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terça-feira, 30 de agosto de 2016

[9617] - ENTRE A ASTÚCIA E A ESPERTEZA...

O "comandante" Pedro Pires concedeu à cadeia germânica Deutsche Welle uma entrevista a que já aqui nos referimos, a propósito da sua auto-propalada "astucia" na condução das negociações com o (des)Governo Português, em 1974, e que levariam à Independência de Cabo Verde, um ano depois... Não nos esqueçamos que a delegação portuguesa a tais negociações incluía algumas figuras de triste memória, onde pontificava Vasco Gonçalves, o general vermelho que não escondia a profissão de fé nos ideais de extrema esquerda que enformavam a delegação cabo-verdiana...Estava, pois, tudo em família e na mais completa paz ideológica o que, certamente, terá facilitado a exibição da astucia do negociador foguense,,,
Transcrevemos, a seguir, um pequeno excerto dessa entrevista para dar conta de uma outra faceta do astuto negociador: a da esperteza...

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DW África: Em junho de 1975 são realizadas eleições em Cabo Verde. Hoje, várias vozes admitem que foi um "grande erro" cometido pelo PAIGC a neutralização ou prisão de eventuais concorrentes. Falo de elementos da UDC (União Democrática de Cabo Verde) e da UPICV (União do Povo das Ilhas de Cabo Verde), alguns dos quais foram até presos no Tarrafal, que foi temporariamente reativado. Acha que teria sido importante para o partido ter sido legitimado democraticamente e não ter apenas a legitimidade histórica?

PP: Não, não. Nós representamos a vontade dos cabo-verdianos. Houve muitos movimentos que nasceram depois do 25 de Abril de 1974. Está claro que são coisas fabricadas e, mais do que isso, sem qualquer legitimidade ou trabalho feito para se legitimar.
O PAIGC, na verdade, era o movimento de libertação nacional legítimo, legitimado internamente e internacionalmente. Nós, como atores políticos, teríamos de tirar todo o proveito disso e não nos podiam pedir que tivéssemos uma atitude infantil de entregar o poder a quem não fez nada por ele. Portanto, sejamos objetivos, mas também realistas. Foi nessa base que agimos. Muitas pessoas têm análises fantasiosas que não têm em conta a realidade.

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Quarenta anos passados, seria de esperar que os acontecimentos que mancharam a História dos primeiros anos de Independência de Cabo Verde conseguissem ser analisados de forma honesta, reconhecendo-se os desmandos que atingiram dimensões cujas consequências não deviam ser deixadas, apenas,  ao julgamento da História... Pergunto-me se não haverá matéria criminal suficiente para a Justiça institucional intervir ou se apenas haverá um défice de vontade política para levar os algozes à barra...
Por outro lado, a esperteza leva P.P. a iludir na sua resposta o volume dos crimes do seu Partido e do seu Governo atribuindo aos seu concidadãos um estatuto de menoridade politica ao descredibilizar radicalmente os movimentos sócio-políticos emergentes no pós 25 de Abril, numa demonstração clara do sentido ditatorial que informava o PAIGC. A resposta do "comandante" é, toda ela, uma demonstração de narcisismo político e de negação liminar dos princípios da democracia participativa. O "comandante" faz-se, pois, dono da legitimidade pois, como afirma, tudo o resto são "análises fantasiosas que não têm em conta a realidade"... Há algumas vítimas, entre mortos e vivos que, claro está, não concordam com o astuto negociador e esperto governante! 

3 comentários:

  1. A mais completa e descritiva história do pós- independência de Cabo Verde, que até hoje li:

    WWW.buala.org/.../ das_tragedias- históricas do povo cabo-verdiano - da saga da c...

    saudações

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  2. Fico preplexo com a maneira como o El Comandante fala. Parece que não passou pelo perído democrático em continua a viver nos anos 70. Assino por baixo o que o amigo Zito escreveu " conseguissem ser analisados de forma honesta, reconhecendo-se os desmandos que atingiram dimensões cujas consequências não deviam ser deixadas, apenas, ao julgamento da História... ""
    E friso esta frase
    A resposta do "comandante" é, toda ela, uma demonstração de narcisismo político e de negação liminar dos princípios da democracia participativa. O "comandante" faz-se, pois, dono da legitimidade pois, como afirma, tudo o resto são "análises fantasiosas que não têm em conta a realidade"

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  3. Também assino por baixo. Tivessem feito um referendo e a vontade dos cabo-verdianos seria expressa sem equívocos. A verdade é que o povo do território não autorizou ninguém a lutar por ele nas matas da Guiné. Tinha direito e escolher livremente o seu destino.

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