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terça-feira, 14 de junho de 2016

[9321] - A VOLTA DE "O MANDUCO", 92 ANOS DEPOIS...

A Livraria Pedro Cardoso teve a audácia de lançar a edição fac-similada do jornal que juntou nomes como Pedro Cardoso (que deu nome à livraria), Eugénio Tavares e José Lopes - “o trio mais terrível do jornalismo caboverdiano”. Uma edição que conta com o prefácio de Manuel Brito-Semedo, que tem dedicado a sua vida académica à investigação da imprensa caboverdiana


Em boa hora a Livraria Pedro Cardoso fez ressurgir das brumas da memória “O Manduco”, uma referência incontornável da história da imprensa caboverdiana que havia chegado, pela última vez, às mãos dos leitores em 30 de junho de 1924, após ter publicado 14 edições quinzenais da lavra de Pedro Cardoso, Eugénio Tavares e José Lopes, “o trio mais terrível do jornalismo caboverdiano”, como a eles se referiu o historiador João Nobre de Oliveira, e como bem nos relembra Manuel Brito-Semedo (na foto) no prefácio da edição fac-similada do jornal “O Manduco”.

Na velha tradição de “A Voz de Cabo Verde”, “O Manduco”, assumido jornal regional da ilha do Fogo, mas intérprete dos interesses da então colónia, surge em Agosto de 1923, tendo como fundadores Pedro Cardoso (natural da ilha do vulcão) e Eugénio Tavares (da Brava), a que se junta José Lopes (de São Nicolau). Com uma assumida estrutura literária e sendo voz dos anseios mais profundos dos caboverdianos, “O Manduco” constitui-se num espaço de influência republicana e socialista, ideias que influenciavam os intelectuais caboverdianos de então, com Pedro Cardoso assumindo-se até como comunista, defensor do continente negro e da dignificação do homem africano, de que é exemplo o pseudónimo “Afro” com que assinava os artigos mais contundentes

De existência efémera, “O Manduco”, porém, deixou marcas profundas na história da imprensa caboverdiana e sublinhou a excelência da escrita-militante de Pedro Cardoso, Eugénio Tavares e José Lopes.

Em boa hora, dizia-se mais acima, a Livraria Pedro Cardoso – fiel depositária do nome e do espólio do poeta e jornalista foguense – aceitou o desafio feito um ano atrás por Brito-Semedo, que tem dedicado a sua vida académica à pesquisa e investigação da imprensa caboverdiana.

“O Manduco tem um forte pendor literário, com uma ‘Secção Literária’, ou não fossem os seus diretores poetas, e volta a juntar nas suas páginas o trio que desde os inícios do século vinha enobrecendo o jornalismo e as letras cabo-verdianas – Eugénio Tavares, José Lopes e Pedro Cardoso. De destacar que todos os nomes sonantes das letras cabo-verdianas da época passaram por este jornal, tendo sido a maior parte deles colaboradores assíduos”, escreve Manuel Brito-Semedo no prefácio que abre esta edição fac-similada.

De aspeto gráfico bem cuidado, o pré-lançamento de “O Manduco – Edição Fac-similada do Jornal O Manduco” aconteceu na última terça-feira (um dia antes da data da morte de Eugénio Tavares) e leva-nos a uma viagem guiada à história da imprensa caboverdiana e do primeiro quartel do século XX, numa navegação pela escrita de nomes maiores da nossa cultura e do jornalismo.

Redação - Cabo Verde Direto

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