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sábado, 26 de novembro de 2016

[9947] - A MORNA NA HISTÓRIA MARÍTIMA...


“NAVEGADORES RUSSOS E IMPÉRIO COLONIAL PORTUGUÊS”

 “… A primeira viagem de circum-navegação russa foi realizada entre 1803 a 1806 em dois navios: “NADEZHDA” (Esperança) e “NEVA”, sob o comando do almirante Ivan Kruzenshteern (1770-1846). Depois de deixar para trás o Continente Europeu e as ilhas Canárias, os navios russos chegam à ilha de Santa Catarina a 21 Dezembro 1803…”
Porém, para nós o importante é o facto de nesta expedição marítima ter participado Ivan Gontcharov, um dos maiores vultos da literatura russa, autor do romance “Oblomov” que deixou descrições da viagem, nomeadamente da sua passagem pela Madeira e Cabo Verde…”

CABO VERDE 
(Excerto)
“… Em Cabo Verde, Stanivkovictch ficou apaixonado pelas MORNAS cabo-verdianas.
“Um dos oficiais dirigiu-se ao português para pedir que transmitisse à dona da casa que todas lhe pediam que cantasse alguma canção popular negra. Quando o português lhe transmitiu o pedido, todas as mulheres abanaram a cabeça afirmativamente. Elas sussurraram entre si, talvez para escolher a canção. Por fim, decidiram-se. De súbito, os seus rostos fizeram-se sérios; elas apertaram as maçãs do rosto com as mãos e começaram a cantar muito baixinho. Era monótono, extremamente triste e que apertava a alma. Cantavam de forma suprema; as vozes eram jovens e frescas. Nesta canção melancólica ouvia-se lamentos silenciosos e uma tristeza, cheia de resignação… E tudo isso cantado em voz baixa, monocórdica, monótona. E mais lamentos e tristezas sem fim… Nem um som maior, nem uma notinha de protesto! 
Os marinheiros russos sentiram algo conhecido, familiar nessa canção. Faziam involuntariamente recordar as melancólicas canções russas.
As negras cantaram assim durante um quarto de hora e calaram-se. 
– Então, gostaram? – Pergunta o português – amarelo, magro e antipático – olhou, perplexo, para os russos… mas que bárbaros no campo da música; será que gostaram?!
 – Qual a letra da canção? 
-- Revelam queixas estúpidas: queixam-se dos brancos, têm pena dos irmãos escravos é mais ou menos nesse sentido.
Os marinheiros estiveram sentados mais um quarto de hora e saíram, depois de terem pousado num prato uma moeda cada um, como agradecimento pela hospitalidade e o canto…”

In- “Cultura, Espaço e Memória” – Universidades do Porto e do Minho
Trecho: José Milhazes

Colab. Artur Mendes

2 comentários:

  1. Ora, isto é muito curioso. Ficamos a saber que em 1803 a morna, ou a proto morna, já se cantava.

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  2. Faltam 53, para os 10.000.

    Braça contábil,
    Djack

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