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domingo, 14 de setembro de 2014

[7407] -. ERA UMA VEZ, ANGOLA...(43)


Aqueles malditos 250 quilómetros, entre Vila Teixeira de Sousa e Cazombo, por estradas e picadas mal conservadas, no banco traseiro de um Jeep Willis, para mim, que tinha sido operado a um quisto coccígeo, foram um autêntico suplício, apenas amenizado pela pormenorizada narrativa de D. África Agripina, aqui e ali salpicada de risadinhas mais ou menos despropositadas...Fizemos a paragem da ordem em Nana-Candundo, ao princípio da tarde e ainda demos boleia ao enfermeiro Calisto, cuja abundante barba lhe havia granjeado o cognome de "Cauêvo" - barbudo, em língua luena...O corpulento funcionário ainda me acentuou mais o desconforto do resto da viagem, felizmente, a mais curta das etapas desta autêntica prova de corta-mato... 
A chegada a Cazombo, à porta da pensão do Mário Matos foi quase apoteótica, graças à presença do Simões de Abreu, exuberantíssimo no seu terceiro "on-the-rocks" da tarde, atirando para a atmosfera espessas baforadas do odorífero fumo do seu cubano, remanescente da ultima visita a Cazombo daquele nosso amigo sul-africano, amante das caldeiradas de cabrito!
Depois dos primeiros segundos da eufórica recepção, já eu estava na casa de banho, improvisando uma espécie de banho de semicúpio que me aliviasse das dores de mais de duzentos quilómetros de solavancos, enquanto saboreava uma loiríssima Cuca, a temperatura polar e respirava, profundamente, para aliviar o "stress"...No meio da modorra que começava a invadir-me, dei-me conta de que estava com uma fome danada e, inconscientemente - ou talvez não - pensei que seriam ouro sobre azul, para o jantar, uns bifinhos de Nunce com batata doce frita e, talvez, uma canjinha de Pombo Verde!



Arrozcatum 5594 - 13.07.2013

Continua...

5 comentários:

  1. Estas evocações da "África nossa" têm um efeito balsâmico sobre o espírito. Quando digo "África nossa" quero referir-me a essa África imensa, virgem, misteriosa e sedutora que passa a ser pertença também de quem nela deixa o coração cativo. Escrever sobre ela como faz o Zito é próprio de alguém que ainda hoje não se refez do encantamento.
    Tenho algumas boas recordações de Angola e Moçambique (da terra profunda), apesar das circunstâncias pouco favoráveis que me levaram até lá.

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  2. Como sempre é um prazer ler aquilo que escreves e com tanta arte.
    Um beijinho

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  3. Como sempre é um prazer ler aquilo que escreves com tanta arte.
    Um beijinho

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  4. A África exerce sobre nós uma atracção dificil de definir e muito menos, de explicar...É algo parecido com o chamado "amor platónico", consubstanciado nos horizontes a perder da vista, às paisagens virgens e magestosas, às gentes simples com hábitos e costumes inimagináveis, ao lento fluir do tempo com o sol dardejando sobre a terra fértil, o aroma intrigante das florestas, com a sua fauna tão diversificada e tão bela de formas e movimentos, um espectáculo todos os dias repetido e todas os dias admirado como da primeira vez...Não admira, pois, que a Humanidade ali tenha tido a sua origem!
    Obrigado pela V. presença e pelas V. palavras!
    Braça
    Zito

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