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sábado, 11 de julho de 2015

[8294] - ERA UMA VEZ, ANGOLA - «52»


A maior parte das deslocações de longa distância, em Angola eram, ao tempo, quase sempre feitas à boleia e, não raras vezes, por etapas...As linhas de caminho de ferro eram escassas e os maximbombos raramente ultrapassavam as fronteiras das maiores cidades do enorme território...Talvez por isso, a maior parte dos grandes camiões de carga que cruzavam as estradas de Angola em todas as direcções, tinham quase todos cabines com cama, depósitos de água e malas de mantimentos, normalmente bem recheadas: nunca se sabia quando é que  as águas dos rios, inundando as margens por via das chuvas diluvianas iriam destruir pontes e pontões, obrigando os camionistas a paragens, não raro, de dias...Eles e, claro, os eventuais passageiros de ocasião!
Eu já tinha no meu curriculo uns largos quilómetros de viagens destas a Teixeira de Sousa, ao Luso, ao Congo Belga, à Rodésia do Sul, e já tinha passado umas tantas noites ao relento, com a sinfonia de nuvens de melgas a perturbarem-nos o sono, raivosas por não poderem abastecer-se do nosso fluido sanguíneo por via do uso - e abuso - dos repelentes...
E foi embalado por estes pensamentos que, distraídamente, se percorreram os primeiros vinte quilómetros. Por essa altura, já os 18 camiões se haviam distanciado uns dos outros, por compreensivel precaução, enquanto o meu companheiro assobiava em notório esforço para tentar fazer-se ouvir acima do trepidar
estridente do motor da potente Scania-Vabis, de não sei quantos cilindros e uma enormidade de cavalos...
Num dos intervalos do recital de assobio, fiquei a saber que a enorme máquina que transportava se destinava à Admistração do Concelho de Malange e, quando soube que eu viera de Cabo Verde para Angola, confidenciou-me que conhecia um cabo-verdiano que até era Governador de Malange - o Dr. Luis Terry... E era verdade, pois eu já me tinha informado antes e até descobrira que o Tony, meu amigo de infância e filho do Dr. Terry, tambem vivia em Malange...
A perspectiva de, em breve, ir rever gente conhecida do Mindelo deixou-me impaciente, tanto mais que a velocidade de cruzeiro da nossa viatura raramente ultrapassava os 60 km/hora... Por aquele andar, íamos levar quase oito horas a chegar - na melhor das hipóteses...É que, subitamente, escureceu como se o Sol se tivesse eclipsado...Isto era sinal que vinha por aí uma daquelas cargas de água que normalmente se abatem sobre a Terra com inusitada violência, de tal forma que manda a prudência encostar o mais possível, parar, fechar os vidros suportando, depois, temperaturas de mais de 40 graus e aguardar que o dilúvio passe e as águas não destruam os aterros sobre os quais os camiões se deslocam...
Senti que a angústia tinha substituído a impaciência no meu consciente e comecei a temer que as coisas se complicassem  para alem dos meus mais negativos receios...É que apanhar com uma tromba de água no meio de nenhures e sem contactos de qualquer espécie com o mundo, não é das perspectivas mais animadoras e dei comigo a pensar se as Obras Publicas e a Engenharia Militar teriam feito a contento o serviço no pontão e se este iria resistir a nova investida das turbulentas águas fluviais...
Algo me dizia que ainda iria ver a vida a andar para trás..

- Conyinua -

2 comentários:

  1. Mais um belo texto um episódio de um bonito filme onde o amigo Zito é actor e autor sobre as suas aventuras/safaris em terra africana.

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  2. É sempre com prazer que li mais este episódio desta aventura africana do Zito. Bem escrito e ainda por cima tratando-se de paragens que me são familiares.

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