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sábado, 9 de janeiro de 2016

[8809] - O BACALHAU FRUSTRADO...


Nos anos 90 do século passado, tive a feliz oportunidade de, com a Maiúca, ir aos Estados Unidos onde, na altura, residiam a mãe dela, bem como tias, uma irmã, sobrinhas e primos, muitos primos...Foram umas escassas semanas num mundo totalmente diverso daqueles a que ambos estávamos habituados mas onde fomos reencontrar gente que não víamos há imenso tempo, entre os quais, algumas amigas e amigos meus, ex-colegas do Liceu Gil Eanes...
Claro que, com tanta família e tantos amigos, choviam os convites para almoços e jantares que, em mais de 90% dos casos tinham uma coisa em comum: as pernas de frango! Grelhadas, assadas no forno, panadas, enfim, de mil-e-uma maneiras mas...pernas de frango!
Uma das raras excepções aconteceu em casa do Salazar, que me acenou com um bom bacalhau assado no forno no dia em que me fez o convite para um jantar de sexta-feira...
Havia muitos amigos e parentes, os aperitivos eram "de lamber os beiços" e as bebidas frescas escorregavam pela goela voluptuosamente, na tarde quente, quase tropical...
Já cheirava ao "fiel amigo", fervendo nas entranhas de um fogão eléctrico americano super-moderno, daqueles a que só falta falar, como soe dizer-se...A hora do repasto aproximava-se e estávamos nós na árdua tarefa de distribuir os lugares à mesa quando a Lutchinha - mulher do Salazar - apareceu, apavorada com a pior das notícias: ela não conseguia desligar o fogão encastrado e nem sequer abrir a porta do forno, que estava encravada... Claro que apareceram logo uns quantos especialistas que inundaram a cozinha onde já tresandava a bacalhau queimado, enquanto o Salazar, calmamente, telefonava para pedir ajuda a um técnico que só estaria disponível para desencravar a porta do forno na segunda-feira (lá, como cá...) mas que conseguiu dar instruções para o desligar da corrente, evitando males maiores...Os inconvenientes dos aparelhos super-sofisticados...
O que valeu é que, antes, já tinha sido preparada uma lauta travessa de...pernas de frango! 

4 comentários:

  1. Quanto aos camones, não me admiro absolutamente nada. Essa gente sabe lá o que é uma canja, um puré de favas com presunto, um bacalhau à brás, umas sardinhas assadas, eles só conhecem bifes de um metro de altura com batatata frita, hamburgeures e... chicken, chicken, chicken... Agora os patrícios embarcarem nesse fado é que já é mais estranho. Então nem sequer uma cachupita? Nada?

    Braça a salivar por um bacalhau à Gomes de Sá,
    Djack

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    1. CLARO QUE HOUVE CACHUPONAS, LAVAGANGTES SUADOS E OUTROS MIMOS...MAS ISSO SÃO DOS TAIS MOMENTOS DE ÊXTASE QUE NÃO FAZEM HISTÓRIA...VIDÉ NHÔ AMANCINHO...
      Braça bostoniano,
      Zito

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  2. A história é divertidíssima e primorosamente contada. Com uma boa pitada de humor, diz-nos muito dos hábitos e costumes americanos, que em matéria culinária deixam muito a desejar.
    Em 2008, fui também aos States e momentos de confraternização do género que o Zito conta não faltaram. Das comezainas e berbecues, apenas me ficou na lembrança o que foi o contributo culinário cabo-verdiano. Por exemplo, a comemoração da independência da América (4 de Julho) juntou-se à de Cabo Verde (5 de Julho) e familiares e amigos cabo-verdianos fizeram uma pequena festança. Da comezaina, o que verdadeiramente me ficou na memória foi um arroz de marisco confeccionado pelo senhor Mário, marido da enfermeira Luzia. Eles estavam de visita ao país, tal como eu.

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    1. Grato pelo elogio, Adriano...Claro que, no meio do deserto gastronómico anglo-americano, sempre aparecem uns oásis de outras latitudes e, imagine-se que, em casa de um dos primos da Maiuca almoçamos caras de bacalhau e açorda de ameijoas, temperada com um molho das ditas importado de...Cuba! E, claro, para além dos lavagantes recheados do Pier-4 comemos, de outra feita, uma salada de frutos tropicais com molho de Vinho do Porto e yogurt como nunca degustara antes nem voltei a provar depois...

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