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quarta-feira, 25 de junho de 2014

[7071] - S.VICENTE - EVOLUÇÃO SOCIAL...

 
” Depois das primeiras experiências realizadas na Praia, a capital da Colónia, na primeira década do século XX, foi mesmo em Mindelo que se inaugurou o primeiro cinema de Cabo Verde, em 1919. A grande sala, que, permaneceu na história do país e na memória de muitos caboverdianos, abriu as suas portas em 1922, o Éden-Park.
Como era comum em muitos países, o cinema transformou-se rapidamente em um “salão de novidades”: além da projeção de filmes, no Éden-Park eram realizadas exibições de teatro, conferências (entre as quais as de importantes intelectuais locais, como Baltazar Lopes e os envolvidos na revista Claridade), reuniões políticas, actividades circenses, espectáculos musicais, bailes de carnaval, demonstrações de ginástica, entre outros eventos.
…” Se o Éden ocupou espaço de importância, a vida festiva era certamente mais ampla. Em Mindelo, que passava por reformas urbanas e iniciativas de embelezamento, a chegada da luz elétrica em 1929 permitiu a diversificação das práticas de diversão, notadamente as noturnas. Em 1930, foi construído um edifício para o ensaio da banda municipal, foi inaugurado o Estádio da Fontinha e foram realizadas as primeiras corridas de automóveis/gincanas automobilísticas na praia da baía das Gatas (provas essas repetidas com certa frequência). Nesse mesmo ano, foi estabelecido o descanso semanal aos Domingos!
…” Em S. Vicente, destacava-se ainda o grande número de actividades carnavalescas, até hoje uma das marcas mais conhecidas dessa ilha. Pelos jornais, vemos propagandas e comentários dos bailes oferecidos no Grupo Cruzeiro, no Belo Horizonte Nacional, no Flôr do Oriente, no Fichismo, no Marcaridu, no New Island Star, no Flôr do Atlântico, no Souza Cruz, no Monumental, no Grémio Caboverdiano, no Éden-Park…”
…” Os clubes desportivos já existiam em bom número, contribuíam com ar de festividade tanto por suas actividades cotidianas quanto por suas comemorações. Bons exemplos foram os festejos do 14º. Aniversário do Castilho (realizados em Março de 1937) e a entrega de faixas à equipa de futebol do Mindelense, vencedora do campeonato de S. Vicente em 1941…”
…” Os periódicos, por sua vez, passaram com mais frequência a abrir espaço para as novidades desportivas. O Noticias de Cabo Verde, lançado em 1933, desde as primeiras edições exibia uma coluna inteiramente dedicada ao tema; em 1940, criou um suplemento de duas páginas. Essa experiência levou ao lançamento do primeiro jornal desportivo da colonia, em Dezembro de 1944: o Goal. Os responsáveis por essas iniciativas foram dois importantes personagens da história do arquipélago: Evandro de Matos, o Evandrita, e Joaquim Ribeiro.
…”Ribeiro foi, aliás, um dos homens que melhor expressou os novos tempos marcados por uma vida pública mais intensa. De família cabo-verdiana, embora tenha nascido na Guiné, viveu parte da infância e da adolescência em S. Vicente e em Portugal, tendo sido designado, quando retornou à ilha, professor de ginástica do Liceu Gil Eanes…” Jogador de futebol e atleta de diversas modalidades, Ribeiro foi membro de vários clubes, além de dirigente de federações desportivas. Envolvido com muitas iniciativas politicas e culturais, actuante em vários periódicos, ficou também conhecido por ser galanteador…” Foi ainda um dos pioneiros da aviação em Cabo Verde…”
…” Diante do avanço das vivências públicas de lazer, o governo metropolitano tomou iniciativas diversas. Em algumas oportunidades, estimulou certas práticas. Por exemplo, em 1934, baixou os impostos e criou privilégios para manter abertos os teatros. As acções de restrição, contudo, foram em maior número: o uso dos balneários passou a ser mais bem regulamentado e as actividades musicais que tanto agradavam à população sofreram interferências significativas, especialmente em Mindelo, onde certamente se delineava uma musicalidade própria”…
…” Obrigatoriedade de pedido de licença para a realização de bailes, aumento de impostos para a promoção dessas actividades, tentativa de acabar com a banda de música – essas decisões desencadearam uma onda de protestos dos “munícipes que se viram assim privados de um divertimento muito apreciável em terras de África. Protestamos com os munícipes contra tão estranha medida” (Noticiário) 15.07.33 p.1)…
…” O ECO de Cabo Verde ecoava críticas populares: Por acabar com este lenitivo do povo que aos domingos se reunia na Praça Nova para se esquecer do quadro pungente que tem em casa? (Noticiário) 22 dezembro 1934 p.3).
Para o periódico:” Estamos sob regime de terror. Pobre povo! Não podes folgar! Não podes esquecer os teus males que são cotidianos! (Noticiário, 15.7. 1933, p.7)
…” De um lado, uma intensa vida festiva e o estímulo à busca da excitabilidade; de outro, o excesso de trabalho para pessoas das camadas populares e as iniciativas de controlo do tempo livre. Nesse quadro de ambiguidades, foram organizados dois significativos movimentos juvenis que tinham a saúde como uma das preocupações centrais e as actividades físicas como estratégia fundamental: o escotismo e os Falcões” …

In U. Rio de janeiro/Estudos Sociais
Pesquiza de A.Mendes

2 comentários:

  1. S. Vicente era efectivamente a capital do território do ponto de vista económico, social e cultural.

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