É sabido que Nhô Djunga, Djunga fotógrafo ou João Cleofas Martins, era danado por pregar partidas e são célebres as suas pirraças que, normalmente, tinham como alvo Nhô Tchintchim, um homem bom mas demasiado crédulo que, portanto, se prestava às mil maravilhas para as congeminações humorísticas do Djunga. Aliás, ficaram na história mãos cheias de situações anedóticas ocorridas por altura das muitas partidas de bisca que frequentemente se desenrolavam na sala da casa do fotógrafo, à rua Senador Vera-Cruz...Foi, precisamente, a meio da tarde de uma dessas sessões de bisca que o Tchintchim subitamente interrompdeu o jogo e exclamou:
- Ó Djunga, desculpa mas temos que ficar por aqui...Imagina que já me esquecia que tenho ir à Casa do Leão, comprar umas coisas para o meu rapaz...
- Mas vais comprar o quê, homem, que não possas comprar amanhã?!
- Não pode ser, Djunga: são pincéis de aguarela para a aula de desenho do Liceu, amanhã de manhã!...
- Ah! Pincéis de aguarela?
- Sim, Djunga, tenho que adquirir três ou quatro, de diferentes tamanhos...
- Está bem, homem, já percebi...Mas olha, Tchintchim que ouvi dizer que na Casa Serradas há uns pincéis de aguarela do melhor que há, a muito bom preço...
- Ah sim? E achas que devo ir lá?
- Claro, homem, claro! Mas olha: fala com o Jorge Silva, que ele é que é entendido nessas coisas escolares e recomenda que só queres pincéis de pelo de marta, que são os melhores, ouviste?!
- Está bem, Djunga, está bem...Pincéis de pelo de marta, não é?
- Pois, pois, não te esqueças: pelo de marta...
Claro que, como era de esperar, a coisa deu para o torto pois o pobre do Jorge Silva era muito boa pessoa mas saltava-lhe a tampa com enorme facilidade e se o não têm agarrado, tinha-se atirado ao pobre do Tchintchim, com unhas e dentes...
É que o Djunga tinha omitido, na sua recomendação, que a Casa Serradas não vendia pincéis de aguarela, e que a mulher do Jorge Silva se chamava...Marta!
História divertidíssima, da lavra de uma das figuras mais genuínas do Mindelo.
ResponderEliminarBraça a rir,
Djack
Djunga tinha um espírito invulgar...As suas pirraças nunca tinham a intenção de ofender os amigos com quem partilhava as suas partidas de repentista que urdia, na hora, as teias das paródias em que envolvia os mais crédulos...Tenho, do Djunga, a saudade que teria de um irmão mais velho, que não tive e muitas vezes desejei...
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