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quarta-feira, 5 de outubro de 2016

[9751] - INFLECÇÃO IDEOLÓGICA?!

O processo eleitoral autárquico está prestes a chegar ao seu término, com a tomada de posse dos órgãos eleitos.
Confirma-se que os objectivos do PAICV, assumidos pela liderança emergida do mais recente Congresso – ganhar as Legislativas, ganhar as autárquicas e ganhar a presidencial—, não serão alcançados. Aliás, devido a peripécias cada uma a mais mirabolante, o PAICV chega sem candidato ao início do processo eleitoral presidencial.

Por: Mário Matos

Tempo d’azágua

Urge, de facto, o apelo a muita maturidade política e inteligência emocional para abrir um processo generalizado de análise, reflexão e debate interno. Temos o dever e a responsabilidade de resgatar a coesão, os princípios, os valores, associados a um Partido de Causas, que deve ser o PAICV.

É, pois, uma imposição em matéria de princípios e de ética, o desencadear desse processo de reflexão e debate para encontrar saídas colectivamente construídas, desdramatizando a situação.

Alegar (porquê e para quê?) que os problemas de défice de debate no PAICV não são de agora ou que o PAICV enfrenta, de há muito, problemas que não foram tratados é, no mínimo, não assumir o partido como um todo, construindo periodizações que são artifícios que não conduzem a nada de útil à situação actual.

Além do mais, não é ético nem curial que quem beneficiou num passado recente desse “estado de coisas” venha agora brandir os “descasos” do passado a seu favor…

Se o debate generalizado deve “partir de cima”, por uma questão de método e orientação, isso é válido, no meu entender, somente para despoletar o processo.

Afastemos de vez toda a tentação de controlo desse processo de forma burocrática – que não se coaduna com o exercício em liberdade dos direitos e deveres dos militantes e simpatizantes do PAICV, nem com os princípios e valores que emanam dos Estatutos mas, sobretudo, da Declaração de Princípios.

Pessoalmente, o “modelo” de uma riqueza invejável é o do PS francês: nos momentos de crise, intensos debates atravessam o PSF da base ao topo e cruzados em todas as direcções. Ele é feito através de Clubes de debate, Círculos de Tertúlias e semelhantes, que integram intelectuais de elevado gabarito e outros, cientistas e investigadores, artistas de todos os ramos da Cultura, jornalistas de opinião, académicos, políticos em funções ou que já exerceram funções públicas de destaque como ex-Primeiros-Ministros, ex-Ministros de várias pastas, deputados, etc.

O debate flui sem peias, produzem-se memorandos, artigos de opinião, documentos de reflexão sobre a esquerda, etc.

Os órgãos próprios do PS recolherão e sistematizarão esse manancial de conhecimentos e reflexões, das perguntas para as quais não se encontraram respostas, ainda, e alimentam a reflexão nos órgãos que tomam decisões. Tenho esperança que reencontraremos o nosso Norte, como tem sido o apanágio do PAICV.

Até lá, por favor, não citemos Amílcar Cabral! Não banalizemos o exemplo, a imagem, o brilho de um Homem raro. Cabral enfrentou desafios na sua liderança, num contexto histórico, desempenhando papéis que ninguém mais desempenhou no Partido, desafios esses que pouco ou nada têm a ver com o momento presente no PAICV. - in A Semana, 05.10.2016

marzim54@gmail.com

6 comentários:

  1. Percebe-se bem que o político Mário Matos "Marzim" se dá conta de uma realidade que há muito vimos denunciando. Mas parece que no seu partido é o único a abrir os olhos para essa realidade.
    Note-se que ele apela a que não se traga o Amílcar Cabral para o debate que se fizer. Percebe-se bem que o antigo líder é hoje um autêntico gongon no partido. Gongon para muitos cabo-verdianos de outros partidos ou sem partidos, mas doravante gongon também, se calhar, para os próprios membros do partido. Pois, há que exorcizá-lo.
    Quanto a partido de causas, como ele acha que é o PAICV, entendo que qualquer partido em Cabo Verde tem de ser um partido de causas. Mas há uma causa que se sobrepuja a todas as outras, é o país real, quase que não dando muita margem para se pensar em causas secundárias, de colorações folclóricas.
    Mas não deve ser apenas o PAICV a iniciar uma reflexão interna. O MpD não se pode excluir dessa reflexão, porque precisa clarificar a sua linha ideológica. E o momento actual, o das vacas gordas partidárias, é o mais indicado.

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  2. Eu acho que o PAICV e o MPD já estão obsoletos. Defendo que façam um Hara-Kiri ou seja que decidam uma data em que estes partidos acabem e sejam reconvertidos. Reparem que o MPD nem se considera partido, mas sim movimento. O PAICV é o partido africano das independências. Isto tudo já cheira a naftalina.
    O Povo das Ilhas quer um poema diferente

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  3. Quando Mario_Matos propõe a restructuração no e do PAICV, e até a mudança de nome para PS (partido socialista) (o que já tinha sugerido há anos tanto ao PAICV como ao MPD, por razões que expliquei num artigo). A ideia não é má pois estes partidos estão esvaziados de conteúdo e substância e precisam de novas siglas rostos novos, novos conteúdos, ideológicos e programáticos, reformulação de conceitos, para os revigorar e os modernizar. Pois apesar das suas juventudes de menos de 40 anos já cheiram a naftalina !!
    O que significa hoje em pleno século XXI Partido Africano da Independência ou Movimento para a Democracia? Digam-me lá!?
    De resto continuo a perguntar se o MPD é Partido ou Movimento, se os seus donos sabem fazer a destrinça entre as duas coisas.
    Estes partidos irmãos(ver PS) , em tudo, dão a terrível percepção de máquinas de poder infestadas de inúteis e parasitas.
    PS: Porque é que defino o PAICV e o MPD de irmãos?
    Podemos retorquir aos que teimam em encontrar diferenças substanciais: 'Ideologicamente em quê é que o PAICV difere do MPD? Alguns dirão que o MPD é mais democrático devido ao seu nome e de pretensamente ter fundado a democracia.
    A ver iremos, se com o pau nas mãos, o partido do poder não vira vilão!! Continuamos a estar em pleno estado de graça durante 6 meses de eleições consecutivas e vitoriosas!!

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  4. Ao fim de 40 anos o Povo das Ilhas já merece e precisa de Um Poema Diferente. Disso deu a prova ao eleger um presidente com 30% de votos e uma abstenção recorde

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