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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

(6549) - CURIOSIDADES LINGUÍSTICAS...


Quando regressei de Angola, em 1962, passei um longo período na Ilha Brava, em casa de meus sogros, em Nova Sintra...
Quando, de sociedade com a minha sogra, foi resolvido abrir um bar-restaurante, num sobrado abandonado que pertencia à família, foi necessário fabricar mesas e cadeiras de diversos estilos para diversas funções. Combinámos com o melhor carpinteiro da terra que numa manhã de um certo Domingo faríamos uma reunião para combinarmos tudo o que havia a fazer, ficando ele de trazer uma cadeira, daquelas que abrem e fecham e têm um assento e costas de lona, tipo cadeira de realizador de cinema para se estudar a viabilidade de se fabricarem umas tantas...
Na manhã do Domingo aprazado, já o sol ia alto, e nada de carpinteiro e de cadeira...No dizer de minha sogra - "Nem Jon nem pêxe"...
Achei a expressão engraçada e pedi que me explicassem a sua origem....Parece que tinha nascido, havia já uns bons anos, lá para os lados do Lém, quando D.Quitéria, que vivia com suas três filhas e um moço de recados chamado Jon, mandou o rapaz,  já quase homem,  à Cruz das Almas a comprar peixe, às mulheres que, vindas da Furna, ali faziam poiso para a venda...
Só que, entre o Lém e a Cruz das Almas havia uns tantos botequins onde Jon era conhecido, pela assiduidade e pelo volume dos consumos pois, ao que parece, o fulano de de "cósque mercône"!
Foi passadas horas que D. Quitéria, aflita pela demora e pressionada pelas filhas para servir o almoço, desabafou não poder preparar a refeição pois "câ tinha nem Jon, nem pêxe"!!!
A expressão parece ter entrado no léxico comum sendo utilizada sempre que um determinado facto demorava tempo de mais para ocorrer...Não sei se conseguiu sobreviver aos mais de 50 anos que entretanto se passaram mas, pelo menos, a minha mulher ainda usa a expressão com alguma regularidade...

2 comentários:

  1. Esta expressão não conhecia até porque parece restringir-se à ilha Brava. Isto prova a variedade que existe em Cabo Verde ao nível da expressão linguística. Foi interessante recordar esta expressão, Zito.

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  2. E quantos exemplos deste tipo haverá por aí a cobrirem-se do pó do desinteresse?!

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