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quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

[9993] - OFICIALMENTE... SEGUNDA...


O governo vai introduzir a partir do próximo ano lectivo o ensino do português como língua segunda com o objectivo de fortalecer a língua portuguesa no país, disse hoje a ministra da Educação, Maritza Rosabal.




O Governo vai contar neste processo com o apoio técnico de Portugal, ao abrigo de um acordo de cooperação assinado hoje, na cidade da Praia, pela ministra e pelo vice-presidente do Camões - Instituto da Cooperação e da Língua, Gonçalo Teles Gomes.

Em declarações aos jornalistas no final da cerimónia, Maritza Rosabal apontou a baixa eficiência do sistema de ensino cabo-verdiano e sublinhou a necessidade de atacar este problema.

"A língua portuguesa é abordada como língua primeira de Cabo Verde, quando não é. Temos uma eficácia do sistema muito baixa, em que apenas 44% das crianças que começam o primeiro ano finalizam o 12º em tempo. Temos muitas perdas", disse.

Maritza Rosabal adiantou que entre os alunos cabo-verdianos a capacidade de leitura e interpretação e a proficiência linguística são questões que se colocam "com muita acuidade".

"Toda esta duplicidade linguística afecta o processo. Reconhecemos que a nossa língua materna é o crioulo, mas como língua instrumental de trabalho e de comunicação temos que fortalecer a língua portuguesa", sustentou a ministra.

A responsável assinalou também "algumas dificuldades" de Cabo Verde na inserção no espaço lusófono.

"O Brasil exige provas de língua portuguesa aos nossos estudantes, o instituto Camões exige provas de língua portuguesa o que quer dizer que, apesar de estarmos no espaço lusófono, começamos a não ser reconhecidos como um espaço com proficiência linguística em português", disse.

Por isso, já no próximo ano lectivo, o ensino de português como língua segunda ou língua não materna começará a ser introduzido no ensino pré-escolar (4/5 anos) e no primeiro ano no ensino básico, estendendo-se depois progressivamente aos restantes anos do primeiro ciclo.

Neste momento está em curso, segundo a ministra, a elaboração dos materiais com o apoio do instituto Camões, que irá ainda dar assistência técnica na elaboração de metodologias, programas e desenvolvimento e alteração de currículos.

O protocolo envolve os ministérios da Educação de Cabo Verde e Portugal e o Camões - Instituto da Cooperação e da Língua como entidade financiadora do projecto avaliado em 45 mil euros.

"O Camões será o financiador do protocolo, o ministério da Educação vai disponibilizar um dos seus quadros para vir para Cabo Verde trabalhar com o ministério da Educação cabo-verdiano na área do desenvolvimento curricular e capacitação técnica", explicou Gonçalo Teles Gomes.

(Expresso das Ilhas)

7 comentários:

  1. No meu fraco entendimento, sem uma lingua de comunicação universal - e a portuguesa é a que está mais à mão - os cabo-verdianos ver-se-ão, a breve trecho, submetidos a um gueto linguístco confinado às ilhas pois, fora delas, também o crioulo correrá o risco de perder a sua influência de veículo de comunicação coloquial por excelência! Ou não?!

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  2. Vou ser irónico, mas temos que assumir um facto. A língua portuguesa já não é falada em CV, caiu em desuso.
    Os caboverdianos (tirando uma elite bem colocada e destinada a governar) já não estão à vontade, falando e escrevendo a língua portuguesa
    Parece-me que a Ministra tem razão. Vão ter que ensinar a língua portuguesa à sério nas escolas, como 2ª língua, pois se os caboverdianos não dominarem esta língua estão perdidos no Mundo e isolados no meio do Mar Atlantico.
    Este é um paradoxo, e para um estrangeiro parece um absurdo, uma população de um país dito lusófono C Verde, não dominar a sua língua oficial. Mas este é o resultado das políticas esquizofrénicas que fundamentalistas e esquerditas loucos aplicaram em Cabo Verde durante 40 anos. A elite que manda hoje em C Verde lançou uma campanha descararada e irresponsável contra a língua portuguesa, tentando convencer o zepovinho que a língua portuguesa era colonialista e que oprimia o crioulo, e que esta tinha condições de ser implementada como língua oficial, correndo com a língua portuguesa. Os fundamentalista querem imitar uma luta de libertação à escal da língua. O que é pura asneira um puro non sens. Mas o povo de Cabo Verde é sempre levado em cantigas como carneiro.
    Os caboverdianos agora têm que arcar com as mentiras e as imposturas que os aprendizes de feiticeiro perpetraram. O problema é que a coisa durou tempo demais, 40 anos. Colocar no poder irresponsáveis e incompetentes têm custos exorbitante para qualquer país, quanto mais pobre ou miserável.

    Parece evidente que a fluência em língua portuguesa é uma garantia de sucesso para os jovens caboverdianos neste Mundo Global, em que esta língua passou a ser uma língua internacional. É pois indispensável que os jovens possam competir com outros ( portugueses brasileiros anagolanos etc) no mercado mundial.
    .
    Se tiver por começar por ensinar a língua portuguesa a sério , que seja feito, como 2ª ou 3ª língua, puco importa, pois o esssencial é que ela seja bem ensinada.
    Como todos sabem não sou favorável a que se oficialize o crioulo como língua de ensino, mas nesta questão posso não ter sido politicamente correcto, mas é o que penso.

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  3. "Constat d'échec".
    A lingua era ministrada optiamente por professores com a antiga Quarta Classe de Insttrução Primària. Mais de 40 anos depois vão importar gente capacitada para aprenderem a conjugar o verbo "Haver". Ou serà "a ver"?

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  4. A culpa nem esta' no ensino e nos professores de português. Abandonou-se em Cabo Verde o exercicio da leitura e consequentemente as pessoas perderam o habito de se exercitar em português. Qual foi a politica do Governo neste aspecto: quantas bibliotecas, casas de leituras, intercambio de livros, foram criados em Cabo Verde? Numa cidade como Mindelo que havia vinte m il pessoas nos anos sessenta e hoje vai para além dos oitenta mil pessoas perguntamos: quantas bibliotecas e livrarias foram criadas pelo Governo e os Municipios? E além disso o preço dos livros não esta' ao nivel do cidadão comum. Perdemos os cinemas, os clubes recreativos, perdemos tudo que trazia cultura. A questão é politica e houve um projecto no sentido de eliminar o português em Cabo Verde sem medir as consequencias. Como dizia o poeta Soncent foi transformado num estendal de misérias sociais e também culturais.

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    1. Luiz, no nosso tempo, apesar de falarmos crioulo em casa, entrávamos para a escola primária e não havia qualquer psicodrama com a súbita transição para a língua do ensino. A minha professora era portuguesa no 1º e 2º ano da primária, pelo que não se pode dizer que ela precisou de nuances de linguagem ou de uma linguagem mesclada para nos introduzir no português. Como assim se ela não falava o nosso crioulo?
      E depois, Luiz, com o ti Fefa (Alfredo Brito) aprendemos tudo e mais alguma coisa na admissão, consolidando o trato com a língua portuguesa para que não viéssemos a ter problemas no liceu. No liceu, podíamos ser bons, razoáveis ou maus alunos no português, no sentido meramente escolar, mas todos dominavam o essencial da língua. Alguma vez se teve de falar crioulo nas aulas para que percebêssemos o que o professor transmitia? Nem sequer na escola primária, sendo que, no entanto, o nível da expressão oral do professor na escola primária variava obviamente com as circunstâncias e com o grau das classes.
      Mais, o estranho é que os meninos e os jovens das últimas e actuais gerações têm uma vantagem que nós não tínhamos: a comunicação em português veiculada pelas televisões e pelas rádios com uma frequência e profusão inconcebíveis no nosso tempo. Esta é uma poderosa ferramenta, mas se não está a produzir efeito é porque ela não tem sido suficientemente valorizada.
      Por isso, este problema com o português é um case study a merecer atenção. Mas não haja dúvidas em admitir que por trás disto tudo existiu, e persiste em alguns meios identificados, uma questão de preconceito que se manifesta com o querer suprimir no consciente cabo-verdiano a "língua do colonizador". Falar o português deve trazer para eles reminiscências da servidão, do chicote e da fome de tempos antigos. Falar o português talvez impeça a "descolonização das mentes", expressão que foi utilizada pelo senhor Manuel Veiga quando há anos se pôs em bicos de pés para fazer a apologia do seu ALUPEC.
      Enfim, a culpa foi seguramente de quem teve a insensata e infeliz ideia de politizar a questão da língua quando é sabido que toda a vida e ao longo de séculos sempre conviveu o crioulo com o português.
      Se não houver um arrepiar de caminho, corremos o risco de vir a ficar ao nível dos guineenses da Guiné Equatorial, membros recentes da CPLP, em matéria de desempenho linguístico no idioma oficial dessa comunidade.

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  5. Antes de procurar soluções pragmáticas ou pontuais para suprir insuficiências no uso do português entre os nossos alunos, a meu ver tem de se ir mesmo ao fundo da questão. Sem isso não se vai longe, fica-se por paliativos que não resolvem o problema. É como dar umas aspirinas ao doente quando ele carece de tratamento mais sério e mais profundo.
    O que quero dizer é que o problema da decadência da nossa competência com o português tem causas eminentemente políticas, com o seu cerne no entendimento (de algumas pessoas) de que a cultura cabo-verdiana só atinge o primor da sua autenticidade se se libertar da língua portuguesa. Claro que os teóricos desta aberração não dizem que se tem de enfiar o português no “caizim” (sanitário público junto ao mar) porque não lhes dá jeito, desde logo pelos seus interesses pessoais do ponto de vista editorial. Mas também porque isso seria politicamente incorrecto aos olhos dos nossos parceiros da CPLP. Assim, eles, os presumidos iluminados, agem movidos pela mais perfeita e condenável hipocrisia.
    Pois bem, em minha opinião, ir ao fundo do problema é desmascarar o Manuel Veiga e a sua camarilha e arrumar politicamente com o seu projecto sobre o crioulo. É também voltar a exigir que nas escolas e nas repartições públicas se fale o português. É obviamente banir o crioulo dos debates parlamentares. Claro que é também deixar que o povo se solte livremente com o seu crioulo nas festas de Sanjom, Carnaval e nos festivais da Cavala ou de música.
    Pretender ver na língua portuguesa o colonizador é um insuportável insulto aos cabo-verdianos de gema que me ensinaram o português, em casa ou nas escolas, sendo que nas escolas alguns só tinham a quarta classe, como o saudoso mestre Alfredo de Brito, na admissão. Eram cabo-verdianos livres e cultos no verdadeiro sentido da palavra. E ciosos e conscientes da sua identidade.
    Devo confessar-vos que fico intrigado, mas sobretudo envergonhado como cabo-verdiano, quando vejo angolanos e moçambicanos a meter a nossa gente no chinelo em matéria do uso do português. Ora, não me venham com o argumento da língua materna porque esses nossos irmãos africanos têm também a sua. Tanto em Angola como em Moçambique, como militar convivi com soldados desses países que não tinham mais que a quarta classe e todos percebiam e falavam fluentemente o português. Quando, em formatura, fazia prelecções não tinha um discurso para mandrongos e outro para africanos. Era o mesmo.
    Reafirmo, o problema entre nós é político e a esse nível é que ele tem de ser resolvido. Sem complexos e sem hesitações, sob pena de irmos cada vez mais ficando na última carruagem do progresso. O Manuel Veiga afirmou que o cabo-verdiano tem de "descolonizar a sua mente", quando este problema é, quanto a mim, exclusivamente dele. Ele é que sente o problema, destila o veneno e o procura inocular nas veias dos cabo-verdianos. Ele e os seus correligionários é que têm de passar por uma terapia mental, por uma lavagem de cérebro, porque não têm o direito de impor as suas presunções megalómanas aos cabo-verdianos. O Onésimo Silveira tem razão quando identifica e denuncia uma intenção fundamentalista na política cultural cabo-verdiana.
    Portanto, é bom que a ministra esteja a preocupar-se com a solução casuística do problema do português, mas isso não vai chegar se o viés político não intervier como se impõe e nos moldes que atrás sugeri.

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  6. As ilhas da Martinica e Guadalupe têm também um crioulo oriundo do francês. Aimé Cesaire, um dos mais importantes escritores do mundo negro, fundador da Negritude, foi durante mais de quarenta anos o Presidente da Câmara e da Região da Martinica, nunca exigiu um estatuto especial para o crioulo e para tratar o francês como segunda língua ou língua estrangeira. Frantz Fanon, um dos maiores teóricos da luta anticolonial, também martiniquês e que alimentou o pensamento de Amílcar Cabral, nunca contestou o ensino do francês na Martinica. A Martinica tem bons romancistas em crioulo (ver Cofiant) mas ele coabita bem com o francês e sem entrar em conflito com língua materna ou língua estrangeira. “A língua é o fundamento do Império”, dizia um dos grandes teóricos da colonização espanhola. Os sul-americanos e em especial os índios, que têm as suas línguas, não contestam o espanhol. Isto de pôr o crioulo ao nível do português é um falso debate ou melhor uma perda de tempo. Pode acontecer que os ricos, os dirigentes dos partidos, vão enviar os filhos à escola portuguesa e deixar o crioulo para os pobres e marginais. Estamos a criar um conflito que se poderia ter evitado com estudos profundos e não com nacionalismos baratos e sem qualquer fundamento, como aconselhava o mestre Baltasar Lopes. Impor de maneira ditatorial, seja o K ou outra letra, cria conflitos e a democracia não o permite. Devia-se recomeçar tudo de novo, democraticamente, e encontrar uma melhor via para o crioulo, pois temos uma literatura e, em especial, as mornas que merecem respeito. Será que vão corrigir o crioulo de Eugénio Tavares, B.Leza , Luiz Romano e Manuel de Novas? Ouviu-se também a opinião dos escritores cabo-verdianos a viver em Cabo Verde ou na diáspora? Nada disso! A democracia é antes de tudo uma questão cultural e ninguém se lembrou disso em 1991 quando se pôs termo ao partido único.

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