Adriano M. Lima |
Teríamos de ser bruxos para saber o que vai realmente na cabeça dos promotores da cimeira sobre a regionalização. O facto de terem ignorado pura e simplesmente o pessoal da diáspora que sempre se interessou e opinou sobre o tema, publicando artigos e manifestos e até um livro, tem que se lhe diga. É uma atitude que contrasta ruidosamente com o convite feito a pessoas que sempre preferiram estar à margem da intervenção cívica, em que o exemplo mais flagrante é o Germano Almeida, entre outros como ele.
Esta omissão pode explicar-se de um ponto de vista político mas julgo que pertence mais ao domínio da psicanálise. Em todo o caso, as motivações políticas, sobretudo no que elas têm de sombrio e negativo, pertencem à fenomenologia da mente, daí deverem ser analisadas também no campo psicanalítico.
Isto tudo só para concluir que o actual poder político deve detestar à brava o pessoal da diáspora que agitou o pântano com a questão da regionalização. Se fosse noutros tempos e vivêssemos nós em Cabo Verde, estou convencido de que teríamos a polícia política à perna. Como eles hoje não a têm, condenam-nos ao ostracismo. O que me parece ainda muito mais estranho é não demonstrarem um mínimo de consideração cívica pela pessoa do Arsénio de Pina, um cidadão condecorado por relevantes serviços prestados ao país, um cidadão com rasgados conhecimentos e larga experiência de vida em diversos domínios, um cidadão que desde a primeira hora, e muito antes de nós, publicou um grande acervo de artigos e obras literárias de interesse e pertinência sobre vários domínios da vida cabo-verdiana. Incluo igualmente o Luiz Silva nesta inexplicável omissão, pela similitude do seu empenho cívico e militância em prol dos assuntos de Cabo Verde, designadamente a temática da emigração. Portanto, são dois cidadãos que pelo seu passado cívico no pós-independência não podiam ser ignorados nesta hora de debater um assunto de magna importância para o país e sobre o qual muito se manifestaram e se vêm empenhando.
Portanto, semelhante ostracismo tem o significado de uma retaliação ou silenciamento de vozes que são incómodas só porque opinam e discordam do discurso oficial. Isso é sintoma de mentalidade antidemocrática e vileza de carácter. Não haja receio de chamar os bois pelo nome.
Ora, o Germano foi convidado precisamente porque, como é sabido, tem sido omisso e ausente sobre a matéria em causa, condição que o governo talvez eleja como essencial para direccionar os seus convites, na presunção de que dos timoratos nada virá que contrarie a ideia oficial já assumida sobre descentralização política/regionalização: pequenos retoques de cosmética para deixar tudo na mesma.
INDA SOBRE AS RAZÕES DA EXCLUSÃO DA DIÁSPORA (MINHA ANÁLISE PESSOAL)
ResponderEliminarAdriano Miranda Lima tentou perceber a razão da exclusão da Diáspora que ele atribui a questões de foro psicológico. Eu vou mais longe digo que há uma desconfiança em relação à Diáspora e à Emigração e de todos o que vivem no estrangeiro (há dor de cotovelo ciume racismo etc), confirmando as teses do amigo Luiz Silva que tem reflectido sobre a questão política da exclusão da Diáspora e da Emigração que ascende à Independência quando antes era incentivado: o governo colonial incentivava o investimento dos emigrante em CV, como atestam a Avenida da Holanda e a Zona do Monte Sossego em S. Vicente desenvolvidas graças aos investimentos de emigrantes e ao apoio à emigração dos familiares para Holanda, quando se constatou que as políticas ruinosas que estavam a ser levadas a cabo em CV só afugentavam os emigrantes da sua terra natal. Os emigrantes pura e simplesmente retraíram-se e começaram a levar as suas famílias para fora de CV . Em 74/75 criou-se a mentalidade de citadela sitiada que ferozes emigrantes reaccionário poderiam por em causa o regime, pois estavam infiltrados por reaccionários e catchor de Dos Pés'. A partir daí a desconfiança foi instilada no sistema que sabia que destabilização ao regime de partido único viria do estrangeiro , e foi o que aconteceu . Acresce o facto que muita gente qualificada, também qualificada pela paranóia ambiente de inimiga, foi expulsa de CV manu-militari refugiou-se no estrangeiro. Portanto convinha ostracizar tudo o que vinha de fora a ameaçar ao Statu-Quo. Acresce ainda o facto que as denúncias crescente do centralismo e da ostracização do Norte de Cabo Verde toma forma musculada no estrangeiro. O regime e o sistema arrogante, mas na realidade frágeis que confia cada vez menos nele mesmo, e desconfiantes, deslegitimados agora com a contestação nas ruas, não perdoa que mindelenses da diáspora tenham tido a ousadia de criar um Movimento com ramificações em CV e que contesta o sistema actual em vigor em CV, e a pior infâmia põe em causa o estatuto de ilhas/regiões Melhor Filha de CV e que propõe reformas profundas. A fragilidade deste regime e deste sistema é óbvio. Este sistema regime é composto por cacos da implosão do PAIGC/CV/MPD a nova guarda e jovens turcos que subiram em CV muitos através da JACV e intrigas partidárias e manhenteza. Muitos deles têm pouca experiência profissional. Assim o fecho desta conferência a aparatchiks e pessoas que vivem do sistema, outras que podem trazer apoios políticos e gente da elite essencialmente originária da ilha de Santiago é evidente e compreensível mas outra prova da fraqueza. Estão-se a proteger uns aos outros e não querem pessoas que venham estragar a festa. Bom eu no que me concerne não tenho 'manha'. Nunca dependi em nada de CV para a minha sobrevivência e formação e não mendigo. Vivo de cabeça erguida !!!!
José F Lopes
Peço desculpas em não aparecer (deixar comentàrios)) aqui pois tenho andado atarefado por outros lados que bem merece(ra)m visitas e opiniões, embora em alguns lugares a censura tenha actuado de forma sistemàtica, confundindo o desepero com a mà criação (?) ou executando determinações superiores.
ResponderEliminarEstà provado que o Governo nada quer com a Diàspora e não pretende tomar em consideração seja o que for para qualquer mudança que possa prejudicar o seu organigrama arcaico, vicioso e maldoso.
A esperança que nos resta é que aqueles, que tiveram a ideia de sair à rua para deixar sair o grito de revolta, voltem a manifestar o seu descontentamento por mais este entrave e, sobretudo, pelo pior que està para vir.