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domingo, 14 de fevereiro de 2016

[8909] - CAPITAL ESTRANGEIRO, PRECISA-SE!...

CAPITAL ESTRANGEIRO, PRECISA-SE!
(Editorial)
EXPRESSODASILHAS.SAPO.CV

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Pura coincidência... Este Editorial do Expresso da Ilhas vem corroborar o meu pensamento, plasmado no artigo  abaixo, que publiquei ontem . Não é possível o estado assenhorar-se da economia deste arquipélago a menos que pretenda a sua falência generalizada. Num país anémico como C  Verde, o papel do estado é incentivar o investimento privado e estrangeiro e redistribuir as riquezas, pela via dos impostos. Agora, bloquear o investimento por razões ideológicas e tacanhas só conduz à miséria e à fome de um povo. 
Segundo lemos no Editorial o PM cessante (a um mês das eleições) está num frenesim de viagens à procura de fundos para investir em vários projectos para as ilhas do Norte. Quinze anos depois, o mínimo que se lhe pode dizer é que  "tarde piaste!!!"  Pois, na realidade, o que esse senhor está a fazer é campanha eleitoral disfarçada. Se tivesses a mínima visão de estado, saberia que num país sério os investimentos devem ser redistribuídos pelo país e não canalizados para o seu bairro. Dou-lhe um exemplo, por entre dezenas: o Campus Universitário milionário que decidiu instalar na sua ilha natal, Santiago, deveria ter antenas em várias ilhas e, sobretudo, na ilha que se nomeia Capital da Cultura (na realidade, tendo em conta o marasmo em que a mergulhou, será hoje a capital da Incultura) que, em 15 anos só viu 'peanuts'.  É assim que se faz: o bem, e não somente o mal, deve ser distribuído pelas aldeias! E é este senhor que quer ser Presidente da República de Cabo Verde?...Palavra de honra!!!

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CABO VERDE DIRETO
13FEV2016

2016, O ANO DE MAIS UMA ESCRUZILHADA PARA CABO VERDE


A situação hoje em Cabo Verde faz lembrar a de algumas democracias do leste europeu e de muitos países em vias de desenvolvimento em que o essencial do poder se define no topo da superestrutura, ao passo que o povo, alienado ou desmotivado, só é útil para validar a perenidade dos regimes enraizados e indesmontáveis, pois já confortavelmente instalados no poder com uma poderosa máquina tentacular e propagandística


Segundo notícia do jornal online Cabo Verde Direto, a “África Monitor” dá como segura (?) a vitória do MpD nas próximas eleições legislativas a decorrer em Cabo Verde em Março de 2016.

Recorde-se que o MPD é o maior partido da oposição cabo-verdiana e foi poder durante o período de 1992-2000, após a queda do regime de partido único (PAIGC/PAICV) instalado em Cabo Verde em 1974, graças à convergência ideológica e a conivência de interesses com o MFA surgido do golpe de estado em Portugal em 25 de Abril desse ano.

A acreditar nessa notícia, que reúne credibilidade caso não haja grandes tropeções nesta etapa final, é muito provável que venha a haver alternância política em Cabo Verde. Note-se que o exercício do poder pelo PAICV em três legislativas consecutivas quase que se assemelha à longevidade que se lhe permitiu enquanto governou em regime autoritário.

Porém, caso o PAICV não saia derrotado, será o virar da página do processo democrático iniciado em 1991, havendo agora espaço para a consolidação de um sofisticado regime de partido único em democracia: a sociedade cabo-verdiana e o regime democrático cabo-verdiano estariam colocados perante a perfeita quadratura do círculo, a aspiração infinita pelo poder total e permanente do PAICV. Dada a hegemonia que se consagraria com a vitória em quatro eleições consecutivas, não havendo mais espaço para o jogo da alternância, o próprio jogo democrático torna-se-á impossível, se não inútil, a oposição implodirá ou tornar-se-á irrelevante, e haverá lugar ao empoderamento completo do PAICV, tal como em 1975, mas agora de maneira mais insidiosa e perversa, porque cônscio de uma legitimidade indiscutível, o que abrirá espaço ao cometimento de situações de abuso do poder imprevisíveis. Para além disso, e nesta perspectiva, o actual primeiro-ministro vem, discreta e silenciosamente, movendo os seus cordelinhos para concorrer à presidência da república, o que, a concretizar-se, deixará o poder total entregue a um só partido, tal como se intentou há 4 anos. O pior de todos o cenários se realizaria! O PAICV consolidará a sua atitude de partido autocrático, temido, e bajulado pela sociedade submissa, que prestará vassalagem total e quase infinita, em troca de privilégios e favores, tal como conhecemos nas típicas democracias africanas. O cenário da mugabização de Cabo Verde, já em progresso, estaria consumado.

Se a derrota da oposição acontecer, o que temos que esconjurar para o bem de Cabo Verde, a oposição só poderá culpabilizar-se a si mesma. Pois, é inacreditável constatar como ela consegue ser tão displicente: ao longo das passadas legislaturas praticamente não faz oposição ao poder, deixando o regime solto ou em vilegiatura. Esta postura tem custado caro ao país e à sua população indefesa (pouco instruída, logo facilmente manipulável através da compra de votos e de consciência). Calcule-se o quão pernicioso será para a nossa democracia a impossibilidade de reverter esta situação nas próximas eleições.

Um editorial do jornal online Cabo Verde Direto (1) alerta para os perigos aqui descritos: “o momento deve ser de grande vigilância e empenhamento cívico para que a vontade soberana e maioritária dos caboverdianos e das caboverdianas não saia frustrada em 20 de março. A hora é de cerrar fileiras nas trincheiras da liberdade, da democracia e de defender a República! Existem já suspeitas e mesmo denúncias de manipulação pré-eleitoral tendo já iniciado a utilização de meios humanos e recursos do Estado para influir nas decisões de voto dos cidadãos, acusando a comunidade internacional (a “observação” nas mãos de países africanos cuja postura democrática é a que se sabe) de meter os olhos para o lado e fazer de conta que não se passa nada!”. De resto, o regime tenta condicionar a análise da situação socio-económica de Cabo Verde e o balanço dos 15 anos de governação com uma lei armadilha de cariz fascizante que proíbe durante todo o período eleitoral debate nos meios de comunicação, coisa sui generis em qualquer regime que se pretenda democracia.

Segundo o mesmo jornal (2), O Partido Único (se não mesmo, os resquícios da ditadura salazarista-marcelista) continua a habitar no subconsciente de grande parte dos cabo-verdianos (e, desde logo, no dos comissários políticos da comunicação social do Estado). A ditadura caiu, mas o germe ideológico ficou inoculado e latente ainda por várias gerações. O que exige – natural e necessariamente – um profundo e firme combate ideológico!

A verdadeira realidade desta República que muitas vezes se compara com a das Bananas, vem assim ao de cimo, com tudo o que poderá estar escondido debaixo do tapete, de que a comunidade internacional não se apercebe ou só vê ligeiras exalações fumígenas.

As eleições de Março de 2016 constituirão, pois, um teste para a democracia cabo-verdiana e para o PAICV, e caberá a este partido mostrar sem sofismas se joga efectivamente o jogo da democracia com clareza e transparência ou se continuará com os consabidos truques rasteiros junto do eleitorado. 

Os resultados dessas eleições deverão ser analisados ao milímetro para tirar todas as ilações possíveis.

Como o problema da viabilização económica de Cabo Verde é um caso bicudo, que não pode ser iludido com panaceias, visto que não se compadecerá com soluções milagreiras, maior é ainda a exigência de uma mudança política que inverta o ciclo de estagnação em que temos vivido. Daí que a consagração por via eleitoral de um regime de partido único não será por certo a melhor solução para o país.

Por conseguinte, o PAICV, que de boca cheia se declarava arauto da liberdade e defensor da democracia, tem tido uma prática que, por acção ou omissão, contraria flagrantemente aqueles propósitos, mercê de uma conduta que mais o identifica como um partido autocrático e uma força apostada em bloquear sistematicamente tudo o que traga limpidez e agilização dos processos susceptíveis de fortalecer e aproximar a democracia dos cidadãos. Hoje, é cada vez mais notório que o PAICV acumulou vícios de poder ao longo destes 15 anos no poder, o que, aliás, é uma consequência quase inevitável em qualquer democracia imposta de roldão e não enraizada numa sólida cultura política. Não admira assim que o PAICV tenha infiltrado nas estruturas do Estado uma rede clientelar e de militantes que mais se preocupam em lavrar o terreno para o partido se manter no poder em vez de ter o serviço à nação como o principal móbil.

Há, assim, razões para se pensar que a situação hoje em Cabo Verde faz lembrar a de algumas democracias do leste europeu e de muitos países em vias de desenvolvimento em que o essencial do poder se define no topo da superestrutura, ao passo que o povo, alienado ou desmotivado, só é útil para validar a perenidade dos regimes enraizados e indesmontáveis, pois já confortavelmente instalados no poder com uma poderosa máquina tentacular e propagandística.

Estamos, pois, perante um problema de sanidade social e política, em que a própria sociedade está anestesiada, abúlica e em decomposição social e económica. Serão precisas medidas de urgência para pôr cobro à situação, caso contrário caminha-se para a falência do conceito de Cabo Verde como país soberano e cioso do seu próprio destino, pois para isso é imprescindível o querer e a vontade esclarecida da nação.

Muitos analistas e comentadores tanto nacionais e internacionais (ler comentários às referências 3 e 4) vêm, ao longo de vários anos, analisando a problemática económica de Cabo Verde e deixando avisos claros à navegação, incluindo ao poder e à oposição. Essas análises são em geral independentes, logo menos subjectivas, longe das perspectivas partidárias e dos lugares comuns a que estamos habituados. Vale pena tê-los em conta. Todos evidenciam as encruzilhadas em que se encontra Cabo Verde, a necessidade de Reformas e de uma nova visão geoestratégica do arquipélago para perspectivar o seu futuro neste mundo global. Tal não se faz, é claro, com uma visão pessoal, de quem se levantou numa certa manhã com uma misteriosa Agenda de Transformação (que consiste exclusivamente em construir estradas, pontes e barragens, descurando a economia privada como gerador de emprego, pondo tudo sob a tutela de um estado centralizador e castrador).

É preciso pôr muita gente a pensar o futuro deste arquipélago perdido no Oceano Atlântico ao sabor dos ventos mundiais e ao lado de vizinhos muito instáveis!

Tal não será possível com um regime autista arrogante. Por isso, a alternância democrática abre perspectivas para um diálogo renovado do novo poder com a sociedade civil. Pelo que o apelo à Mudança é um veemente alerta a que a nação deve responder para o bem de Cabo Verde e dos cabo-verdianos.

José Fortes Lopes | jose.flopes@netcabo.pt

[escrito com a antiga grafia da língua portuguesa]

3 comentários:

  1. OK, OK, eu vou ler, mas só depois de ir roubar uma lente do farol do djéu.

    Braça às cegas,
    Djack

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  2. As próximas legislativas vão, efectivamente, colocar-nos numa encruzilhada. Que o povo das ilhas abra os olhos e escolha o caminho certo.

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  3. It is now or never pois parece que estamos no sistema de partido único fingindo estar em democracia. O problema é que o povo contenta-se com pouco e fica apegado a algo que já deu o que tinha que dar, e não consegue dar a volta. Realmente precisa-se de alternância.

    Matrixx

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