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sexta-feira, 14 de outubro de 2016

[9788] - OS SEGREDOS DO SEGREDO...

Henrique Pereira, de origem madeirense, filho e sobrinho de industriais do calçado com fábrica no Mindelo foi, também ele, artesão da especialidade, por conta própria, cineasta nas horas vagas...Cineasta tipo 4 em 1: argumentista, produtor, engenheiro de som, operador de câmara...Fez dois filmes, resolveu ir ao Brasil para alargar horizontes e esfumou-se no tempo para todo o sempre...
Henrique, foi o fundador do Studio Mindelo, um  barracão localizado nas traseiras do pátio interior do Clube de Ténis, onde, com o realizador, o Dante Mariano, e outros membros do elenco, passámos horas e mais horas na preparação do filme e do documentário, depois das cinco da tarde até de madrugada... A película não tinha banda sonora e, por isso, foi necessário inventar um sistema de utilizar um gravador de fita para os diálogos, ruídos ambientais e música de fundo em que o "capstan" de arrastamento da fita estivesse sincronizado com o veio de circulação do filme...Para evitar "soluços" na gravação foi, até, necessário substituir algumas rodas dentadas das máquinas por círculos de borracha dura...Depois de feitas as filmagens, lá ia o filme para Lisboa para ser feita a revelação e era sempre uma festa ver, semanas depois, os resultados, até porque, sendo o filme virgem e as revelações, coisas que custavam muito dinheiro, não  havia lugar a enganos nem repetição de filmagens... Quando se viu, numa ocasião, que o Dante, fazendo o papel de padre, se tinha benzido com a mão esquerda, todo o mundo ficou gelado, menos o Henrique que opinou: "Ó gente, então não pode haver padres canhotos?"... Tanto bastou para se recuperar a confiança e não consta que alguma vez, algum dos muitos espectadores que viram o filme, tenha estranhado a "dantesca" benzedura...
Também requereu muitas horas de labor a elaboração das legendas de apresentação e encerramento do filme bem como do documentário que o antecedia na projecção... Para isso havia um quadro forrado a feltro negro onde as letras, recortadas, uma a uma, de folhas de cartolina branca, utilizando as afiadíssimas facas de sapateiro do Henrique, aderiam por acção da estática e eram filmadas de diversas formas e em diversas sequências e ângulos para emprestar à projecção uma nota de movimento diversificado...
A gravação dos fundos musicais também me deu água pela barba e foram criteriosa e demoradamente escolhidos de partes de partituras de músicas clássicas de discos emprestados pelo Rádio Clube Mindelo... Foi um trabalho que me proporcionou um orgulho especial pois, a julgar pelos elogios, o resultado parece ter excedido as expectativas...
Outro pormenor que também acho dever citar é que, antes de se iniciar a história propriamente dita, as primeiras imagens que apareciam eram as deste vosso amigo sentado ao lado de uma mesa segurando um livro que parecia ter acabado de ler. Então, virando o olhar para a câmara eu dizia, mais ou menos, o seguinte, chamando a atenção para o volume,na mão direita: "Esta é, sem dúvida, uma história surpreendente...Tão profunda que não consigo resistir a conta-la..." Então, começava a desvendar-se aos olhos dos espectadores o "Segredo Dum Coração Culpado"...
Claro que, como era óbvio acontecer, também colaborei com o texto e a locução dos comentários ao
complemento sobre a Viagem Presidencial que o General Craveiro Lopes, nesse mesmo ano realizou a Cabo Verde e Guiné.

11 comentários:

  1. Zito, é uma agradável surpresa saber que participou na realização deste filme. Na reportagem ontem de madrugada passada na RTP -Eden- intervém o principal intérprete. Não sei se ele vive em Cabo Verde ou em outro lugar. Tanto tempo passou... Que é feito do Dante Mariano?

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    1. Oh rapaz, não fales do Dante que ele pode voltar ! Ele era tão imprevisivel...
      Hà alguns anos, em Lisboa, quando se esperava a morte do Gabriel que se encontrava bastante doente, faleceu o Dante que não gozava de muito boa saùde; mas o seu passamento foi uma grande surpresa. Ele deve andar por là a fazer diabruras para divertir o Senhor S. Pedro ou a escrever letras como as da morna "Chandinha".

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    2. O Antón Punchinha, creio que ainda vive mas não sei onde, ao certo. O Dante, esse, infelizmente passou-se há já alguns aninhos. Senti muito a sua morte, pois éramos amigos de longa data, desde os tempos da primária...

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    3. Zito,
      O simpàtico Anton faleceu antes do Dante. Cheguei a comentar este facto com a filha da madrinha do dito cujo. Ela até é uma tua ex-colega do Gil Eanes.

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  2. Pois, sim, é esse mesmo, Anton Punchinha. Está vivo porque aparece no programa, embora não se saiba bem a data da gravação. Ele falou muito sobre o filme e foi interessante ouvi-lo.

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  3. Em primeiro lugar, uma ovação de 10 minutos, de pé, dirigida ao Zito, imaginemos, na sala do Eden Park.

    Em segundo, para o Adri, a data da gravação que se vê no final do documentário de 67 minutos: 2011.

    Em terceiro, nova ovação para o Zito, desta vez ainda mais generosa, de 15 minutos.

    Em quarto, um braça com fita desaparecida,
    Djack

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  4. Amigos o Anton Puntchinha infelizmente morreu há alguns anos!!

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  5. Os relôgios do Adriano e do Zito estão parados no tempo de Soncente. Se Anton Puntchinha estivesse vivo teria qualquer coisa como 91 ou 92 anos. O galã de Pracinha d'Igreja faleceu diazà na munde!!! (Talvez 10 anos)

    Mas vamos ao Facto de hoje. Apoio e aplaudo a homenagem ao Henrique Pereira, um bom sanvicentino, "nascide e criode". Moço calmo e empreendedor com quem não convivi mas que acompanhei como faziamos naquele tempo e lugar, "naquel cidade sabim ondé qu'tude gente tava conchê tude gente". Jà não era o "Tempe de Caniquinha" que o Sr. Sergio tão bem cantou mas todos devem ser unânimos para dizer que, no fundo, "nôs tude era feliz dente d'pobreza". Tenho saudades daquele tempo e até daquela gente com não tinha tratamento. Se não nos cumprimentavamos, enviavamos um sorriso. E os amigos eram fieis. Agora...
    O tempora ô mores !!!

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  6. Uma observação adicional. O Antone Puntchinha aparece efectivamente na reportagem. Ele aparece várias vezes como prestador de testemunhos sobre as memórias antigas. Ele fala mais particularmente do filme em que participou. Mas se os nomes dos intervenientes não estão legendados na reportagem, como sei se é ele o Antone Puntchinha? É que ele fala na primeira pessoa identificando-se com o actor do filme e explicando algumas cenas.

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  7. Se a gravação é de 2011, como anota o Djack, de duas uma. Ou os testemunhos do Antone Puntchinha foram colhidos nessa data ou então se reportam a tempo anterior, tendo sido neste caso intercalados na reportagem. Na melhor das hipóteses, o Antone terá morrido depois de 2011. Nesta reportagem o Antone aparenta ter uns 87 ou 88 anos. Assim, bate certo quando o Val diz que morreu com 91 ou 92 anos.

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    1. Creio que o filme foi feito em vida do Antón que terá, assim, falecido nesse ano ou, claro, mais tarde...

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