Nos anos 90 do século passado, tive a feliz oportunidade de, com a Maiúca, ir aos Estados Unidos onde, na altura, residiam a mãe dela, bem como tias, uma irmã, sobrinhas e primos, muitos primos...Foram umas escassas semanas num mundo totalmente diverso daqueles a que ambos estávamos habituados mas onde fomos reencontrar gente que não víamos há imenso tempo, entre os quais, algumas amigas e amigos meus, ex-colegas do Liceu Gil Eanes...
Claro que, com tanta família e tantos amigos, choviam os convites para almoços e jantares que, em mais de 90% dos casos tinham uma coisa em comum: as pernas de frango! Grelhadas, assadas no forno, panadas, enfim, de mil-e-uma maneiras mas...pernas de frango!
Uma das raras excepções aconteceu em casa do Salazar, que me acenou com um bom bacalhau assado no forno no dia em que me fez o convite para um jantar de sexta-feira...
Havia muitos amigos e parentes, os aperitivos eram "de lamber os beiços" e as bebidas frescas escorregavam pela goela voluptuosamente, na tarde quente, quase tropical...
Já cheirava ao "fiel amigo", fervendo nas entranhas de um fogão eléctrico americano super-moderno, daqueles a que só falta falar, como soe dizer-se...A hora do repasto aproximava-se e estávamos nós na árdua tarefa de distribuir os lugares à mesa quando a Lutchinha - mulher do Salazar - apareceu, apavorada com a pior das notícias: ela não conseguia desligar o fogão encastrado e nem sequer abrir a porta do forno, que estava encravada... Claro que apareceram logo uns quantos especialistas que inundaram a cozinha onde já tresandava a bacalhau queimado, enquanto o Salazar, calmamente, telefonava para pedir ajuda a um técnico que só estaria disponível para desencravar a porta do forno na segunda-feira (lá, como cá...) mas que conseguiu dar instruções para o desligar da corrente, evitando males maiores...Os inconvenientes dos aparelhos super-sofisticados...
O que valeu é que, antes, já tinha sido preparada uma lauta travessa de...pernas de frango!
Quanto aos camones, não me admiro absolutamente nada. Essa gente sabe lá o que é uma canja, um puré de favas com presunto, um bacalhau à brás, umas sardinhas assadas, eles só conhecem bifes de um metro de altura com batatata frita, hamburgeures e... chicken, chicken, chicken... Agora os patrícios embarcarem nesse fado é que já é mais estranho. Então nem sequer uma cachupita? Nada?
ResponderEliminarBraça a salivar por um bacalhau à Gomes de Sá,
Djack
CLARO QUE HOUVE CACHUPONAS, LAVAGANGTES SUADOS E OUTROS MIMOS...MAS ISSO SÃO DOS TAIS MOMENTOS DE ÊXTASE QUE NÃO FAZEM HISTÓRIA...VIDÉ NHÔ AMANCINHO...
EliminarBraça bostoniano,
Zito
A história é divertidíssima e primorosamente contada. Com uma boa pitada de humor, diz-nos muito dos hábitos e costumes americanos, que em matéria culinária deixam muito a desejar.
ResponderEliminarEm 2008, fui também aos States e momentos de confraternização do género que o Zito conta não faltaram. Das comezainas e berbecues, apenas me ficou na lembrança o que foi o contributo culinário cabo-verdiano. Por exemplo, a comemoração da independência da América (4 de Julho) juntou-se à de Cabo Verde (5 de Julho) e familiares e amigos cabo-verdianos fizeram uma pequena festança. Da comezaina, o que verdadeiramente me ficou na memória foi um arroz de marisco confeccionado pelo senhor Mário, marido da enfermeira Luzia. Eles estavam de visita ao país, tal como eu.
Grato pelo elogio, Adriano...Claro que, no meio do deserto gastronómico anglo-americano, sempre aparecem uns oásis de outras latitudes e, imagine-se que, em casa de um dos primos da Maiuca almoçamos caras de bacalhau e açorda de ameijoas, temperada com um molho das ditas importado de...Cuba! E, claro, para além dos lavagantes recheados do Pier-4 comemos, de outra feita, uma salada de frutos tropicais com molho de Vinho do Porto e yogurt como nunca degustara antes nem voltei a provar depois...
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