Tricas Responsáveis pelo
Desaire Político Ventoinha
Há gente e organizações super controversas que mesmo que queiram dificilmente conseguem mudar de conduta, e julgo que o MpD e alguns dos seus dirigentes são protótipos disso. Falo numa hipotética vontade de mudança porque acredito ser essa a intenção, já que ninguém com um mínimo de bom-senso é capaz de continuar ad aeternum a fazer algo que o deixe pior a cada dia que passa. Infelizmente, acabam por cair sempre na rotina do ridículo, que consideram ser muito mais fácil porque não exige esforço algum. Andam tão obcecados a reinventar factos que foram criados há vários séculos pelos homens e mulheres das cavernas! Correm pois o risco de se confundirem com aqueles, caso não arrepiarem caminho.
Entretanto os criadores de factos políticos andam convencidos de que estão a meter, pela primeira vez na história, as suas lancinhas em África mas já com as pontas tão gastas que não há limas que as afiem e com arestas gastas sem qualquer tipo de conserto. E não passa despercebido que o desespero, que tem vindo a consumi-los, é tão desmedido que não conseguem vislumbrar o papel algo degradante que têm vindo a desempenhar. Por falta de discernimento e consciência de que, assumindo certas atitudes negativas, se auto-afastam cada vez mais, quase que irremediavelmente, dos objectivos que vêm perseguindo há pelo menos três lustros. Já nem se dão conta de que em vez de avançar retrocedem a olhos vistos, ou seja, vivem numa toada de um passo à frente e dois atrás.
Ao contrário do que se possa pensar, tais actos controversos são da autoria de actores recrutados a dedo (não são quaisquer Mané Mangrado!), e de preferência que tenha um canudo reforçado por um ou dois workshops, para além de terem ainda de passar, rigorosamente, por um aturado estágio que tanto pode ser ministrado num parlamento ou num cobom onde a aprendizagem é insuperável para o fim em vista. O objectivo ou ocupação final é aliciar, sem dó nem piedade, os ceguinhos prevenidos que circulam por aí de smartphone em punho à cata de falsos casos, desde que estejam recenseados e sejam votantes, mas convencidos de que são milagreiros máximos sempre que o assunto é desinformar.
Por outro lado, ou até por múltiplos lados, estabelecem, simultaneamente, como ponto prévio e de honra, que o trabalho de sapa seja atribuído a gente supostamente portadora de “barba fina” e de irresponsabilidade (e se for baixinho melhor ainda), sem créditos reconhecidos mas capaz de, em qualquer circunstância, desenvencilhar-se de mãos alheias. Ou seja, uma espécie de gente truculenta e “basofa” que, caso seja apanhada em contramão consegue manter-se em estado de eterna controvérsia. Isso para evitar que se deite tudo a perder por falta de calos, isto é, de experiência. Numa palavra, trata-se de gente disposta a aceitar carta-branca para se meter em palhaçarias, banalidades e mesquinhices, desde que tenham alguma semelhança com certos miguéis e respectivos pares e vão ao encontro do que é do agrado da cúpula. Mesmo que a trama daí resultante continue simplesmente a contribuir para os manter distante do eixo/roda do poder. Como são gostos, não se discutem!
Passada década e meia do início do século XXI, não é de modo algum aceitável que alguns quadros que se regem com atitudes de maiorais, vencendo ordenados do Estado (e não só) de fazer inveja, desperdicem o tempo, que lhes é pago para trabalhar, a deturparem, deliberadamente (porque se tornaram experts na matéria), a boa intenção dos que se encontram empenhados em fazer o melhor que possam a bem de todos e do País! Uma coisa é passar o tempo fazendo sátiras com piadas de mau gosto para animar a malta do Face enquanto passam a si mesmos um atestado de quem só pensa em futilidades, outra coisa, bem diferente, é estar-se a perturbar aqueles que estão de facto empenhados em trabalhar para resolver certas situações criadas pela crise que tem assolado o nosso País nos últimos anos. Não me canso de lembrar que ainda ninguém ganhou eleições sérias com base em palhaçarias ou actos de comicidade.
E como se não bastasse, está agora na ribalta um novo fait-divers. Num país pobre como o nosso, é utópico pensar-se que vender pastéis e canja para sobreviver é desprestigiante. Não se pode repudiar uma questão séria, uma realidade vivida no quotidiano por uma significativa percentagem da população de Cabo Verde, independentemente do facto de sermos ou não País de Desenvolvimento Médio. Creio que os cabo-verdianos não ignoram, por exemplo, que, salvo um número muito restrito de quadros cujos pais tiveram a sorte de lhes custear os estudos universitários sem muitos sacrifícios, existe um grande número de pais orgulhosos, em particular mães – nunca é demais repetir – que venderam de tudo um pouco, pães, bolachas, doces caseiros, rebuçados, pastéis, canjas e afins, para que os filhos pudessem frequentar uma Universidade, com muita honra e crédito, e fazer deles os homens de bem que são, desprovidos da “soberbindade” de que alguns são hoje portadores.
É inqualificável a utilização de um importante meio da rede social, como é o Facebook, para se parodiar as palavras – retiradas do seu contexto – sobre eventual venda de canja e pastéis proferidas, humildemente, pela JH Almada, Ministra da Família, da Juventude e do Emprego, a dar exemplos do modo como as pessoas poderão dar um rumo às suas vidas enquanto aguardam melhores dias em termos de emprego. Faço parte do rol daqueles que ficaram escandalizados com o sentido e a volta que se deu ao texto. É que se trata de exemplo formulado de forma responsável pela actual líder do PAICV, uma alta entidade política que já deu provas da sua inteligência, perspicácia, sensatez e capacidade de discernir, e que hoje em dia reúne todos os quesitos para ser, em 2016, Primeira-Ministra deste País!
Depois de ter lido (através do link) o conteúdo das palavras de JHA, bem como o esclarecimento que ela teve a necessidade de dar publicamente no sentido de repor as coisas no seu devido lugar, fiquei com a percepção de que a questão foi manipulada e transformada em arma de arremesso no sentido mais pejorativo que se pode imaginar. Atribuir à líder do PAICV a intenção de mandar universitários vender canja e pastéis como modo de vida, é, sim, um autêntico cluster de deturpação que alguns dirigentes e apoiantes do maior partido da oposição têm vindo a utilizar para inundar o Facebook com ataques à candidata do PAICV ao cargo de PM, na vã tentativa de a desmoralizarem. Aliás, são performances do tipo que têm vindo a contribuir para manter o MpD a patinar sobre plano inclinado.
Felizmente, já vai longe o tempo em que apenas um punhado de estudantes cabo-verdianos, contados nos dedos das mãos, tinha acesso às Universidades, em Portugal propriamente dito, para continuar os seus estudos. A partir da segunda metade da década de 70, os Governos do PAIGC/CV mudaram a situação, radicalmente, ao passar a conceder bolsa de estudos, a custo zero, a todos os estudantes que desejassem e estivessem em condições de irem estudar em várias Universidades espalhadas por este mundo.
Essa paródia da canja e dos pastéis trouxe-me à memória um caso curioso: Actuou, num dos festivais de Baía das Gatas, em São Vicente, uma Banda, portuguesa, chamada “Heróis do Mar”. O final da primeira música, que tinha como refrão “Quem inventou Portugal, foram os portugueses”, foi seguido de um silêncio sepulcral. Para quebrar a monotonia, alguém teve a ideia de fazer um alarido ensurdecedor e foi acompanhado pela multidão assistente com uma explosão de palmas, gritos e assobios, terminando-se com todos a pedir bis em uníssono.
O conjunto, que não conhecia a veia brincalhona dos jovens cabo-verdianos, deu bis sem parar, para a mesma música, tantas e quantas vezes foi pedido. O certo é que de regresso a Portugal, o Grupo contou aos jornalistas que em nenhum lugar tinham sido tão bem recebidos e aplaudidos, delirantemente, como em Cabo Verde. (Extrair a moral da estória fica a cargo dos miguéis, que não deverão ter percebido o teor dos aplausos e dos bis que continuam a dar SEM PARAR!). Enquanto isso, como dizia o outro: “E assim vamos vivendo”.
António Neves
António Neves
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Sempre disse que faço os possíveis para não me pronunciar sobre questões relacionadas com o confronto político-partidário em Cabo Verde. Não conheço o articulista mas vê-se nitidamente que pertence ao PAICV. Nada contra ele em termos pessoais e políticos. Mas não gostei muito da sua prosa porque a acho demasiado enredada, quando seria fácil e breve dar o recado pretendido, mediante linguagem explícita, poupada e directa. Quanto ao resto, é minha opinião de que o MpD não se tem revelado à altura de uma verdadeira oposição, tal é o vácuo em que tem navegado, como se não passasse de um agrupamento de pessoas sem uma ideologia concreta e sem ideias consistentes. Só isso explica que o PAICV já vá na 3ª legislatura consecutiva. No mais, penso que ambos esses partidos partilham por igual a mesma intenção de continuar a apoiar e a sustentar um Estado concentrado e concentracionário. Não acredito na intenção que o MpD vem propalando sobre a regionalização do país. Todos eles estão bem instalados e comodamente refastelados na Praia, pelo que não vejo como possam estar sinceramente interessados em desconstruir aquele Estado, que é o que fatalmente tem de suceder se implementarem um qualquer modelo de regionalização. É que esta implica irremediavelmente desmoronar toda uma rede de interesses bem acomodados na Praia, interesses político-partidários, interesses de grupo, interesses pessoais, interesses profissionais, interesses familiares. Tudo isso está interconectado e resulta de algo que se semeou, regou e foi sendo cultivado com esmero ao longo do tempo. Em poucas palavras, muitos dos que sustentam e beneficiam do "sistema" iriam ficar com a casa às costas, o que naturalmente lhes não deve passar pela cabeça. Ou melhor, iriam abandonar a seara.
Por isso é que penso que tudo o que vemos por aí não passa de jogo de sombra. São todos eles uns grandes fingidores e muitas vezes com o descaramento de tomar por tolo os que com a idade e a experiência têm a obrigação de ver com um mínimo de clareza.
No entanto. tenho-me perguntado: será que a Janira Almada nos pode vir a surpreender, protagonizando uma "revolução" em Cabo Verde? Sim, porque com essa gente instalada sobre os seus próprios interesses, não se pode contar. Acho que se ela ousar falar claro e com sinceridade ao povo, este poderá dar-lhe o seu apoio. Se assim acontecer, pode ser que se venha a virar uma página em Cabo Verde.
Adriano Miranda Lima
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