REVISITANDO FONTE CÓNEGO...
Presa na memória, a bola de trapos
vai e vem, com simulacros de pêndulo,
em movimento errático e mofino,
na esteira das balizas que se perderam
com a geometria progressiva das ruas.
Ressalta na parede da velha esquina,
de cal nostalgicamente poluída,
onde ficaram para sempre estampadas
as travessuras dos meninos de outrora.
Mas já sem o afago da antiga poeira chã
a bola desvia-se e, sem cerimónia,
saltita para as casas da vizinhança,
acordando recordações adormecidas
em molduras de sombra e silêncio.
Surpreende olhos atrás das persianas,
pasmados com este dia enigmático
orlado de saudade e mistério.
Não sabem que uma fantasia de menino
trouxera de volta o sonho germinal.
Surge então o sol inclemente do meio-dia,
a hora dilecta do temido minguarda,
e calaram-se as vendedeiras de rua
e os cães irrequietos presos nos quintais.
E a bola de trapos seguiu o seu destino,
costurada com farrapos de ilusão.
Adriano Miranda Lima
Até parece que as casinhas foram pintadas para a poesia adriana.
ResponderEliminarO poema evocativo tem o estilo característico, inconfundível, do "master" e eu não sei comentà-lo. Limito-me a ler e a reler pois, além da sua beleza intrínseca, lembra-me a minha primeira escola primária que se encontrava precisamente à frente.
Tinha eu sete anos e o mestre era o sr. Eurico Teixeira, tão rigoroso como sádico, que não se coibia em maltratar um aluno gago o mais pequeno da turma mas não o pior.
Triste lembrança que registei para sempre.
Lembro-me igualmente de pessoas conhecidas que ali moravam: - Manuel Santiago (escrivão do Tribunal), Manuel Silva (tenente e enfermeiro) entre outros. Gente de bem numa terra de boa gente. Era dias-hà, no tempo em que os filhos eram todos "melhores mas não o diziam
Um grande poema em honra do bairro onde naceu e viveu o amigo Adriano. Mais um poema para o futuro livro
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