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sexta-feira, 2 de setembro de 2016

[9629] - VENDER GATO POR LEBRE...

CORSINO TOLENTINO:

AUTARCAS CONTINUAM A PROMETER O QUE
NÃO PODEM REALIZAR

O que se nota, porém, avança aquele analista, é que há muita gente a vender gato por lebre.

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Corsino Tolentino afirma que há candidatos cada vez mais conscientes das responsabilidades de gerir um município, mas continuam a prometer o que é da clara competência do poder central, logo, coisas que nunca serão capazes de realizar caso forem eleitos. Para este analista, um candidato a uma autarquia devia saber, de antemão, quais são os recursos disponíveis antes de se pôr a prometer o que não é realizável.
“Há neste momento um verdadeiro poder local” em Cabo Verde e, para Corsino Tolentino, é verdade que o municipalismo está consolidado e tem sido eficiente na medida em que os cidadãos, para compor os seus órgãos de poder local, os autarcas e as assembleias, têm sido livremente escolhidos entre os melhores que se têm candidatado.
O que se nota, porém, avança aquele analista, é que há muita gente a vender gato por lebre. “Há candidatos que reflectem também uma melhor educação e capacitação geral para o desempenho destes cargos. Mas continuamos a prometer o que não seremos capazes de realizar, aquilo que é da competência do poder central, do Governo. Quando o candidato chega, e sem fazer cálculos, sem fazer contas, sem perguntar aos colegas que já lá estiveram o que é gerir uma autarquia, acabam por prometer coisas que são irrealizáveis” advoga.
Para Tolentino, este é o aspecto “mais negativo” e há hoje em dia um certo descrédito em relação aos autarcas que prometem mais do que podem fazer. “Daí a situação caricata de pedir o voto para realizar tais objectivos e no fim do mandato pedem novamente o voto, não para realizar novas coisas, mas porque ainda não houve tempo de realizar o que antes tinha prometido”, exemplifica.
Autosustentabilidade
Há um problema da autossustentabilidade dos municípios e, já agora, também, de Cabo Verde. “O maior desafio que nós temos é definir por que vias vamos conseguir a autossustentabilidade dos municípios. Estamos acostumados a ouvir o cluster disto, projecto daquilo e, de repente, tudo parou e não se fala mais nisso. Quer dizer que alguma coisa está errada, alguém prometeu e não cumpriu, com o agravante que não apareceu ninguém a recordar o que foi prometido e não cumprido”, diz.
Neste quadro, argumenta também, que as pessoas têm tendência em pensarem primeiro nos respectivos partidos em vez de pensarem nos munícipes e em Cabo Verde. “Acham que há sempre um milagre por acontecer e que vai acontecer de certeza para que Cabo Verde seja viável”, critica.
Reaparecimento dos independentes
Nesses eleições autárquicas dá para notar o reaparecimento dos grupos independentes que concorrem em alguns municípios do país. Para Corsino Tolentino, este aspecto tem duas leituras possíveis: a primeira, resulta de uma certa “insatisfação” relativamente ao monopólio dos partidos políticos da vida política e social de Cabo Verde. “É uma manifestação de desconforto e acho que isso deve ser tomado a sério”.
E depois, avança como segunda hipótese, há uma “avaliação discutível” por parte dos candidatos apoiados por grupos de cidadãos organizados e pelos partidos políticos que estiveram ligados. “Não chegaram a um acordo sobre as pretensões”. Essas pretensões, diz Tolentino, podem ser “boas ou más”, mas temos que saber que são “legítimas”.
“Nesses casos, nada como uma deliberação legal, legítima e a mais participativa possível. Alguns desses candidatos não vão conseguir eleger-se, mas vão ficar a saber que falharam em alguma coisa ou a ideia que tinham sobre a cidadania cabo-verdiana e a relação entre os partidos e os cidadãos provavelmente não é aquela ideia que têm e que tiveram ao decidirem candidatar-se”, interpreta.
Hegemonia do MpD
Corsino Tolentino critica o partido maioritário, neste caso o MpD, que pretende ser hegemónico no sentido de dominar quase toda a política nacional, de dizer aos munícipes para votarem nos candidatos deste partido porque assim haverá um governo, um parlamento, as autarquias, um Presidente da República todos da mesma cor política.
“Isso é perigoso. Mas não considero ilegítimo dizerem ou tentarem isso. Os eleitores é que devem estar atentos e saberem que não é só em Cabo Verde que isso acontece. Há, efetivamente, consolidação da democracia, quando há oposições consolidadas e quando há um consenso entre os partido políticos e a sociedade civil sobre a participação nas eleições”, evidencia.
Outro aspecto que Tolentino aponta é a participação das mulheres nas eleições autárquicas. O nosso interlocutor diz que esperaria um “protagonismo maior da mulher” e deixa algumas questões: “Eu pergunto se a política é suficientemente atraente para quem tenha outras responsabilidades. A política é suficientemente atraente para essas senhoras, essas jovens?”
Neste momento, há quatro candidatas e são todas do PAICV, a Leonesa Fortes, na Ribeira Grande, a Rosa Rocha no Porto Novo, a Carla Tavares em São Miguel e a Cristina Fonte na Praia. Significa isso o PAICV um partido mais disponível às mulheres? A pergunta que fica no ar sem resposta.
(in A Nação)

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