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quinta-feira, 19 de maio de 2016

[9224] - EXTINTO MINISTÉRIO...

Francisco Avelino Carvalho
Extinção do Ministério das Comunidades: Emigrantes cabo-verdianos regressam à categoria de quintal
19 Maio 2016

Nunca colocámos a hipótese de extinção do Ministério das Comunidades. Sempre considerámos que, depois dessa medida de política pública máxima que foi a criação de um ministério exclusivo para a emigração, o caminho a seguir seria sempre o da invenção de novas medidas que pudessem melhorar cada vez mais a vida dos cabo-verdianos e seus descendentes espalhados pelo mundo e nas suas relações com os seus parentes, amigos e familiares.
Somos de opinião que o caminho, depois dos ganhos alcançados com a criação do Ministério das Comunidades – medida elogiada nos fora mundiais sobre migrações –, só poderia ser um: o reforço do departamento do Governo com responsabilidades directas na gestão da diáspora cabo-verdiana. Daí que julgamos ser um imperativo de consciência chamar a atenção para este recuo profundo que representa a constituição do novo Governo da República de Cabo Verde. Num ápice eleitoral, passámos da atenção mais elevada até então dispensada ao emigrante destas ilhas e os seus descendentes para o lugar até agora mais baixo que poderia ser reservado aos cabo-verdianos da diáspora: o lugar de pendura no Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Acontece sem qualquer base que seja ilustrativa de alguma visão de fundo e sem um mínimo esforço teórico-conceptual. Pelo contrário: tudo isso em nome de um princípio de ganhos – no mínimo – muito discutíveis e que não passa de mais um sinal da rendição da sociedade face ao populismo cego dos números: a representação simbólica da diáspora no seio da administração do país foi sacrificada em nome desse princípio de se ter um governo com um número reduzido de ministros. Um governo enxuto! Sendo certo que este problema de rendição é universal e transcende a realidade das ilhas, enquadrando-se numa lógica mais abrangente da colonização da mentalidade mundial por uma parte das chamadas ciências exactas com a economia neo-liberal e as novas finanças à cabeça, ou seja, os números no comando da balança.
Entendemos que a extinção do Ministério das Comunidades, enquanto ministério autónomo com um ministro exclusivo, autoriza-nos a pensar que, afinal, todo o alarido que se fez – tanto à volta do despejo da metalúrgica de Setúbal, passando pelos desalojados da Damaia, bem como sobre o arresto do avião dos TACV, alegando danos irreparáveis e profundamente dolorosos na alma do povo das ilhas – não passou de simples estratagema de campanha eleitoral pedagogicamente irresponsável.
Resta-nos aguardar se o tratamento que o Ministério dos Negócios Estrangeiros irá dispensar à emigração cabo-verdiana será o de “parente pobre”, como sempre foi ao longo de toda a existência desse ministério, ou se haverá melhoria.
Afigura-se-nos que o teste final virá com a orgânica e a aprovação do Orçamento do Estado (OE) para 2016: quantos por cento do OE irá o novo Governo da República dispensar à emigração e aos emigrantes cabo-verdianos? Esta será a primeira “prova dos nove" da legislatura. (in A Semana)

1 comentário:

  1. Caro Senhor:
    O Ministério de que fala não foi extnguido. Ele està no seu devido lugar no Ministério dos Negôcios Estrangeiros de onde sempre dependeu o Departamento. Os Emigrantes, em qualquer parte do Mundo, dependem dos Consulados ou, na sua ausência, das Secções Consulares das Embaixadas. Se o Ministério de que fala foi criado pelo Zé Maria foi para dar um tacho por um lado e, por outro, criar confusão nos Serviços.
    Acrescento mais: - O primeiro trabalho dos Cônsulados é a protecção consular aos seus cidadãos. Portanto, podia poupar-nos com o seu latim.

    Eduardo Oliveira (cônsul aposentado)

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