Sobre o assunto do Post Nº 7636, do amigo Arsénio de Pina, pronunciou-se outro ilustre amigo, frequentador assíduo deste espaço, cujo comentário aqui deixamos para gáudio dos admiradores do precisão das suas ideias e da qualidade da sua prosa...
Inteiramente de acordo com as explicações do amigo Arsénio.
Diz que o poder económico é tendencialmente o suporte da direita, e isso é uma verdade em todo o mundo, com as raras excepções onde a social-democracia conseguiu realmente implantar-se, pugnando por políticas sociais viradas para as classes mais desfavorecidas. Mas mesmo esses casos de feliz realização política estão hoje ameaçados pelo chamado capitalismo de casino, com o seu efeito maligno sobre as organizações sociais e políticas.
Os lobbies, como bem demonstra o Arsénio, constituem hoje um fenómeno que perverte as regras da moralidade e da justiça, ameaçando a democracia e a soberania dos Estados. Mas se sempre houve lobbies ao longo da História da humanidade, hoje atingiram uma sofisticação que é fruto da globalização, das tecnologias e da liberalização dos mercados.
Vemos que de facto nem o mais bem intencionado governo consegue hoje adoptar políticas de cariz social, porque o sistema económico-financeiro global tudo capturou e passou a impor as suas regras. O fenómeno dos lobbies, que dele decorre, exerce-se à escala planetária e ajusta-se a qualquer realidade social, desde os países poderosos até aos mais pequenos (Portugal) ou aos mais insignificantes (Cabo Verde). Contudo, a natureza moral do lobby é a mesma, independentemente do país em causa. Traduz o triunfo do ter sobre o ser.
Com isto, é de perguntar o que nos espera. O que é que se pode fazer para suster e se possível mudar o sistema? Não é fácil, e com frequência vemos o ror de contradições entre aqueles que lideram as instituições financeiras regionais e mundiais. Hoje, num assomo de consciência, dizem uma coisa, para amanhã se desmentirem com as próprias acções do seu mando.
Este problema é extremamente complexo e as respostas não no-las dá nem o Keynes, nem o Hayek, nem o Friedman, nem o Marx, porque o mundo actual é impulsionado por variáveis que não entraram no viés do seu pensamento. Mas então outra pergunta se coloca. Se o poder económico em si é tendencialmente de Direita, o poder económico global tem de pertencer à esfera da Direita mais extrema, que é aquela que coloca o ser humano a uma escala ínfima, ao nível da coisa que se comercia. E como o mundo é constituído maioritariamente pelos excluídos do poder económico global, ou seja, daquela Direita mais pura e mais abjecta, lógico será que os primeiros tenham de pertencer à Esquerda, ou seja, à força social global, que por princípio devia contrariar a pulsão do poder ameaçador.
No entanto, as coisas não se passam com esta simplicidade linear porque o mundo é tão complexo como a natureza humana. E é por isso que vemos pessoas de camadas sociais baixas a votar em forças políticas de direita, assim como o inverso é verdadeiro. Este será, por conseguinte, um problema sem solução. A menos que os povos do mundo consigam criar lobbies com a capacidade de se oporem aos do capitalismo de casino, o que terá o significado de uma revolução à escala mundial.
Obrigado, Arsénio, por este pedaço de conversa.
Adriano Miranda Lima
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