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quarta-feira, 6 de abril de 2016

[9092] - ECRUZILHADAS...


Não é só Cabo Verde que precisa mudar a forma de fazer as coisas e de mover a sua economia. Como aqui, um pouco por toda a parte, se sente a necessidade de uma reorientação para responder aos desafios de hoje, de fazer as reformas tantas vezes adiadas e de ir para além de visões já gastas e ser capaz de agarrar novas oportunidades. Saber como e quando mudar é fundamental. Muitas dificuldades que o Brasil vive actualmente é porque, segundo muitos observadores, não aproveitou o tempo das vacas gordas para fazer as reformas que hoje daria sustentabilidade à nova classe média que o governo de Lula ajudou a criar há poucos anos atrás. O crescimento da China caiu dos dois dígitos para 6% ao ano enquanto procura reestruturar a sua economia, dinamizar a procura interna e ficar menos dependente das exportações. A quebra na procura global que isso já provocou ajudou na queda do petróleo com todas as consequências ao nível económico e da geopolítica. Países como a Nigéria, Angola, Rússia,  Turquia, Irão, Arábia Saudita, Venezuela têm de se reorientar, procurar diversificar a economia e eliminar muita da ineficiência que lhes rouba dinâmica interna, os torna pouco competitivos e os expõe facilmente a choques externos. O mesmo acontece com vários países que prosperaram com a subida de preços das commodities e agora vêem-se aflitos com pesada dívida pública e privada. No caso de Cabo Verde, as dificuldades vêem de longe, mas os avisos de partidos da oposição e de vários sectores da opinião pública não foram levados em devida conta pelo governo do PAICV. Quem também avisou foi o Dr. Carlos Burgo, ex-Governador do Banco Central. Em artigos de opinião neste jornal, chamou a atenção um para um conjunto de questões, nomeadamente: a diminuição do potencial de crescimento, a falta de eficiência e diversificação da economia cabo-verdiana, a falta de arrojo e de conhecimento em lidar com o turismo, o avolumar da dívida pública que já degradou o quadro macroeconómico e o fraco crescimento que põe em causa a sustentabilidade da dívida. Alertou também entre muitas outras coisas para não ficarmos entretidos com a narrativa que os nossos problemas se devem à crise na zona euro e ´foi peremptório em dizer que “é claramente um equívoco pensar-se que esses obstáculos (por detrás da estagnação do crédito) podem ser ultrapassados pela via da política monetária”. O resultado das eleições legislativas sugere que na generalidade do eleitorado há percepção de que o país, de facto, está numa encruzilhada e tem que mudar de rumo. Não pode continuar a se deixar ofuscar nem iludir com narrativas de blindagem, da crise que é causa dos nossos males e com bazofarias que Cabo Verde tem uma boa governação que faz inveja. O sucesso da nova governação vai depender em muito da capacidade em manter mobilizada a vontade nacional para mudança. Para isso é fundamental que seja trazido a debate público os reais problemas do país e se ponha na devida perspectiva as reformas que terão que ser feitas. (Humberto Cardoso)

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 748 de 30 de Março de 2016.

2 comentários:

  1. É uma encruzilhada que convoca todo o país a dar o palpite para o rumo a tomar. A acção do governo tem de estribar-se em largos consensos nacionais, e oxalá ele tenha essa percepção.

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  2. Não custa muito. É só falar a "Verdade", convencer as pessoas da realidade de Cabo Verde, e da necessidade de adoptarmos uma postura diferente.

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