Páginas

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

[8906] - ENFRENTANDO A ECONOMIA...

César Palmieri Martins Barbosa - 09-02-2016 
Carlos Burgo, comentando na mesma linha de raciocínio do importante artigo publicado nesse Expresso das Ilhas, segunda, 08 fevereiro 2016 06:00, sob o título "Novas estratégias para quê?" escrito por Paulo Monteiro Jr., descreve e analisa criticamente o actual difícil momento de Cabo Verde, e conclui, acertadamente, em nossa opinião, quando afirma:

"Esta realidade deve inquietar os cabo-verdianos. Impõe-se que sejam consideradas as verdadeiras razões do fraco desempenho da economia caboverdiana no novo contexto internacional e, sobretudo, sejam encontradas soluções que, traduzidas em políticas, possam impulsionar o crescimento sustentável da economia enquanto condição basilar da melhoria contínua do nível de bem-estar da sociedade."

Com relação ao cenário político, nesse ano eleitoral, não me cabe emitir opinião como estrangeiro, brasileiro, que vive no Brasil, sem interesses econômicos e sem direitos políticos em Cabo Verde. 

Estudo e comento apenas as questões estratégicas dos diferentes países, como estudo comparado, sem me poder me envolver em questões da política partidária nos países que não são o meu.

A ESTRATÉGIA CABO-VERDIANA DE ATRELAR A SUA MOEDA AO EURO E A CRISE DE PORTUGAL, A CRISE DO EURO, A CRISE DA UNIÃO EUROPEIA E A CRISE MUNDIAL

Cabo Verde atrelou a escudo caboverdiano inicialmente ao escudo português, e com a entrada de Portugal no euro a ligação do escudo de Cabo Verde, por meio de Portugal, se transferiu do escudo português diretamente para o euro.

O problema é que Portugal, agora, se encontra fortemente endividado, e Bruxelas não cede na cobrança da dívida portuguesa, ameaçando Portugal com os mesmo castigos que infringiu à Grécia e ao Chipre, com a violência de bloqueios de depósitos bancários, confiscos, bancarrota dos bancos que ainda restam e isolamento econômico do País enquanto não for assinado um termo de rendição incondicional e o fim da rebelião contra as ordens da troika e da União Europeia.

Actualmente o governo português empreende uma resistência contra as ordens de Bruxelas, e Portugal se encontra na situação de não poder sair do euro, sem euros, e não poder ficar no euro, sem euros.

Sem poder pagar as suas dívidas com os credores protegidos por Bruxelas, e sem poder relançar o escudo, Portugal se encontra diante de um beco sem saída, temendo cair na situação enfrentada pelos gregos e cipriotas.

É nessa corda esticada que Cabo Verde se encontra estrategicamente pendurado.

A GEOPOLÍTICA CABO-VERDIANA - NÃO É ÁFRICA, NÃO É EUROPA E NEM É AMÉRICA DO SUL - TRATA-SE DE UM PAÍS ARQUIPÉLAGO ISOLADO NO MEIO DO OCEANO ATLÂNTICO.

A geopolítica não é geografia. A posição geográfica é um dos elementos importantes, e em muitos casos determinante da geopolítica, mas as ligações políticas podem determinar uma realidade geopolítica diferente das divisões continentais.

No caso de Cabo Verde, um país arquipélago estrategicamente localizado nas rotas entre a África, a América do Sul e a Europa, e mais remotamente com a América do Norte e até a Ásia, é imperativo se definir qual o continente no qual Cabo Verde dará prioridade na sua geopolítica.

Se a África é o continente mais próximo, todavia a Europa é o continente mais importante sob todos os aspectos,, em especial os econômico, culturais e políticos.

Mas ao contrário dos outros arquipélagos da Macaronésia, as Ilhas Madeira e Açores (Portugal-UE) e as Canárias (Espanha-UE), Cabo Verde após a sua independência declarou, mas não cumpriu, a sua opção pela África e a africanização.

Por pior, tentou se incluir na União Europeia, como um país independente e D'África, sob o eufemismo de parceria estratégica, e não conseguiu sequer uma espécie de assemelhamento com as regiões ultraperiféricas da UE, todas elas partes integrantes de algum país membro da União Europeia.

Existem alternativas de associação, como estado associado, nos moldes de Porto Rico e os Estados Unidos, ou como membro integrante da federação ou província de um estado unitário são os países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), ou ainda mais restritivamente os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP).

Cabo Verde após a independência já foi um estado associado com a Guiné Bissau, com um modelo dois países, um só partido, mas a união foi mal sucedida e acabou.

No âmbito da CPLP, para sair do campo dos meros discursos de integração e receber recursos orçamentários e todo o apoio de um governo central forte, Cabo Verde possui as opções dos estados unitários de Portugal e Angola, e a federação brasileira, pois os demais países da CPLP, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Guiné Equatorial, Timor-Leste e Guiné Bissau ainda estão em um estágio que não agregariam os recursos financeiros, orçamentários e demais serviços que Cabo Verde necessita, na ordem de grandeza de mais de 10 mil milhões de dólares por ano durante muitos anos para atingir o actual nível de padrão de vida das Ilhas Canárias, Açores e Madeira, como um exemplo próximo de potencial econômico evidente na própria Macaronésia.

A época do crescimento e euforia econômica em Portugal, Brasil e Angola, agora se transformou em uma grave crise econômica, que deve se aprofundar pode se aprofundar em um pior cenário possível, pior até do que a crise de 29.

Logo, Cabo Verde como país independente, que nem se encontra inserido efetivamente na integração geopolítica da África ou da Europa, e com grandes afinidades culturais com Portugal, Brasil e Angola que não se traduzem em solidariedade e recursos orçamentários e demais riquezas e um país mais forte para garantir a segurança alimentar, energética, de seguridade social, previdenciária, segurança pública e social, saúde, energia, comunicações, transporte, financeira, e principalmente, o custeio de uma administração pública que seja a principal atividade econômica de Cabo Verde, como ocorre com o Hawaii, ou com os estados brasileiros de Roraima e Amapá nos quais os recursos investidos nesses dois estados ilhados pela amazônia pela federação brasileira, que custeia as suas administrações públicas, que são a sua principal atividade econômica. Os recursos gastos pela federação brasileira nesse dois estados amazônicos ainda com pequenas populações é superior aos seus próprios produtos internos brutos. 

Por esses motivos, creio que Cabo Verde é geopoliticamente um pequeno país arquipélago isolado no Oceano Atlântico abandonado ao destino sem mecanismos geopolíticos que ultrapasse, os níveis insuficientes da caridade internacional e dependente de um acordo cambial com a União Europeia de conversibilidade entre o escudo caboverdiano e o euro, tendo que pagar o preço de entregar os seus recursos de pesca, turismo e demais ativos escassos para receber a ajuda cambial dentro dos seus estreitos limites, o que está a acarretar, no momento, o acelerado endividamento insustentável de Cabo Verde.

http://www.expressodasilhas.sapo.cv/opiniao/item/47562-estamos-a-ficar-para-tras?

1 comentário:

  1. O que, em minha opinião, merece mais relevo é a visão realista e crítica de Cécar Palmieri Cardoso sobre a situação da economia cabo-verdiana e a precariedade do acordo cambial e parceria com a UE.

    ResponderEliminar