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segunda-feira, 22 de junho de 2015

[[8242] - CABO VERDE - CRISE DE IDENTIDADE...


A PERSISTENTE CRISE DE IDENTIDADE CABOVERDIANA.

A geopolítica não é geografia. A posição geográfica é um dos elementos importantes, e em muitos casos determinante da geopolítica, mas as ligações políticas podem determinar uma realidade geopolítica diferente das divisões continentais dos continentes
No caso de Cabo Verde, um país arquipélago estrategicamente localizado nas rotas entre a África, a América do Sul e a Europa,, e mais remotamente com a América do Norte e até a Ásia, é imperativo se definir qual o continente no qual Cabo Verde dará prioridade na sua geopolítica.
Se a África é o continente mais próximo, todavia a Europa é o continente mais importante sob todos os aspectos,, em especial os econômico, culturais e políticos.
Mas ao contrário dos outros arquipélagos da Macaronésia, as Ilhas Madeira e Açores (Portugal-UE) e as Canárias (Espanha-UE), Cabo Verde após a sua independência declarou, mas não cumpriu, a sua opção pela África e a africanização.
Por pior, tentou se incluir na União Europeia, como um país independente e D'África, sob o eufemismo de parceria estratégica, e não conseguiu sequer uma espécie de assemelhamento com as regiões ultraperiféricas da UE, todas elas partes integrantes de algum país membro da União Europeia.
A outra alternativa de associação, como estado associado, nos moldes de Porto Rico e os Estados Unidos, ou como membro integrante da federação ou província de um estado unitário são os países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), ou ainda mais restritivamente os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP).
Cabo Verde após a independência já foi um estado associado com a Guiné Bissau, com um modelo dois países, um só partido, mas a união foi mal sucedida e acabou.
No âmbito da CPLP, para sair do campo dos meros discursos de integração e receber recursos orçamentários e todo o apoio de um governo central forte, Cabo Verde possui as opções dos estados unitários de Portugal e Angola, e a federação brasileira, pois os demais países da CPLP, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Guiné Equatorial, Timor-Leste e Guiné Bissau ainda estão em um estágio que não agregariam os recursos financeiros, orçamentários e demais serviços que Cabo Verde necessita, na ordem de grandeza de mais de 10 mil milhões de dólares por ano durante muitos anos para atingir o actual nível de padrão de vida das Ilhas Canárias, Açores e Madeira, por exemplo próximo de potencial econômico evidente na própria Macaronésia.
A época do crescimento e euforia econômica de Portugal, Brasil e Angola agora se transformou em uma grave crise econômica, que deve se aprofundar pode se aprofundar em um pior cenário possível, pior até do que a crise de 29.
Logo, Cabo Verde como país independente, que nem se encontra inserido efetivamente na integração geopolítica da África ou da Europa, e com grandes afinidades culturais com Portugal, Brasil e Angola que não se traduzem em solidariedade e recursos orçamentários e demais riquezas e um país mais forte para garantir a segurança alimentar, energética, de seguridade social, previdenciária, segurança pública e social, saúde, energia, comunicações, transporte, financeira, e principalmente, o custeio de uma administração pública que seja a principal atividade econômica de Cabo Verde, como ocorre com o Hawaii, ou com os estados brasileiros de Roraima e Amapá nos quais os recursos investidos nesses dois estados ilhados pela amazônia pela federação brasileira, que custeia as suas administrações públicas, que são a sua principal atividade econômica. Os recursos gastos pela federação brasileira nesse dois estados amazônicos ainda com pequenas populações é superior aos seus próprios produtos internos bruto. 
Logo, creio que Cabo Verde é geopoliticamente um pequeno país arquipélago isolado no Oceano Atlântico abandonado ao destino sem mecanismos geopolíticos que ultrapassem os níveis insuficientes da caridade internaciona. E dependente de um acordo cambial com a União Europeia de conversibilidade entre o escudo caboverdiano e o euro, tendo que pagar o preço de entregar os seus recursos de pesca, turismo e demais ativos escassos para receber a ajuda cambial dentro do seus estreitos limites, o que está a acarretar, no momento, o acelerado endividamento insustentável de Cabo Verde.

A UNIÃO EUROPEIA NÃO RECONHECE CABO VERDE COMO EUROPEU, AO CONTRÁRIO DAS CANÁRIAS E DA MADEIRA.

Não possuo condições de determinar a causa, mas, definitivamente, Cabo Verde não é reconhecido europeu como as Canárias e a Madeira, apesar de estar na mesma Macaronésia e possuir a mesma gênese europeia em sua formação. Cabo Verde são vistos, inclusive por si próprios, como similares aos brasileiros, mestiços e crioulos. Quando estou em Cabo Verde, confesso que me sinto como se estivesse no meu próprio Brasil, e apenas o sotaque de Portugal me lembra a cada instante que não estou em terras brasileiras. Em Portugal, Angola e em Moçambique também me sinto em casa, mas as coisas me fazem sentir em outro continente, de facto. 
Como brasileiro, visto como um estranho aos olhos dos europeus, sinto o tratamento de alteridade no Velho Mundo como o que narra José Almada Dias.

O QUÊ É SER UM EUROPEU?

Para exemplificar com um facto verídico, me lembro quando participei como mediador em um seminário de Direito em Buenos Aires, há muitos anos atrás, e um jurista português colocou a questão que não basta uma união econômica, pois o mais importante é a união das gentes, e perguntou aos participantes se saberiam responder o quê seria um mercosulino, pois ele, como português não sabia dizer o que era um europeu. Eu não pude perder a oportunidade de sugerir que ele perguntasse, então, a um argentino o quê é ser um europeu, pois os argentinos dizem e acreditam que são europeus!
É a nossa opinião, salvo melhor juízo. - (in  E.I.)

Rio de Janeiro, 15 de junho de 2015
César Palmieri Martins Barbosa

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