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terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

[8871] - O ESPÍRITO DE CAPATAZ...

O olhar do político e do intelectual caboverdianos está virado para Portugal, para o antigo colono, à espera de ordens, de ideias, de assessorias e de ajuda e cooperação económico-financeiras, para implementar, enquanto capataz...

O olhar do político e do intelectual caboverdianos está virado para Portugal, para o antigo colono, à espera de ordens, de ideias, de assessorias e de ajuda e cooperação económico-financeiras, para implementar, enquanto capataz
No espírito e na letra, afirmo que a elite caboverdiana duma maneira geral não é independente e em particular o seu vector político é dependente mentalmente dos antigos sistemas colonialista e comunista. Dito doutra maneira temos uma elite com postura de capataz.
Uma elite política, social, económica e cultural, sem um pensamento próprio e independente, incapaz de tomar decisões independentes e originais, inepta e impotente na produção de ideias originais e de qualidade.
Em termos médios a elite crioula, sobretudo, nas suas vertentes política e intelectual, é incapaz de produzir ideias e conteúdos de qualidade, porque não há uma estratégia de criação de ideias e conceitos, com os pés fincados na terra-mãe.
O olhar do político e do intelectual caboverdianos está virado para Portugal, para o antigo colono, à espera de ordens, de ideias, de assessorias e de ajuda e cooperação económico-financeiras, para implementar, enquanto capataz.
Não há uma estratégia de influência, não temos influenciadores e se tivéssemos de fazer uma arqueologia das ideias e do saber caboverdianos contemporâneos, estaríamos perante uma secura generalizada cognitivo-intelectual.
Dependência mental e espírito de capataz
Vejamos alguns exemplos práticos nesta relação de Senhor/Capataz entre as elites caboverdianas e o patrão, em Portugal.
O exemplo mais fresco é a visita do actual primeiro-ministro de Portugal, António Costa, durante a qual, andou a prometer mundos e fundos à antiga colónia, (quando não tem meios para ajudar o próprio povo português) com o capataz, na postura de escuta e de chicote em riste, pronto para executar as ordens da Metrópole.
Imediatamente, surge um artigo de opinião nas imprensas portuguesa e crioula, de Ribeiro e Castro, político português de primeiro plano, a chamar a si, tudo o que fez por Cabo Verde, enquanto eurodeputado, para que a elite político-económica crioula, obtivesse uma Parceria Estratégica com a União Europeia e os respectivos envelopes necessários e indispensáveis para o capataz vigiar roças e engenhos do senhor.
Para tal era necessário o enquadramento histórico-intelectual de um historiador, analista e político falhado português, da estirpe de Pacheco Pereira, ou do analista internacional, Nuno Rogeiro, discursando ex-cathedra para alunos bem comportados e em silêncio de universidades financiadas e decalcadas de escolas lusas de produção do conhecimento.
O político ou o intelectual crioulos, sabendo que não há uma distinção clara entre os dois, não tem chip mental próprio. No papel de político ou enquanto intelectual, ou em ambos casos de figura, pensa ou pensam, pela cabeça do político ou do intelectual portugueses.
Aliás, o grave é que esta elite crioula nem pensa, porque vive na dependência total de Portugal, logo, executa, como um bom capataz!
A intelectualidade política, social ou cultural, não tem uma visão, aquilo que os alemães, chamam uma "weltanschauung" para Cabo Verde. Em todas as esferas do conhecimento é uma salina seca e crã, sem sal.
Para aqueles que ainda estão na dúvida, avancemos outro exemplo: o Direito e a Política, porque aqui os dois estão ligados umbilicalmente e não se sabe se o capataz está vestido de jurista ou de homem político.
Concentremo-nos no Código Eleitoral, que tem o artigo 105, com algumas alíneas próprias de regimes fascista e comunista, contra uma imprensa livre e aberta, onde o direito se confunde com a política e é a solução administrativa que se sobrepõe à justiça independente, num estado clássico de democracia liberal onde não há dúvidas nenhumas sobre a separação de poderes.
Aqui também é a escola lusa a dar lições ao capataz, que nem sabe copiar, porque copia um pensamento jurídico-político destinado ao português e não ao intelectual caboverdiano, que reclamou há 40 anos a sua independência política, mas continua atrelado aos antigos mestres.
É mesmo flagrante e anedótico, quando nesta matéria jurídica, os políticos e juristas caboverdianos, esgrimem argumentos, citando os seus professores, Miranda ou Canotilho, como se Cabo Verde fosse uma província ou coutada de Portugal!
Os independentistas falharam redondamente
40 anos de independência para nada, deitados ao mar, como ameaçavam os terroristas nacionalistas vindos da Guiné, em relação aos patriotas que administravam mais ou menos bem estas ilhas, com relevância para S. Vicente e Praia, enquanto eram descuradas as outras ilhas.
Mesmo assim, esses patriotas crioulos tinham as rédeas sobre os destinos da capital e muito mais da ilha de Monte Cara e foram mesmo os professores dos nacionalistas guerrilheiros.
Nacionalistas que em 1974/75, prometeram ao povo um reino de mel de cana-de-açúcar correndo pelas ribeiras e cidades erguidas como cogumelos de terra batida e queimada que teriam arranha céus, hospitais e universidades, produzindo ideias, noções e conceitos saídos das suas cabeças.
40 anos depois, duma maneira geral, não temos capacidades intelectuais com experiência, mas um cocktail explosivo de uma velha elite formada nas escolas fascista portuguesa e comunista soviético-cubana, de um lado, e de outro, os seus rebentos revoltados, que tentam criar um saber virado para uma África negra, que conhecem só dos livros fabricados e costurados por esquerdistas europeus brancos e negro-americanos.
Temos assim um emaranhado de gente bem formada mas com um pensamento ideológico fascista-comunista, impróprio para o século XXI e a era pós-digital, incapaz de entender este novo mundo, porque não sabe mover-se entre mídias e redes sociais, apegados a que estão a códigos escritos numa charábia que não sabem interpretar, porque copiaram sem saber o que copiavam.
Do outro lado, temos os filhos dessa elite, revoltada, com o marasmo dos país, mas escudados em teorias ideológicas africanistas ou esquerdistas duma Europa caviar ou de um Brasil, que copiou as teorias do francês Auguste Compte e companhia, ou dos negro-brasileiros impotentes em encontrar a sua própria via na sociedade brasileira branca ou europeia, como dizem.
Estamos, pois, num beco sem saída, porque os nossos diferentes poderes político, cultural e intelectual, não souberam tornar-se independentes em termos mentais, e devido à nossa pobreza, são obrigados a dizer "sim senhor" a tudo o que vem de fora e que sustenta a terra árida e sedenta de desenvolvimento em geral.
Espíritos livres e independentes para Cabo Verde
Cabo Verde, precisa urgentemente de indivíduos vivos, independentes mental, espiritual e intelectualmente, capazes de criar os seus próprios "think tanks", os seus próprios centros de produção de ideias e conceitos nas áreas da economia, da política estratégica nacional e internacional, sem falar numa economia de divertimento e das artes.
O que temos em Cabo Verde é uma elite global ciclotímica, entre momentos de excitações, porque ouviu o discurso de um ocidental, sem debater com ele, já que dependente da sua carteira, e de depressão, porque já descobriu que Cabo Verde não tem solução sem a ajuda ao desenvolvimento dos Estados Unidos, China ou Europa.
Uma certeza iniludível é que estas cabeças vivas e de espírito independente, não estão em Cabo Verde. Mas tenho sérias reservas que estejam também na Diáspora, dispostas a irem disponibilizar os seus conhecimentos, profissionalismos e experiências, num reino degradado social e economicamente.
Que fazer?, como perguntaria Lenine, mestre de Cabral e dessa velha guarda, que tem medo de perder o poder, porque perdendo-o, não conhece o seu futuro. Está mais do que visto que o PAIGCV quer manter-se, eternamente, no poder.
Na oposição, ainda não vislumbrei de maneira clara e decisiva, se o MpD quer mesmo regressar ao poder, e se voltando pode ter um espírito independente, sem capatazes à espera de ordens de Lisboa, Pequim ou Bruxelas.
Como, então, entregar o poder à jovem elite imberbe, sem experiência e sonhando com ideias retrógradas de Cabral, de africanistas como Nukrumah, Lumumba, Carlos Lopes, ou esquerdas radicais negro-americanas, como Malcom X ou brasileiras do Porto Alegre, Boaventura ou do Bloco de Esquerda e Podemos?
Mas isto já foi ensaiado nos últimos 60 anos e a África que pariu mal está de rastos!
Assim, estamos feitos num S!

Continue, amigo leitor, descobrindo as minhas reflexões e ideias no meu Blog http://montecarainfo.com/

João Matos | | Jornalista | Joao.MATOS@rfi.fr

1 comentário:

  1. Assim, poder-se-á então concluir que a independência da nossa terra foi um equívoco, um acto irreflectido e só possibilitado pela conjuntura internacional da altura? Pois, se não tínhamos cheta para nos governarmos por conta própria...

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