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sábado, 21 de dezembro de 2013

(6324) - "BEDJE DE NATAL"..



FILOMENA VIEIRA MANDOU UM PRESENTE DE NATAL - UM BEDJE DE NATAL - PARA ALGUNS DE NÓS...PESSOALMENTGE, ACHEI QUE, SENDO NATAL, NÃO DEVIA SER SOVINA E, ANTES,  PARTILHAR O MEU "BEDJE" COM TODOS VÓS...FELIUZ NATAL!

PRESENTE DE NATAL
No olhar perdido
Do menino
Espelha a tristeza
Vida de luta
Que o destino lhe deu
Menino de criação
Menino de recado
Menino de lavoura
Menino pastor
Partiu para longe
Em busca da vida
De sol a sol
E pela noite fora
Quando o breu é mais breu
E o gargalhar das hienas
Ecoa ao longe
Menino triste
De tenra idade
Não sabe ao certo
Há quantas chuvas
Entristeceu!
Apenas sabe
O que a vida ensinou
O temor do chicote
O frio da noite
E a fome constante...
É Natal
E o menino está triste
Não vê as luzes
Nem as guirlandas
Prefere a magia
Do esplendor das estrelas
Fieis companheiras
Das noites sem breu
Amedrontam-lhe os risos
Dos outros passantes
Lembram-lhe hienas
Em noites de breu!
Dá-me um sorriso
Menino tristonho!
É festa
É Natal
Dá cá tua mão
Em troca recebo
Um olhar lacrimoso
Menino tristonho
Deixou de sorrir...
Ofereço-lhe uma bola
E ele diz-me que não!
Dou-lhe um carrinho
E ele diz-me
Não quero!
E um pedaço de pão?
Também me diz não!
Menino triste
Não sabe brincar?
Não joga à bola?
Não quer comer pão?
E ele diz-me que não!
Não quer um presente?
Ai! Ué! Quero sim!
Mas que presente
Menino tristonho?
Quero um presente
Que ninguém pode dar
Quero um afago
De mil abraços
Quero a ternura
De mil venturas
Quero perder-me
No doce regaço
Da minha mãe!
 

6 comentários:

  1. Afago e ternura são gestos que muitos vão precisar neste mundo desumanizado.
    Obrigado Filomena por esta chamada de atenção em relação ao próximo

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  2. Filomena, é assim mesmo que prefiro ver pintado o Menino Jesus. Com cores neorrealistas e não com o lirismo romântico e bacoco que, tenho a certeza, deve merecer total repúdio ao Papa Francisco. A mensagem contida neste poema é intemporal e, para a desgraça da humanidade, é de uma surpreendente actualidade nos dias de hoje. O cenário deixou de ser exclusivamente africano, a escravatura e o chicote já não compõem o sudário de uma exclusiva região deste nosso planeta. Em muitas cidades do mundo ocidental, dito evoluído, encontram-se hoje, com chocante frequência, quadros de idêntica miséria e desprezo pela condição humana. Este menino perdido no tempo e ansioso pelo regaço materno está muito mais próximo de nós do que podemos supor, está nas nossas cidades, nos nossos bairros, nas nossas ruas.
    Portanto, este é o Menino Jesus que prefiro ver centrado nas nossas mensagens natalícias. Não um menino envolto por aura celestial, com estrelas no olhar, mas um menino desgraçadamente real, tão real como a incapacidade humana de conseguir ser melhor do que efectivamente é. Eu, que não sou católico e nem sequer crente, ando confuso comigo mesmo porque afinal de contas o actual chefe hierárquico do mundo católico tem utilizado a mesma matriz de pensamento, e a mesma linguagem chã, que eu uso para exprimir o meu espanto e desgosto pelo flagrante insucesso do ser humano. Mas, ainda bem, e pode ser que este Papa consiga carregar no seu regaço o verdadeiro menino, o dos nossos sonhos.
    É que estamos a atravessar um tempo em que parecem cada vez mais subverter-se os ideais que alguns acreditaram iriam produzir um outro Homem. E o que espanta e intriga é a aparente ausência de contraditório, como se nos deixássemos guiar como carneiros pelas mãos de uma entidade sem rosto e sem alma (o diabo?)em direcção a um precipício.
    Portanto, o tempo não é para pintar os meninos jesus que as beatas de igreja preferem, mas sim meninos jesus que nos alertem para a confusão ideológica e moral em que andamos mergulhados sem nos apercebermos.
    As minhas felicitações por este poema fiel à História do homem, e muito expressivo na sua linguagem.

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  3. Admirador dos escritos da Mena (contos e poemas) vejo esta mensagem que nos mandou com mais força ainda porque me fez viajar no espaço e no tempo. Confesso que não tenho ideia de uma árvore de Natal em minha casa onde punham num canto os brinquedos que nos eram destinados. Depois, na África e em Madagáscar os natais tinham outra estampa que encontro na descrição que a poetisa nos faz neste excelente poesia

    Obrigado por esta surpresa.

    A ti, Mena, e aos teus Familiares, bem como à "Praia de Bote" e a todos os Amigos, crentes ou leigos, comentaristas visíveis ou invisíveis, os meus Votos de Festas Felizes.

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  4. Val, aqui é o "arrozcatum"...A César...

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  5. Agradeço ao Zito Azevedo pela partilha deste Presente de Natal aqui no Arrozcatum.

    Ao José, Adriano e Valdemar o meu obrigada pelos comentários aqui registados. Sei que toquei num tema que tem algo de muito sagrado: a relação mãe-filho(a), visto a importância da mãe nos primeiros anos de uma criança.

    Um abraço a todos.

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  6. Filomena, este espaço é um tanto terra-à-terra, sem pretenções de arauto cultural...Mas, não ignora a qualidade porque a reconhece e a sente e admira os seus cultores..."Arrozcatum" sentir-se-á honrado sempre que queira encantar-nos com a sua voz silenciosa! Obrigado,
    Zito Azevedo

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