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sábado, 22 de fevereiro de 2014

(6559) - CRIOULOS EUROPEUS FAMOSOS...[1]


“Aos negros ... é permitido casar não apenas entre eles, mas também com gente de outra cor. Esses cruzamentos tornaram o país repleto dos mais diferentes exemplares de mostrengos humanos. Um branco e um negro geram um mulato. O mulato une-se então a um negro ou a um branco, e com isso formam mais duas variantes chamadas mestiços. Esses mestiços de branco então unem-se a mestiços de negros ou brancos, ou mulatos; e assim, são tantos os ramos em que se desdobram com tais cruzamentos, que se torna difícil distingui-los com designações exactas, embora sejam facilmente identificáveis no geral pelos seus tons de pele.”
A descrição não corresponde a nenhuma ilha de Cabo Verde ou outro território crioulo colonizado no pós-Descobrimentos, mas sim ao Portugal de setecentos e foi retirada da obra do Reverendo inglês Dr. John Trusler datada de 1747, onde ele condensou depoimentos de vários viajantes estrangeiros.
O autor continua: “a raça portuguesa de origem foi por tal forma degradada que ser um Blanco, isto é um branco de verdade, tornou-se título honorífico: e assim, quando um português diz que é Blanco, não quer dizer que a sua pele o seja, mas apenas que se trata de uma pessoa de família de certa importância”. Afinal de contas, a expressão cabo-verdiana djam brancu dja (já me tornei branco, porque já tenho posses) tem antepassados longínquos na ex-Metrópole!
Era assim em toda a Península Ibérica como descreve outro viajante inglês, Richard Twiss, que depois de passar por Lisboa em 1772/73, cidade onde segundo ele “um quinto dos seus habitantes era composta de pretos, mulatos e de várias nuances entre o branco e o preto”, copiou em Málaga, Espanha, dezasseis legendas de painés que mostravam diferentes tipos de mestiços: mulato, cruzamento de branco espanhol com negro; morisco, espanhol com mulata; alvino, morisco com espanhol; lobo, negro com índio; sambaigo, lobo com índio; cambujo, sambaigo com mulato; albarassado, cambujo com mulato; barzino, albarassado com mulato; negro de cabelo liso, barzino com mulato. Convenhamos que em termos de denominação das “novas” castas crioulas, os espanhóis conseguiram ser mais sofisticados que os portugueses...
Estas notas retiradas do livro “Os Negros em Portugal – uma presença silenciosa” do brasileiro José Ramos Tinhorão dão que pensar em relação à origem da conhecida expressão de que “a África começa nos Pirinéus”...muito utilizada por outros povos europeus para designar de forma depreciativa os povos ibéricos.
A criação do mulato e o poço dos negros
 
A criação do mulato pelos portugueses é um fetiche que o lado macho da sociedade lusitana gosta de entreter, numa exaltação fálica e masculina, esquecendo-se que muitos mulatos eram filhos de mulheres brancas e homens negros, situação normalmente não mencionada. A própria palavra mulato deriva do termo mula, ou seja um híbrido entre cavalo e jumenta ou égua e burro. Outras fontes acham que deriva da palavra árabe “mwallad” que significa a mistura de árabes com não-árabes, quaisquer das origens igualmente pejorativas.
O poço dos negros contruído em 1551 em Lisboa pelo Rei D. Manuel – era o buraco “o mais fundo que pudesse ser, no lugar que fosse mais convinhável e de menos imconvinyente, no qual se llãçassem os dito escrauos” e onde se devia jogar regularmente cal virgem, “pera se milhor se gastarem os corpos...”. As manchas negras da sociedade deveriam ser apagadas e escondidas da História com cal branca, nada mais simbólico!
Uma coisa é exaltar os mulatos feitos além-mar, outra coisa bem diferente é reconhecer essa mesma “mulatagem” dentro de portas.
 
CONTINUA

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