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quarta-feira, 16 de março de 2016

[9014] - A INSTRUÇÃO PUBLICA EM CABO VERDE


Segundo o nosso amigo e pesquisador Artur Mendes, o que se pretende com esta nova abordagem é contribuir, com apontamentos diversos de distintos autores, para uma compilação tão vasta quanto possível da História da Instrução - ou Educação - em Cabo Verde...

«oooOooo»

A INSTRUÇÃO PÚBLICA EM CABO VERDE
Por
ADRIANO DUARTE SILVA
Reitor interino do Liceu Infante D. Henrique

Há 20 anos, numa carta aberta dirigida ao Governador de Cabo Verde, Egas Alves, pseudónimo que encobria um dos mais brilhantes nomes das letras caboverdeanas, referindo-se à instrução pública na colónia, considerava-a como o ramo da administração mais lançado ao descuido, apresentando-nos um quadro sombrio, em que, ao lado de uma outra rara figura de apóstolo, irradiando luz, ressaltava sempre um implacável estreitamento de horizontes, um sufocante predomínio de sotainas negras.
Aparte o exagero das tintas e a injusta apreciação sobre o Seminário – Liceu, que incontestavelmente prestou valiosos serviços à província, não deixava de ter razão o publicista, ao menos no dizer daqueles que à história de Cabo Verde se têm dedicado.
O desenvolvimento da instrução só muito tarde começou a merecer a atenção dos governantes.
Nenhuma notícia temos relativa à instrução pública em Cabo Verde anteriormente ao reinado de D. João III. Só em 1555, isto é, cerca de um século depois do descobrimento, criou esse monarca, por alvará de 12 de Março, as cadeiras de moral e gramática latina.
Foi esse, porém, um gesto isolado, sem repercussão notável.
É verdade que em 12 de Janeiro de 1570, a pedido do bispo Frei Francisco da Cruz, chamado pelo povo o “homem santo”, e que, à sua custa, já fundara uma escola, se mandou erigir um Seminário com a dotação de 200.000 reis anuais da Fazenda Real. Mas, o certo é que em 1596 ainda nada se fizera para dar cumprimento a essa disposição, pois, nesse ano, em carta de 6 de Maio, encomendou El Rei Filipe II aos governadores do reino que tratassem de obter religiosos que quisessem ir fundar um colégio em S. Tiago com 200.000 reis que já estavam dados para o Seminário “ para acudirem aos cristãos, bem como à conversão do gentio que estava para receber os Santos Evangelhos”. E em 25 de Novembro de 1624, mandou El Rei que, sem demora se desse execução ao Colégio, que os religiosos haviam de ter nas ilhas e Cacheu, “para evitar danos ao serviço e ao espiritual das almas”.
Não havia, porém, como se deduz das razões invocadas, o propósito de difundir a instrução, mas tão somente se desejava a propaganda da fé cristã, o que, de resto, estava de perfeito acordo coma ideias da época e coma política seguida nos países sujeitos ao Demónio do Meio Dia.
A mesma orientação continuou ainda por mais um século, depois da restauração, sendo muito escassas, porém, as notícias que sobre instrução colhemos nos historiadores.

In Cabo Verde – Separata do nº. 45 / Março de 1929                               Continua.../... 


5 comentários:

  1. Texto soberbo e de grande interesse histórico. Esta fotografia parece ter sido colhida no edifício da residência do Senador Vera Cruz, que temporariamente cedeu para instalar o liceu.

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  2. 1926/27 estava longe de nascer mas mesmo assim reconheci o Dr. Daniel Tavares(1°), o Reitor, Dr. Adriano Duarte Silva (5°) e o Dr. Joaquim Simoes (7°). Este lançou raizes e com a esposa, D.Olivia, sairam de SonCente quando da aposentadoria.
    Se me permitem - peço desculpas - vou contar mais uma que prova que "munde ê piqnim".
    Estando por 4 dias no Porto, encontrei-me com o Rui Maia (ex-condiscipulo) e fomos até Coimbra onde o Rui tinha encontro marcado. Fomos a um Café onde estavam o ex-jogador da AAC, Prof. de Medecina, Torres (angolano, internacional), um dos (2) irmãos Campos e outros. Ao meu lado sentou-se um moço que me perguntou se conheci o Prof. Simões. Claro; tinha sido meu profechor de degenho. E o jovem desapareceu logo. Momentos depois veio com uma quantidade de fotografias contendo toda gente graùda do Mindelo. Sobrinho do professor herdou tudo do casal que não deioxou descendentes.
    Hoje digo: - Ah se pudesse copiar!!!
    De seguida fomos a um lauto almoço no Restaurante do macaista (também internacional) Rocha.
    Bela jornada !!!

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    1. Todo ufano de ter reconhecido alguns, não reparei em alguém que acompanhou muitas gerações: o sr. Joaquim Monteiro (de pé, vestido de preto à esquerda da foto), Secretàrio do Gil Eanes que, pelos vistos, começou no liceu anterior.

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  3. Reconheço a minha mãe, Celina (14 anos) no grupo de alunas de pé, logo a seguir aos professores sentados. Temos esta fotografia na velha casa do Fogo. Histórico e memorável documento da vida académica mindelense. Exactamente Adriano, é no edifício do Senador Vera-Cruz. Foi aí que a minha progenitora fez os primeiros anos liceais. Assim nos contava. Creio que, nos dois últimos anos já frequentou o então novo Liceu, Infante D. Henrique.

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  4. Como diz e bem um texto soberbo escrito pelo saudoso Adriano Duarte silva.As fotografia é prova da vida estudantil académica mindelense no início do século que propulsou o arquipélago para patamares intelectuais superiores.

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