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quinta-feira, 7 de maio de 2015

[8118] - CABO VERDE - CRIAR EMPREGO, É PRECISO!...

Júlio Lopes
1- A opinião de muitos especialistas é a de que Cabo Verde se encontra numa encruzilhada porquanto não está a conseguir criar oportunidades para gerar empregos suficientes para absorver o fluxo de jovens que vão entrando no mundo do trabalho. A administração pública está congelada e por isso não pode receber mais jovens à procura do primeiro emprego. A solução será pela via do privado, mas o ambiente empresarial está dificil e as empresas enfrentam um conjunto de dificuldades. Uma vez que o nível de investimento privado é insuficiente, as empresas também não estão a conseguir criar oportunidades para os jovens. O único sector empresarial que tem gerado emprego é o do turismo nas Ilhas do Sal e Boavista.
Como é que  Cabo Verde pode sair desta  encruzilhada e gerar empregos para a juventude?

2- Da parte do público, as limitações são visíveis. O deficit e a dívida pública cortam ao Governo aquela margem de manobra para conceber e implementar determinadas políticas públicas susceptíveis de gerar empregos. As medidas do governo em termos fiscais visando arrecadar receitas para suportar as crescentes despesas públicas não estão a contribuir para permitir ao sector privado realizar investimentos e assim gerar empregos. O ambiente de negócios não está a estimular o empreendedorismo apesar de um grande trabalho de educação empreendedora realizado pela ADEI e outras entidades.

Os rendimentos das famílias está a sofrer uma redução considerável porquanto o salário dos que trabalham não está a ser actualizado e as taxas de desemprego são elevadas.

3- Vou aqui fazer duas citações, de duas altas personalidades e que demostram a situação de encruzilhada em que nos encontramos. O nosso escritor maior Germano Almeida, na entrevista à revista Vozes, fez notar que ‘os ganhos que Cabo Verde foi tendo ao longo da independência são visíveis, mas não se pode perder de vista que aconteceram graças à ajuda internacional, que foi bem gerida, e isso levou-nos à dignidade de um país de desenvolvimento médio. Mas isso tem consequências desastrosas, na medida em que Cabo Verde, quando promovido a país de rendimento médio, passou a perder ajudas fundamentais para o seu desenvolvimento. Por outro lado, há algumas políticas que estão a ser seguidas e que não são suficientes para conseguir a reviravolta que se pretende’.

O ex-governador do BCV, Dr Carlos Burgo numa entrevista em Agosto 2014 argumenta que, ‘neste momento que não temos ajuda externa, estamos parados.’ O mais grave é que ‘Cabo Verde é gerido como se fôssemos um país rico’ num contexto de crescimento económico fraco...

4- A única forma de sairmos desta encruzilhada implica a adopção de politicas públicas concretas para gerar emprego.

Aproveito a oportunidade para contar a história do ganês Herman Chinery-Hesse, conhecido como o “Bill Gates de África”, e considerado um dos 100 pensadores globais pela revista norte-americana Foreign Policy Magazine. Esse empresário nota que:

‘O que poderá curar as economias africanas é um ‘esforço deliberado dos governos no sentido da promoção de um sector empresarial forte! Quando digo “deliberado”, o que é que isso significa? O governo precisa de comprar uniformes para a polícia, certo? O que tem que acontecer é um anúncio do género: – Hey, toda a gente que saiba fazer roupa, alinhada em fila; porque daqui a doze meses, vamos começar a comprar na indústria nacional - . Este tipo de anúncio fará com que muita gente queira capacitar-se, para fazer 100 fardas por mês para a força de polícia. Alguns deles transformar-se-ão em designers internacionais, porque é assim que as coisas começam! Portanto é com este tipo de política que o governo deve promover, de forma deliberada, o sector empresarial nacional.’

5- Caro jovem leitor, voce já imaginou quantos jovens iriam sair do desemprego, quantas empresas seriam criadas, se os fardamentos da nossa polícia ou dos militares fossem produzidos em Cabo Verde?

Continuando: Quantos jovens encontrariam emprego, se o mobiliário dos ministérios, dos institutos públicos e das câmaras municipais fosse produzido localmente? Quantos empregos seriam criados se houvesse um sistema inter ilhas de transporte eficiente que permitisse que a cebola produzida na Brava fosse vendida no Sal? Quantos empregos seriam criados se os restos do tomate fossem trasnformados em calda de tomate localmente?

Quantos empregos e quantas empresas seriam criadas se os nossos jovens empreendedores e criativos tivessem financiamento para os seus projectos? Quanto dinheiro ficaria em Cabo Verde se as empresas de consultoria cabo-verdianas tivessem as mesmas oportunidades que as estrangeiras? E por aí adiante...

6- Se Cabo Verde fosse gerido com a noção de que é um país pobre, com uma larga margem da população na pobreza a viver em dificuldades, as políticas públicas e a própria atitude dos que governam seriam diferentes.

A juventude cabo-verdiana já pegou o gosto e vai sair à rua, por ocasião do Primeiro de Maio, numa acção concertada com as Centrais Sindicais UNTC-CS e CSL para mostrar que querem ‘um poema diferente para o povo das ilhas’. Novas formas de políticas públicas devem ser concebidas e implementadas para satisfazer as necessidades da nossa juventude, em prol de uma vida real mais confortável. (in A Semana)

(Sugestão de José F. Lopes)

1 comentário:

  1. Dito assim parece muito simples, pois a nossa realidade de mercado pequeno, seca, matéria prima, ausência de capital e de capitalistas genuinamente Caboverdianos, muito "boémia" encarnada, é preciso muito jogo de cinturo para contornar este mal estar. Talvez seja necessária darmos alguns passos atrás para podermos dar o dobro a frente. Mas este é tarefa para gerações futuras.

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