A nossa amiga Nouredini (Heide Oliveira) de Salvador da Bahia, Brasil, respondeu ao meu desafio feito em comentário ao post anterior sobre o problema do estatuto e do futuro dos contratados e seus descendentes cabo-verdianos que hoje sobrevivem em S.Tomé e Principe em condições degradantes...Recebi dela o seguinte mail:
Caro amigo,
creio que podemos partir deste planejamento estratégico existente para o período de 2012-16 e desta avaliação feita. Neles são citados locais, agências e fundos internacionais vinculados à ONU envolvidos com o desenvolvimento.
Não os consegui traduzidos, mas porque conheço a estrutura deste tipo de documentos, creio que uma boa contextualização feita pelos nossos amigos historiadores, somada aos dados sócio-econômicos e das justificativas encontradas nos textos teremos como avançar numa proposta a várias mãos.
Sugiro criarmos um grupo de trabalho... O que acha?
Abraços
Os documentos a que ela se refere, são:
"Groupe de la Banque Africaine de Developpment"
Republique Democratique de Sao Tome et Principe
Document de Strategie-Pays (DSP) 2012 - 2016
Departement Régional-Ouest II (ORWB) - Juin 2012
U.N.D.P.~
Unite Nations Program for the Development of
São Tomé and Principe
Final External Evaluation Report
Project "Strengthening Leaderships"
August 2011
Globus - Consultoria
Consultor - Dilson Tiny
Fico, agora, a aguardar as reacções dos habituais e muitos outros visitantes deste espaço, na certeza de que é forçoso que alguma coisa se faça no sentido de devolver a esses cidadãos alguma da dignidade de foram espoliados a coberto de falsas promessas...
Como não aderir entusiástica e prontamente à proposta da boa Neuredini? Não conheço os documentos por ela citados, nem sei que passos se podem dar ou que diligências se podem providenciar para atingir o nosso objectivo: ajudar aquelas pobres criaturas que, para fugirem à indigência extrema e à fome, tiveram de se submeter a uma situação de exploração e pouco dignificante para a sua condição humana. Importa agora resgatá-las do abandono e da clausura em que caíram. Eu estou desde já pronto a colaborar dentro das minhas possibilidades. Ficamos agora a aguardar por dados e procedimentos mais concretos por parte da Neuredini. Pergunto é a razão por que o governo de Cabo Verde nada fez ainda em moldes similares.
ResponderEliminarA emigração dos cabo-verdianos para as roças de São Tomé e Príncipe começou em 1863 na sequência das fomes de 1861. Mais de mil cabo-verdianos partiram para as roças de São Tomé e Príncipe e ninguém voltou. Lá morreram muitos, consumidos pelas febres tropicais. Em 1902 começou uma nova emigração para São Tomé das vítimas das secas e das fomes em Cabo Verde. As intervenções de Sena Barcelos, que afirmara que as fomes em Cabo Verde serviam para enriquecer os roceiros de São Tomé, inclusivé o Governador de Cabo Verde Paula Cid, que tinha acções nas roças de São Tomé e Príncipe. Em 1918 na Voz de Cabo Verde, Eugénio Tavares considera a emigração para São Tomé como sendo pior que o regresso à escravatura. Nos anos quarenta do século XX, os escritores e poetas Claridosos, entre os quais Baltasar Lopes, Jorge Barbosa, Gabriel Mariano, retomam este combate, mas eu fui testemunho, ainda em 1968, do embarque de contratados para as roças de São Tomé.O nosso folclore poético, em especial os autores de mornas como Jotamont, Amandio Cabral, Abilio Duarte, Nhô Baltas e outros, também colaboraram nesta denúncia. As associações de emigrantes nos anos sessenta também tiveram um papel importante nesta luta, indo mesmo buscar familiares nas roças de São Tomé e Príncipe. Devo citar ainda nesta lista o excelente trabalho de António Carreira - Migrações nas Ilhas de CAbo Verde. O PAIGC fez da emigração para São Tomé e Príncipe o tema principal da luta pela Independência. No artigo 3° do seu estatuto (1960):diz: regresso imediato dos cabo-verdianos das roças de São Tomé e Príncipe. No entanto, lá se encontram ainda rondando uns 50 000 originários e descendentes de Cabo Verde enquanto se continua a receber imigrantes de países vizinhos em Cabo Verde. A questão deveria ser solucionada no momento da Independência com Portugal, responsável pela emigraçao desses compatriotas, que partiram com direito ao regresso após três anos nas roças e mediante uma indemnização. O pior ainda é que foram contratados com documentos portugueses e que o Governo saido da Revolução de Abril não quis renovar por racismo, pois eles agora não serviam. Na impossibilidade dos actuais governos de Cabo Verde e Portugal não encontrarem uma solução para este problema resta o recurso às Naçoes Unidas.O Congresso dos Quadros Cabo-verdianos e o Grupo da Regionalização da Diáspora poderiam assumir a responsabilidade de levar o caso às Nações Unidas.
ResponderEliminarEm breve estará no mercado um livro da minha autoria sobre a questão das migrações cabo-verdianas no mundo. Cabo Verde nunca será um país livre enquanto houver cabo-verdianos nas roças de São Tomé e Príncipe, dizia o malogrado poeta Ovídio Martins.
Luiz Andrade Silva
Duas ou três vezes tentei um comentário que abandonei pois a cada vez lembro-me de um primo que foi "listado" por falta de "voluntários". César, um robusto serralheiro que ganhava bem a sua vida, durou menos de dois anos.
ResponderEliminarAguardo a publicação do livro do Luiz.
Este caso só tem solução através do consentimento e acordo dos estados soberanos envolvidos: Portugal, S. Tome e Cabo Verde. Se um deles bloquear nada feito. Agora a pressão sobre eles deve existir.
ResponderEliminarNós só podemos denunciar e incluir este problema na nossa plataforma. Mas se de antemão estivermos excluídos do Debate da Regionalização pelo Sistema do Novo Partido Único, como poderá configurar, não se irá muito longe. Mas é bom saber que Portugal S. Tome e Cavo Verde podem recorrer a canais internacionais para resolver definitivamente este problema.
Caro sr. José:
ResponderEliminarA partir do momento em que o José Maria Neves virou a casaca e aceitou discutir sobre a Descentralização de que não queria, era sabido que ia usar dos seus dotes de prestidigitador para sair um "coelho" para abafar a ideia/projecto dos outros que jà tinha chumbado (antes de o ler) com o seu tradicional sorriso de quem sabe tudo. E, para mostrar que é democrata, convidou os que estão do seu lado, eliminando, sem conversa, os nacionais interessados no projecto. Uma vez mais o dono de CV e do partido ùnico demonstra que là entra quem ele quer.
Eduardo Oliveira