tranquila, e foram dar o melhor deles por Cabo Verde.
Sabemos que o Estado Novo matou qualquer veleidade de organização política tanto na metrópole como no arquipélago, embora tenha ocorrido uma curta abertura com a morte de Salazar, aquilo que se designou por “primavera marcelista”, que permitiu algum estremecer político na metrópole. Apesar dos insistentes pedidos para uma certa autonomia alargada e mesmo um estatuto de adjacência para o arquipélago de Cabo Verde, equiparado ao estatuto da Madeira e dos Açores, estes pedidos foram rejeitados ou protelados sine-die. A ter sido acontecido no tempo do Dr. Adriano Duarte Silva, o rumo do arquipélago e da sua economia poderiam ter mudado radicalmente, na medida em que a administração do arquipélago já era essencialmente garantida por quadros cabo-verdianos, que inclusivamente eram activos importantes nas restantes colónias. Em Abril 1974, Cabo Verde era um deserto político (de resto a palavra política era proibida), a sua população era praticamente inculta do ponto de vista político, o que era um terreno fértil para as demagogias. Figuras de grande prestígio no arquipélago e na diáspora, tais como os Claridosos Baltazar Lopes, Teixeira de Sousa etc., que poderiam ter tido um papel político activo antes e depois da Independência, seriam varridos pela revolução do 25 de Abril. Estes homens manifestaram uma completa inadaptação, inexperiência e mesmo incultura política, ao não saberem dirimir a situação. Já estavam velhos, cansados e ultrapassados politicamente. Mas não deixa de ser um facto inquestionável que a partilha do poder com os que ficaram no arquipélago (a Tapadinha) e mesmo com os que estavam na Diáspora e que não liam o mundo pela mesma cartilha, não estava no horizonte dos autoproclamados Melhores Filhos, o que se revelou ser um erro fatal (continua).
1- http://arrozcatum.blogspot.pt/2015/01/7733-o-lugar-da-historia_29.html
2- http://arrozcatum.blogspot.pt/2015/02/7754-o-lugar-da-historia-2.html
3- http://arrozcatum.blogspot.pt/2015/02/7811-o-lugar-da-historia-3.html
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