…” A Ilha de S. Vicente é, há muitos anos, sede de uma poderosa e vasta estação de telegrafia por cabos submarinos, pertencentes à companhia inglesa “Western Telegraph Co.”.
A Estação liga-se, por meio de uma vasta rede de cabos, à Europa, à América e à África. Em virtude da sua situação natural, por ela transitam a maioria dos telegramas que circulam entre esses três continentes, dando por isso um rendimento colossal à companhia, pagando esta ao Estado, determinadas taxas, prefixadas em contratos que pelo seu volume, constituiriam sempre um valioso rendimento.
Na legislação portuguesa, está claramente consignado, desde 1914, que 50% desse rendimento pertencem à Colónia e o restante à Metrópole, mas devido à intervenção inoportuna, ilegal, despótica e cheia de sofismas da Administração Geral dos Correios e Telégrafos da Metrópole, nada ou quase nada Cabo Verde recebera até há poucos meses, desse caudaloso rendimento, porque aquela administração, aproveitando-se da sua antiga situação de intermediária com a companhia inglesa, se tem locupletado com o total dos rendimentos”…
Apesar dos protestos e das reclamações de ministros, governantes, senadores e deputados; apesar de todas as diligências levadas a cabo por quem de direito para resolver esse conflito, fazendo entrega à Colónia o que lhe pertencia; apesar de Cabo Verde ter suportado nos últimos anos, desde 1919, uma pavorosa crise, vendo morrer de fome, aos milhares, os seus filhos, tendo até de recorrer à Caridade pública, exausto como estava de recursos e cheio de miséria, a Administração Geral dos Correios e Telégrafos, entrincheirada no seu egoísmo e na sua arrogância resistiu durante muitos e muitos anos a todas as solicitações e a todos os protestos, assistindo indiferente e insensível às cruciantes misérias e sofrimentos que assolavam Cabo Verde”…
Viriato da Fonseca
Gazeta das Colónias -- 1924
Pesquisa de A.Mendes
Patifarias, houve-as sempre em todo o lado!... Mas eu prefiro apreciar aquele "pliça" impecavelmente fardado, com o seu quépi om lenço atrás, à legionário francês e a estranhíssima árvore que nasceu aparentemente de modo clandestino junto ao tanque da Praça Nova. Conheço de há muito este postal, do qual tenho outras duas versões (1905-1906) e gostaria que os comentaristas de serviço falassem da relação espacial do coreto com os casões da Companhia. Parece que há algo a dizer.
ResponderEliminarBraça inquisitiva,
Djack
Era "seu quépi com lenço atrás", gralha em "com". Embora se perceba, gralhas devem ser sempre emendadas.
ResponderEliminarA Lei dos 50% foi, a muito custo, aprovada (1914) graças à tenacidade do Senador Vera Cruz e foi também pela sua luta. junto das diversas instâncias do poder metropolitano, que o Arquipélago (1919) começou a ser ressarcido do "roubo"...
ResponderEliminarO assunto é demasiado sério para "gozo"... Se o acordo (Lei) tivesse sido cumprido, não há dúvida que, a "Colónia" teria obviado em muito as "misérias" por que passava e invertido o rumo do sob desenvolvimento...
ResponderEliminarAs palavras são minhas, mal alinhavadas sei, mas derivam da conclusão de vários historiadores...
O amendes diz muito bem, o assunto é sério demais para ser tratado com ligeireza. Sendo o autor o Viriato Nunes da Fonseca, oficial de artilharia natural de Cabo Verde, resta saber se o texto é de um artigo ou excerto de uma das suas intervenções como deputado durante a I República. O Viriato foi efectivamente deputado enquanto oficial do exército (naquele tempo era possível), por um dos partidos.
ResponderEliminarMuitas vezes se tenta identificar com o Salazarismo o abandono a que Cabo Verde foi votado pela administração central portuguesa nos períodos mais críticos das secas e das fomes. Mas não, a República, ou seja, a democracia, não fez qualquer diferença.
Caro Adriano Lima
ResponderEliminarObrigado pelas suas palavras.
Se quiser, nos seus tempos livres, dar uma espiadela e leitura de vários artigos e intervenções do autor e outros ( Sanador Vera Cruz, por exemplo, pode pesquisar em :
Hemeroteca Digital Municipal de Lisboa -- em Títulos: - Gazeta Colonial / para índice de assuntos basta clicar HTML.
Boa leitura,.
Nota: Encontra uma interessante e curiosa discrição sobre a intervenção cabo-verdiana na Guiné Bissau. sobre
Vou falar dos dois edificios que estão na foto que foram construidos desde o inicio da Western. o da esquerda constituia duas esplêndidas moradias para o Chefe (Supervisor) e o Sub-Chefe e o a seguir era a Casa Velha(*) onde se encontravam o grande salão de jantar (messe), o bar; o cine-teatro e o "store" com as preciosidades que faziam vir da Grã Bretanha (bebidas, chocolates, etc.) Estas construções - anti sismicas - não foram aproveitas, infelizmente.
ResponderEliminar(*) Casa Nova era o belissimo edificio que onde moravam os solteiros. Depois da Independência foi, durante algum tempo, os Correios
Parece que o protesto publicado por Viriato da Fonseca foi ouvido : no início do ano seguinte (1925), o Ministerio das Colonias recebeu do Ministerio das Finanças a quantia de 1800 contos a partir das taxas telegraficas de Cabo Verde. Falta só saber se o Ministerio das Colonias enviou esse dinheiro para o arquipélago...
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