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domingo, 17 de abril de 2016

[9136] - QUANDO "SE FEZ LUZ" NO MINDELO...

Pietro Bonucci e João Rocheteau Leça

A IDEIA DA LUZ ELÉCTRICA NO MINDELO...90 ANOS DE HISTÓRIA (1926).
Foi numa sessão da Câmara Municipal realizada algures na primeira metade de 1914 que surgiu a ideia de se substituir a iluminação pública vigente, do sistema Kitson, por uma rede eléctrica. A proposta, assinada por Júlio Veiga, presidente da edilidade são-vicentina, e pelo vereador César Serradas, tinha apenas a finalidade de fazer com que se estudassem os meios de se tornar viável o projecto. Mas, previdentes, apelavam ao senador Vera-Cruz para que este com o seu "zelo pelo desenvolvimento e progresso da província e, em especial da ilha de São Vicente, procurasse obter propostas em condições as mais vantajosas para o fim que se tinha em vista." Pretendia a Câmara pedir um empréstimo para prover as carências de tarefa de tamanha envergadura, para a qual não possuía os meios necessários, devido à escassez do seu orçamento. A Folha de S. Vicente lamentava o facto de se ter gasto muito dinheiro com o sistema de iluminação a acetileno e depois com os candeeiros Kitson, alegando que esse montante poderia ter sido aplicado à partida no moderno sistema eléctrico de iluminação.
Assim antes da instalação da rede eléctrica no Mindelo, a cidade foi primeiramente iluminada com lanternas a petróleo, as quais eram acesas todos dias ao fim da tarde por um grupo de 6 acendedores de Comissão Municipal de S.Vicente, lanternas essas que pendiam de triângulos de ferro forjado implantados em pontos estratégicos da cidade.
Mais tarde no início de 1923, foram importados 30 candeeiros Kitsons de 500 velas e 6 de 1000 velas, o que veio melhorar substancialmente a já deficiente iluminação pública , dado que os Kitsons davam uma luz forte e viva com alcance de varias dezenas de metros.
Entretanto em 18/4/1922, a Comissão Municipal em face do crescimento da cidade, abriu concurso público para o exclusivo de iluminação pública e particular.O tempo foi passando e só cerca de dois anos depois, isto é, em 29 de Maio de 1924 se começou a concretizar essa ideia.Elaborou-se um contrato entre a Comissão Municipal e os cidadãos Pedro Bonucci e João Rocheteau Leça, para a iluminação pública da cidade do Mindelo.
Antes disso, a mesma comissão havia feito vários contactos com os correios, Telégrafos e Telefones de Cabo Verde, no sentido do aproveitamento dos grupos electrogéneos que aqueles serviços possuíam nas suas instalações.
Contudo, só no dia 6 de Agosto de 1925, 11 anos depois, a electricidade deu verdadeiramente o primeiro passo no Mindelo, através da assinatura do contrato para fornecimento da nova energia entre a Câmara Municipal de São Vicente e os industriais Pietro Bonucci e João Rocheteau Leça. À frente do Município de então estava Francisco Augusto Regala, o médico militar para sempre amado pelos mindelenses que assim punha em prática a deliberação tomada pela Assembleia Municipal no ano anterior. Há 90 anos, portanto.
O projeto de contrato estabelecia um acordo por 50 anos para iluminação pública, privada e fins domésticos.A primeira iluminação pública consistia na utilizaçao de 40 lâmpadas de 200 velas e 80 de 100 velas, todas com refletor e colocadas nos lugares que a Comissão Municipal determinasse.Do contrato constava, entre outras coisas a obrigação de se ligar a corrente 30 minutos antes do ocaso do sol até 30 minutos antes do nascer do sol.
Pedro Bonucci e João Leça , dois proeminentes cidadãos da sociedade mindelense, levaram assim a cabo essa grande tarefa, que levou mais de dois anos a tornar-se realidade, o que viria a acontecer no ano de 1926.
Foram implantados postes de betão em zonas estratégicas da cidade e toda a instalação para iluminação era aérea, o que trazia sérios inconvenientes em dias de grande ventania, pois muitas linhas se partiam com o impacto do vento.
Assim desta forma a cidade do Mindelo viu-se apetrechada de um melhoramento de alta valia, aliás bem merecida tendo em atenção a grande importância do seu porto internacional.
A iluminação pública naquele tempo era circunscrita à área de cidade propriamente dita, isto é do Comando Militar até a Salina, e da orla marítima até ao Lombo-de-Trás.As zonas periféricas, Monte sossego, Ribeira bote, Fonte Filipe, Fonte Francês, Cruz, Chã de Alecrim, Madeiralzinho, Monte, etc, só começaram a ter energia eléctrica no tempo de Júlio Bento de Oliveira....(Lucy Bonucci)



(Fotos cedidas pela autora)

5 comentários:

  1. Mais uma feliz ideia (lembrança) esta de homenagear os dois cidadãos Pietro Bonucci e João Leça que deram a luz electrica ao centro da cidade do Mindelo. Esperemos a vez de citar os mais modestos que iam ajudando, como, p.e., António Fonseca (Totoi de Matiota - máquinas), João Oliveira Santos (Jom Bintim - eletricista), Djindja (também eletricista).
    Tudo isso vai obrigar a trazer outra destacada figura mindelense que foi Júlio Bento Oliveira.

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  2. Antigamente chamavam-se a estes cidadãos, "Os Homens bons da cidade." ou as "Forças vivas da cidade" Foi gente empenhada no progresso da sua terra, ou da terra que fizeram também sua. Cidadãos capazes de projectar e de levar avante realizações que na altura eram (à escala e dimensão) gigantescas.
    A autora do texto, descendente de um deles, foi muito oportuna em recordá-los. Ainda bem.
    Abraços

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  3. Ah, tanta falta que gente desta estirpe faz hoje à nossa terra! Até dói à alma reconhecer que a ilha ficou órfã de "homens bons", como bem os classifica a Ondina.

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  4. Pudera primeiro passou um Tremor de Terra depois um Tsunami Radical, tal uma onda gigante que submergiu tudo. Está tudo no fundo do oceano como prognosticava o poeta José Lopes.
    Estou a ler o livro Mulheres de Pano Preto e só no início do livro já começo a recuar no passado para fazer um intropecção daquilo que correu mal nas nossas terras. Fiquei chocado com os massacres perpetrados na Guiné. E nós podemos dizer que nos safámos por um triz. Estou chocado com o destino da Guiné

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  5. Uma salva de palmas para o trabalho da descendente Bonucci.

    Braça com lâmpada de incandescência,
    Djack

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