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quinta-feira, 7 de julho de 2016

[9419] - A ILHA DO MAIO E A REGIONALIZAÇÃO...

Ilha do Maio no Contexto da Regionalização

Escrito por  José Maria Duarte para o Expresso das Ilhas


É o momento de agir! O governo recentemente empossado tem na sua agenda, como uma das prioridades, a regionalização de Cabo Verde. A sociedade civil não pode permitir que esta temática fique cativa na agenda dos governantes. Por isso, é o tempo de agir – toda a sociedade civil cabo-verdiana tem de se envolver na reflexão e no debate sério sobre a regionalização, fazendo com que, por via duma opinião pública informada e audível, a questão não figure apenas como promessa eleitoral.
Cabo Verde só tem a ganhar com a regionalização, visto que será o motor do desenvolvimento partilhado e é contra o centralismo e macrocefalia da cidade da Praia que não abona o desenvolvimento socioeconómico do país.
A regionalização é um tema que tem sido reivindicado ou debatido mais pelos são-vicentinos e, às vezes, até dá a entender que a regionalização é mais uma forma de  expressão da rivalidade que existe entre Praia e Mindelo. Até parece que os mindelenses são os mais interessados nesta questão, mas não são – qualquer um que perceba a importância da regionalização, entende o quão importante é para o desenvolvimento do nosso país, principalmente para as ilhas mais marginalizadas, com é o caso da Ilha do Maio.
Maio, como qualquer outra ilha deste arquipélago, têm as suas características próprias, os seus modos de ser e de estar, a sua maneira peculiar de se expressar, as suas potencialidades, os seus recursos naturais. Apesar de sermos um estado unitário, dez ilhas próximas umas das outras, cada ilha é dotada das suas características próprias e de vivências típicas. Maio é diferente de Santiago, assim como Santo Antão é diferente de São Vicente ou Fogo o é da Brava e, apesar de serem ilhas muito próximas umas das outras, apesar de sermos um país, uma nação, cada uma possui as suas particularidades e potencialidades.
 A regionalização, independentemente do modelo que se vier a adotar, não põe em causa, de maneira nenhuma, a unidade nacional, muito pelo contrário, a regionalização vai ter um papel importantíssimo no desenvolvimento de uma nação unida e solidária, se for bem planeada e com a devida cautela.
Nos últimos anos, assistimos a uma excessiva centralidade, a um monopólio da cidade da Praia e uma profunda marginalização das outras Ilhas. Maio é uma ilha completamente dependente da cidade capital, com sérios problemas de acessibilidade, um caos, uma ilha onde faltam bens de primeira necessidade, como alimentos e medicamentos. A acessibilidade é fulcral no desenvolvimento de qualquer Ilha: qualquer região que tenha dificuldades na acessibilidade externa não consegue acompanhar o ritmo de crescimento das outras, e nem consegue dar asas ao seu potencial (no caso concreto da ilha do Maio, o potencial turismo que existe, efetivamente – um sector predominante na alavanca do crescimento económico de Cabo Verde, para o qual pouco ou nada tem contribuído).
É o momento de agir, debater de forma séria e cautelosa a regionalização e torná-la uma realidade em Cabo Verde, cientes de que é um processo de desenvolvimento partilhado (homogéneo), sem deixar nenhuma ilha na margem, combatendo o centralismo do poder político e administrativo. Quanto ao modelo da regionalização, o grupo que advoga a regionalização de São Vicente pretende uma regionalização política e não administrativa e que a ilha do Porto Grande tenha o mesmo estatuto que a cidade capital de Cabo Verde. Isso não passa de uma guerra de “sampadjudos contra badius” e que pode causar uma divisão nacional. Uma regionalização política requer uma alteração da constituição. Portanto, o modelo mais adequado, na minha ótica, será uma região, corresponder a uma ilha num contexto administrativo. Se se vier a adotar uma regionalização num agrupamento de ilhas, e se se enquadrar o Maio num agrupamento com a ilha de Santiago, por serem próximas uma das outra, ou num agrupamento com as ilhas do Boavista ou do Sal por terem características semelhantes, ora, o desenvolvimento do Maio continuará estagnado, não adiantará em nada, continuaremos exatamente como estamos: uma ilha completamente dependente, frágil, vulnerável, com condições de saúde precárias, acessibilidade deficitária, o potencial turístico subaproveitado. Portanto, o modelo de regionalização por agrupamento de ilhas não é o melhor caminho, não serve à Ilha do Maio. Exemplo disso é a Sociedade de Desenvolvimento Turístico Integrado das Ilhas da Boa Vista e do Maio (SDTIBM) que, não obstante ter como objetivo o desenvolvimento harmonioso e sustentável de todo território turístico das duas ilhas, não tem beneficiado o Maio em nada ou quase nada, enquanto acionista da sociedade. Em termos turísticos, Maio, comparado com a Ilha da Boa Vista, está aquém das expectativas. O turismo no Maio ainda é uma miragem. Portanto, o modelo mais adequado para Cabo Verde e, em particular, para a Ilha do Maio será o de tipo regionalização administrativa - cada ilha uma região, com mais poderes para os municípios, uma gestão pública mais próxima das pessoas, uma vez que o poder local conhece melhor as necessidades, realidades e carências das pessoas e da região, criando sinergias, a fim de obter grandes melhorias na economia e fazer valer o potencial característico da Ilha. Porque queremos que as nossas especificidades sejam valorizadas, queremos também de ter a capacidade de definir, traçar o nosso futuro e contribuir para o crescimento económico do nosso arquipélago. Precisarmos de nos consciencializar sobre a importância e os benefícios que a regionalização nos pode proporcionar, e que a não regionalização prejudica até mesmo a cidade capital da Praia, por provocar uma deslocação em massa da população cabo-verdiana para esta cidade em busca de melhores condições de vida, levando a uma sobrepopulação que causa mais desemprego, insegurança, problemas de energias…. portanto a regionalização será um bem para toda a nação cabo-verdiana.
Vamos apostar na regionalização para libertar o potencial de cada ilha!

3 comentários:

  1. Até que enfim aparece um maiense a falar sobre regionalização.

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  2. A ilha do Maio, embora os recursos economicos, continua abadonada. Foi uma das ilhas prosperas,vivendo da pesca, da agricultura, das salinas e das pedras, exportadas para o litoral africano. Ela deve libertar-se do giron da ilha de Santiago e se integrar num outro grupo de ilhas que apoia o seu roprio projecto de desenvolvimento. Os regionalistas maienses precisam manifestar o seu apoio ao movimento regionalista de Cabo Verde.

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