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quinta-feira, 21 de março de 2013

ERA UMA VEZ, ANGOLA...


Foram necessários dez minutos para o irlandês tomar um duche e aparecer, de novo, em  chinelos e envergando a camisola sem mangas mais vermelha que eu jámais vira...Sobraçava a sua "bottle" de cem gaiteiros e já trazia um charuto acêso entre os dentes meio cinzentos...
O Mário Matos tinha já contado que, quando apareceu pela primeira vez, e lhe perguntaram como queria ele o seu whisky, ele terá dito "...with water - two fingers of each!", enquanto com a mão direito, esticando, unidos, o indicador e o anular, dizia "two fingers of water" e, a seguir e estendendo o indicador e o mínimo explicava "two fingers of whisky", e soltava uma sonora gargalhada!
Esta dos "dois dedos de cada" tornou-se célebre, nos anais dos bebedores de whisky e outros destilados mais ou menos britânicos...
Havia três mesas postas para seis pessoas, cada e a cerveja Cuca, o vinho verde Casal Garcia e a laranjada Canada Dry, tudo irrepreensivelmente ultra-congelado começava a animar a malta enquanto as colheres de pau mergulhavam nos tachos de barro onde, desde manhã cedo, cozia em fogo lento, como convém, a caldeirada que, afinal, era de cabritinhos (2) domésticos...


Foi a minha primeira, de muitas, até hoje, e fiquei imediatamente "tifoso"...Disseram-me que, no mato - ou seja longe dos centros urbanos - esta caldeirada se faz de forma um tanto rústica. Batatas, cebolas e tomates são cortados aos quatros; o cabrito em pedaços generosos, malaguetas (gindungo), alhos, folhas de louro, pimenta, sal, azeite e vinho branco (seco e de boa qualidade)...Depois de tudo arrumado no tacho em camadas sucessivas, tapa-se bem e vai a cozer em lume brando...Quando começar a cheirar, pode estar certo que a caldeirada está pronta mas, antes disso, jamais se deve abrir o tacho nem mexer o conteúdo...Por isso, é preciso ter experiência em termos das proporções de todos os ingredientes para evitar que fique com molho a menos e possa pegar no fundo...Pode parecer que é feito "à balda" mas tem os seus segredos...Um deles, é um cálice de Vinho do Porto, antes de tapar a panela...

2 comentários:

  1. Chama-se a esta converseta aqui de cima, "Meter 'veneno' no espírito - ou, melhor dizendo, nas glândulas salivares"...

    É preciso ser muito tramado para fezer isto ao pessoal leitor. Safa...

    Braça babando-se,
    Djack

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  2. Sem malévolas intenções, devo dizer-lhe que uma boa caldeirada de cabrito à angolana é coisa de a gente se babar!

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