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quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

[8709] - EM APOIO DO REGIOMALISMO...

Tenho acompanhado com crescente interesse este debate sobre o referendo. No essencial, concordo com as reservas aqui expressas, embora considere que há seriedade na posição defendida por Carlos Veiga.
Recordo que, corria janeiro de 2011, numa das deslocações do então líder do MpD a Santo Antão, que acompanhei como jornalista em plena campanha eleitoral, Carlos Veiga aflorou a questão da regionalização numa conversa à margem da agenda de campanha, durante a estada num hotel. Na altura, fiquei com a ideia que ele tinha uma visão diferente da divisão administrativa do país muito centrada no “poder das ilhas”. Ainda hoje penso que, dentro do MpD, é ele (entre um punhado muito reduzido de pessoas) que tem a perspetiva mais avançada nesta matéria. Ou seja, não me parece que a sua proposta de referendo tenha qualquer intenção armadilhada (independentemente de o referendo poder constituir-se numa armadilha – o que é outra questão).
No entanto, revejo-me nas apreensões aqui expressas e considero perigoso para a regionalização que se avance, num horizonte próximo, com um referendo. De todo o modo, penso que o argumento imediato de rejeição do referendo é um pau de dois bicos pois teria como consequência a rejeição dos processos eleitorais em Cabo Verde, como se sabe com distorções e desonestidades várias.
Como tive ocasião de dizer no passado, criar corrente em torno da regionalização passa, antes de mais, pela ação dos regionalistas. Isto é - e ao contrário do que vem acontecendo -, os defensores da regionalização têm de saltar para o terreno, alargando os contactos diretos com as pessoas, mormente na ilha de Santiago, onde me parece que este trabalho nunca foi feito e onde, por razões óbvias, são maiores as resistências, e assumindo com toda a clareza a dianteira política. Mas, de igual modo, importa construir os meios de divulgação das ideias para alargamento da corrente favorável à regionalização.
Uma das formas mais eficazes de relançar este debate na opinião pública seria avançar-se com um novo órgão de comunicação, nomeadamente um online, que tivesse como premissa central a defesa da regionalização do país e a criação de corrente cidadã em torno deste projeto. Para isso, contudo, seriam necessários alguns recursos, mesmo que modestos, que permitissem garantir o pagamento de despesas de criação de um site e sua manutenção, bem como de uma verba mínima mensal para suporte dos custos de edição. Isso seria possível se um punhado de vinte pessoas (por exemplo) estivesse disponível para assegurar uma verba mensal. E isto é perfeitamente realizável, assim haja vontade e se mobilizem solidariedades.
Ou seja, pela primeira vez, os regionalistas teriam um órgão expressamente favorável à regionalização! Um órgão que centrasse a sua estratégia editorial na defesa da regionalização, mas que, de igual modo, fosse voz dos setores minoritários da sociedade não engajados partidariamente e de correntes autónomas do pensamento político fora da órbita dicotómica tambarina/ventoinha, com uma linha editorial também vocacionada para o património, a cultura e o conhecimento.
O online teria um formato entre o jornal e a revista, fugindo à lógica generalista (onde o mercado já está muito saturado), que privilegiasse o debate de ideias em torno da política, da cidadania e da cultura, abrindo espaço à recuperação dos valores republicanos, tão arredados da vida pública caboverdiana.
António Alte Pinho

3 comentários:

  1. Uma visão de um Profissional da Comunicação sobre a Problemática da Regionalização. Mensagem a estudar com atenção.
    Alte Pinho é uma pessoa com um horizonte largo e uma com vivência dos Medias democráticos (que destoa da mediocricidade ambiente), como em Portugal, em que se dá liberdade às opiniões, tendências e aos debates contraditórios etc. Graças ao Liberal fomos podendo apresentar alguma das nossas ideias e teses que foram acolhidas com muita abertura pela equipa de redacção desde 2009, numa altura em que os medias social-fascista e autoritários nos fizeram um cerco completo, arranjaram todo o tipo de desculpas para não publicar os nossos artigos e fizeram boicote na comunicação social de variados eventos que debruçassem sobre esta problemática, para que ela não tivessem eco em Cabo Verde. Pura e simplesmente o que estavávamos a propor era o derrube do 'artigo 5º da Constituição Democrática' que elegeu o Centralismo como o Dogma Central. Inicialmente foi uma autêntica Pedra no Charco, que apanhou todos de surpresa quando dissemos que D'Aqui D'El Reyque o badalado sistema político cabo-verdiano, aparentemente impecável, continha um vício de forma, anti-democrático: o Centralismo é um sistema que está a consumir CV em lume brando.
    Alte Pinho agora lança-nos um desafio neste artigo de opinião:

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  2. Por favor, ajudem-me a "Regionalizar-me:

    -- Há algum impedimento legal em CV que, por exemplo, S. Vicente e Santo se juntem e trabalhem em projectos de interesse para ambos?

    Como exemplo: Porto / Gaia /Maia, etc Ou melhor: Associação de Municípios.

    Obrigado







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  3. Como não conheço nem nunca falei com o Carlos Veiga, não estou em condições de ajuizar bem sobre as suas convicções acerca da regionalização. Tão pouco li até hoje qualquer artigo de opinião da sua autoria com ideias claras sobre o tema. Sou é de opinião de que o referendo pode ser uma forma de matar a regionalização, do mesmo modo que o foi em Portugal. O partido que sinceramente deseja avançar com o processo tem é de o aprovar sem peias e levar o diploma à discussão no parlamento.
    Um órgão de comunicação da propriedade dos regionalistas pode ser uma ideia, mas não penso que seja indispensável e que atinja os seus objectivos. Receio que não seja mais que um espaço em que intervêm e discutem os regionalistas, sem que isso transborde para a opinião pública. Aliás, o grupo da diáspora criou um blogue sobre o assunto e o resultado é o que sabemos. Creio que mais vale utilizar um órgão já conhecido e implantado no espaço mediático. A altura em que as nossas intenções sobre a regionalização tiveram maior divulgação foi no tempo do anterior Liberal, quando tinha níveis elevados de procura.

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