Nascido em Chã de Cemitério, chamava-se Manuel da Fonseca Semedo mas era apenas conhecido pelo nominha de Naise d'Tcham. Um divórcio litigioso, a falência da empresa, um desastre de automóvel na estrada da Baía das Gatas que lhe destruiu a viatura e o deixou coxo, para além de um sem número de outras desgraças, fizeram-no num dia pensar em suicídio. E se bem o pensou, melhor o tentou.
Comprou uma pistola de contrabando a um facínora da Ribeira Bote, sentou-se na sua cadeira de baloiço, apontou à têmpora direita e pum... qual pum, qual nada, a pistola era manhosa e encravou de tal modo que por mais tentativas que fizesse nenhuma bala saiu. Verificou depois que elas eram de salva e que tinha sido enganado não uma mas duas vezes.
Naise comprou então uma faca de mato a um marginal que costumava parar no cais acostável. Chegado a casa, lançou-a de encontro à barriga com tamanha violência que a ponta da lâmina colidiu coma fivela do cinto e partiu-se sem remédio.
Em desespero de causa, foi à Casa Gaspar, onde adquiriu uma corda de nylon da melhor qualidade. Esperou pela noite, passou-a por cima de um ramo da acácia que se erguia fronteira à sua residência, meteu a cabeça no nó previamente feito e puxou do outro lado. Pimba, Naise na tchom, fazendo honra ao seu nominha. Tinha-se partido o único ramo possível da árvore, já que os outros eram fraquitos e teve de desistir porque por perto não havia outra.
No outro dia, logo de manhã, dirigiu-se à morada disposto a atirar-se do topo do cais acostável, esperando ter a sorte de ser devorado por um tubarão ou pelo menos morrer afogado. Quando passou pela Rua de Lisboa, ouviu o Tchuna do Café Royal chamá-lo em altos gritos: "Ó Naise, ó Naise, anda cá rapaz, ganhaste o 1.º prémio da lotaria, tens a receber pelo menos uns 80.000 contos". O Naise caiu redondo no chão com um ataque cardíaco fulminante e hoje reside no dezoite dôs ote numa campa perto da da Cesária.
(Adaptação de Joaquim Djack)
Ah!ah!ah!... azares de um suicida falhado. Não sei porque o bom humor dos mindelenses, frequentadores deste ponto de encontro ainda não comentou este texto, portador aliás, dos "ingredientes" típicos da boa graça sãovicentina! Então? ...comentem e contem outras similares. Desafio-vos.
ResponderEliminarO meu lado do Fogo fala um pouco mais alto para estas coisas e lá, os suicídios eram algo sério! daí que não se brincasse muito com o voluntário pôr termo à vida.
Ri-me muito com o texto do Joaquim Jack...
Abraços
Ondina
O humor negro também faz parte da natureza pícara da nossa gente. Este estória contada pelo Djack é digna de registo e demonstra que ele soube beber a água do Madeiral.
ResponderEliminarQuem diria que esta anedota que conheço há um ror de anos e agora estiquei adaptando-a ao Mindelo, ainda iria ter honra de post no Arrozcatum. Por outro lado, pobre Naise d'Tcham, mas quem o mandou jogar na lotaria?
ResponderEliminarBraça desgraçóde,
Djack
Só o Joaquim Djack para nos fazer rir neste domingo Ventoso em São Vicente
ResponderEliminarUm Braço
Nunca ouvi esta estorinha que "nasceu" depois da minha saida de SonCente visto que deixei Nhô Claude no Café Royal com a estrutura que montou: Royal e seus divertimentos e o Royalzinho para quem jà sabem.
ResponderEliminarGostei imenso e tive um pensamento para o Sr. Sergio Frusoni e para seus "sketch"s" que aproveitei.
O Mnine de Ponta de Praia encontrou inspiração onde o italo-verdeano encontrava as suas novelas.
Merci Mr. Djack