Páginas

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

[8770] - DECLARAÇÃO DE REPÚDIO...

GRÉMIO RECREATIVO MINDELO
RÁDIO BARLAVENTO

Na sequência de um decreto governamental que escolhe o dia da tomada da Rádio Barlavento, 9 de Dezembro de 1974, como Dia Nacional da Rádio, enaltecendo nesse decreto "a promoção do pluralismo, a difusão de informação credível e a acção fiscalizadora no quadro democrático", pelos meios de comunicação de Cabo Verde, como se a tomada da Rádio Barlavento se enquadrasse nesses objectivos e fosse o seu prenúncio, além de que afirmações completamente distorcidas foram proferidas na cerimónia de descerramento da lápide afixada na parede da antiga Rádio Barlavento na primeira comemoração desse Dia Nacional da Rádio, no passado dia 9 (por exemplo, que foi uma acção cívica e pacífica, para devolver a Rádio aos cabo-verdianos...), alguns de nós, indignados, resolvemos elaborar a declaração de repúdio que anexamos, pedindo que, se concordarem com ela, nos deixem saber, respondendo a este email. Se conseguirmos um número substancial de anuências, a declaração e o nome dos que concordarem serão enviados aos jornais para publicação. Podem encaminhar este email para outros que também poderão querer mostrar a sua indignação, pedindo-lhes que respondam para mim.
Muito obrigada. 
Caboverdianamente, a bem da verdade,
M. Odette Pinheiro


Declaração Rádio Barlavento

Nós, cidadãos são-vicentinos, e outros caboverdianos que a nós se queiram associar, repudiamos veementemente a tentativa de justificar, legitimar e glorificar a tomada da Rádio Barlavento a 9 de Dezembro de 1974, tentativa expressa pela escolha dessa data como Dia Nacional da Rádio, com direito a decreto do Governo e descerramento televisivo de lápide no edifício. Repudiamos a legitimação dos factos ocorridos à volta desse acontecimento, apresentando-o como um acto cívico e de nacionalismo, quando mais não foi que um acto ilegal de usurpação de propriedade privada, com o fito de cercear a livre expressão de pensamento e o desejo de pluralidade de caboverdianos que acreditavam que com o 25 de Abril a liberdade havia chegado e que o futuro de Cabo Verde se havia de discutir de modo livre, aberto e com o concurso de todos os seus filhos. Repudiamos o facto de se querer insinuar que os dirigentes, profissionais e voluntários dessa Rádio eram menos caboverdianos, menos nacionalistas e menos dedicados a Cabo Verde, que os que a tomaram de assalto. Afirmamos que a escolha dessa data para Dia Nacional da Rádio é uma injúria ao ideal da liberdade de expressão dos cidadãos e incompatível com a independência que se requer dos profissionais da comunicação social. Além de ser uma afronta ao civismo, ao respeito pela propriedade privada e a outros valores que todos consideram dever enformar a sociedade caboverdiana.




10 comentários:

  1. Assino por baixo, sem tirar nem pôr. Acrescento que a perfídia não poderia estar mais genuinamente expressa do que neste decreto governamental. Os verdadeiros mindelenses, se os há ainda com consciência e t., deviam arranjar um muro de lamentação para nele baterem com a cabeça desde o nascer ao pôr do sol.
    Isto para não encher este espaço de muitos nomes que poderiam fazer corar os que perpetraram os actos do passado e os que os querem gravar a ferro e fogo na mente dos incautos.

    ResponderEliminar
  2. Não compreenderam ainda que ser indigitado por um partido não é obrigação de fazer a apologia partidària. O Deputado tem a obrigação de defender o seu circulo em particular e o seu Pais em geral.

    ResponderEliminar
  3. É escusado dizer que concordo com a declarção pois condeno, sem apelo nem agravo, a tomada de qualquer órgão de comunicação por forças políticas , seja em que regime for, ou por mais justo que sejam os objectivos..

    ResponderEliminar
  4. José, mais do que a ilicitude do acto em si, pesa amargamente na consciência de muitos mindelenses (ou devia pesar aos que a têm ainda) o opróbrio de terem servido de testa-de-ponte aos que viriam a marginalizar a sua ilha, a calcar sob os pés a sua especificidade cultural e a tratar a sua ilha como algo descartável no Cabo Verde independente. Digamos que a ironia se entrelaça com a tragédia de uma forma que faz estoirar em fanicos (ou devia fazer estoirar) a resistência moral do mais indómito. Há razões sobejas para os mindelenses se sentirem, já não injustiçados, mas seguramente desonrados com o que está a passar-se nessa república de Santiago.
    Reafirmo o que já disse. Não metam nisto o povo anónimo santiaguense, que não tem culpa de nada e pode ser tão vítima como os outros ilhéus dos desmandos do centralismo. E o povo santiaguense não tem culpa, não senhor, até pela simples circunstância de terem sido sanvicentinos os grandes protagonistas de actos que viriam a precipitar os acontecimentos políticos na colónia.

    ResponderEliminar
  5. Adriano por outro lado considero que se devia escolher outra data menos polémica, pela carga ideológica que encerra. Escolher esse dia do ponto de vista político é um erro crasso pois em regime democrático tem que haver pedagogia, caso contrário abre-se a caixa de Pandora: o risco de incentivar populares cometerem assaltos e outros crimes com motivações puramente políticas. O mínimo que se pode dizer é que o PAICV herdeiro do PAIGC arrajou sarna para se coçar todos os dia 9 de Dezembro de cada ano, para quem contesta a data vai ser 'du pain beni'. O PAICV podia-se ter poupado!!

    ResponderEliminar
  6. Tomar a radio barlavento para fazer uma outra radio certamente foi o objectivo dos participantes. Mas tomar a radio para a transferir para a Praia assim como o pessoal foi um golpe à cultura mindelense e a democracia nascente.Hoje Mindelo não tem radio, não tem cinema, não tem teatro e nem casas de cultura. Mindelo morreu nesse dia 9 de Dezembro...

    ResponderEliminar
  7. Já por várias vezes me dou o titulo nobiliárquico de "Crioulo/m´Mondronguim "(por esta ordem)

    E é pela segunda que sinto raiva e nojo : - O MFA - estava lá e colaborou na arruaça... como o fez por cá em todas as Rádios e Jornais!

    Dia da Rádio deve ser na dia prope em que a Radio começou a emitir oficialmente em Cabo Verde.

    ResponderEliminar
  8. Aqui está Luiz onde queremos chegar: de que serviu a tomada da Rádio Barlavento?
    Para dar cabo de S. Vicente? O que é que sobrou desta aventura? Pedra sobre Pedra.
    Onde está a Cultura o Desporto o Cinema etc etc, tudo para o esgoto. E o povo sem trabalho uma ilha sem rei nem roque!!! Por isso digo God Damn 9 /12/ 74

    ResponderEliminar
  9. Junto a minha voz ao coro dos indignados de que a Drª M. Odete Pinheiro, em boa hora deu voz como cidadã atenta. De facto qualquer data que tenha uma "carga ideológica" tão forte, tão negativa, ou no mínimo muito polémica, congrega anticorpos, afasta consensos e não tem garantia de perenidade.

    ResponderEliminar