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quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

[8472] - A VIRTUDE DO EQUILIBRIO...

Nelson Faria
DESCENTRALIZAÇÃO / REGIONALIZAÇÃO = CENTRALIZAÇÃO

Há dias ouvi uma intervenção que dizia o que penso sobre a cidadania em Cabo Verde, no que as opções/possibilidades de vida de cada um diz respeito quanto a localização geográfica no arquipélago: Existem os cidadão da Praia e os restantes dos outros concelhos (mesmo na ilha de Santiago).
Cidadão da Praia = os que nasceram, vivem e se disponibilizam, a tempo inteiro, a viver na capital. Legítimo, correto e escolha, se de vontade própria, deve ser respeitada porque é salutar que cada cidadão direcione a sua vida conforme projeto e aspirações pessoais e profissionais. A estes cidadãos as oportunidades são reais, as aspirações profissionais podem ser realizáveis, embora sei que grande parte dos que não são naturais da capital apenas são cidadãos da Praia por “imposição” do modelo de desenvolvimento do país (Praia)? Cidadãos de primeira.
Cidadão das ilhas: o resto... Vida e oportunidades possíveis. Cidadãos de segunda.
Nada tenho contra o tratamento especial da Capital do país por representar o país como um todo, em várias valências, sobretudo no que ao Estado diz respeito, por isso, totalmente favorável a centralização de alguns serviços, algumas instituições e algumas oportunidades para quem considere que pode e deve seguir esta via... aliás acontece em todo o mundo, portanto com total naturalidade a aceitação de algumas opções... o que já não é compreensível é o centralismo autoritário de tudo, perdendo as ilhas as suas oportunidades naturais, as suas competências, a sua autonomia, a sua capacidade criativa e de desenvolvimento, a sua gente, a sua capacidade de criar mercado interno para desenvolvimento de economia local e regional... Mesmo as instituições não podem ser centralizadas da forma como têm sido, salvo raras excepções... isto tudo além de deturpar princípio de tratamento igual aos cidadãos do pais, consagrado na Constituição, tem feito com que a migração interna estrangule as possibilidades de desenvolvimento das demais ilhas... Espero que um dia haja a sensatez de ver o óbvio: esta não é a melhor via para a equidade, justiça social, equilíbrio e organização de um país arquipelágico considerando as potencialidades, particularidades, competências e possibilidades de desenvolvimento das ilhas /regiões.
Aceito contraditório apenas não aceito a retórica de que só assim é possível... Opções e possibilidades são várias desde que a mente esteja aberta e não... centralizada.
O grande Corsino Fortes, cidadão de Cabo Verde e do mundo, já dizia, mais ou menos o seguinte “ca tenta junta is ilha num só, ca straga nhe Cao Verde, Tcha cada um c’se magia e se singularidade... dia c’no tenta juna is ilha nha Cab Verde ta caba...” Ele há de me perdoar se não transcrevi na integra o que el quis dizer, mas não tenho dúvidas que ele, enquanto cidadão especial do país e do mundo, queria o desenvolvimento equilibrado, justo e igual do país e dos seus cidadãos.

1 comentário:

  1. Este discurso converge com o que vimos dizendo há muito tempo. Aos poucos, a evidência vai ficando tão entranhada nos espíritos, que mais opinadores independentes virão à liça, aumentando o coro. Estou convencido de que, mais do que por iniciativa dos partidos, a mudança será imposta pelo insuportável ruído de fundo. É preciso começar a esclarecer de forma enfática que a regionalização não é contra a ilha de Santiago, mas sim contra a capital macrocéfala, hegemónica, estranguladora e estranguladora. É preciso que os santiaguenses do interior da ilha o percebam. Isso será uma condição importante para a consensualização nacional em torno da urgência desta importante reforma.

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