Da série vamos malsinar o que está mal: A TACV conseguiu deixar-me feliz. A sério que não é deboche | Rony Moreira...
O que se torna engraçado em toda esta trapaça financeira é a curiosidade de a TACV não distinguir nenhum cidadão nem pela cor, nem pela classe social e nem por nunca ter montado um avião. Todo o cidadão, mesmo que nunca tenha viajado de avião na vida, vai estar obrigado a pagar a fatura
Sou o único cabo-verdiano feliz com a TACV. E isto não é gozo e nem troça. Eu estou realmente muito feliz com a TACV, porque a transportadora nacional abicha estar melhor quando está sem aviões. Sem aviões, não há atrasos e nem demoras, o cliente fica satisfeito e, assim, a TACV consegue finalmente deixar o passageiro com um sorriso para a fotografia. Isto tudo só foi possível, porque a transportadora aérea de Cabo Verde abiscoitou [não confundir com o coito interrompido] para si a proeza de deixar um dos seus aviões ser arrestado no solo civilizado da Holanda.
O que não me tem agradado nada nesta estória é o deboche. Existe uma regra de ouro sobre a ciência do deboche que não está a ser cumprida integralmente - a regra da alcoviteirice -, de que não devemos zombar do proxeneta[1] que faz das tripas coração para ser um tipo porreiro. Ainda para mais, quanto este gestor porreiro tem a pura intenção de tirar do abastado do Estado para dar ao pobre e macambuzio passageiro sentado no assento número 33, da fila D. Acredite, este passageiro não sou eu, embora esteja feliz com a TACV. Neste caso, o deboche não pode conter mais do que 666 (seiscentos e sessenta e seis) mililitros de chacotice e pouco teor de chalaça. Há quem defenda risos contidos. Sem respeitar estes quesitos de qualidade, o deboche não pode ter o selo de qualidade. E sendo um deboche sem nenhuma qualidade, quando a situação não é para rir, só nos sobra chorar.
Desta feita, qualquer deboche que tenha o propósito de nos fazer rir da gestão da TACV deve ser obrigado a embiocar níveis da chalaça e de chacotice, abaixo da seriedade, para não melindrar a assombrosa dívida de 100 milhões de euros da companhia aérea de Cabo Verde. Já que no final, mesmo sem participarmos na lambança, seremos nós [os patos desta história] a pagar a fatura. O que se torna engraçado em toda esta trapaça financeira é a curiosidade de a TACV não distinguir nenhum cidadão nem pela cor, nem pela classe social e nem por nunca ter montado um avião. Todo o cidadão, mesmo que nunca tenha viajado de avião na vida, vai estar obrigado a pagar a fatura.
A única coisa que o cidadão devia exigir ao executivo, é que o governo tenha a amabilidade de colocar um portão de check-in em todos os serviços do Estado. Seria encantador ao aproximar da porta de qualquer repartição do Estado, aquela voz feminina dos aeroportos anunciar: cidadão que queira usar o lavabo, porque favor siga e aproxime-se do balção de embarque. Nunca mais ir para o lavatório público seria igual, já estou a delirar com o chão da Holanda. (In Cabo Verde Direto)
Rony Moreira | ronymoreira81@hotmail.com
Um texto recheado de humor, com boas doses de chalaça e picardia, em que a actual situação da TACV é passada em revista. Não fosse a gravidade da situação, haveria razões para soltarmos umas saudáveis gargalhadas com esta gozação. Mas não o faço porque a situação da companhia aérea deixa-nos a um tempo tristes e envergonhados, obrigando-nos a interpelar muito seriamente sobre a real capacidade de o país arcar com muitos dos seus encargos como país soberano. Ostentar uma companhia aérea é um deles, o que tem que se lhe diga quando um país depende da comunidade internacional para manter de pé o edifício da sua soberania, enquanto não consegue sustentá-la minimamente com os seus próprios recursos.
ResponderEliminarParece cada vez mais evidente que Cabo Verde tem de encontrar uma solução para a TACV, que inevitavelmente passará pela privatização. O que não surpreende quando em quase toda a parte se assiste a constantes reformas e manobras equilibristas para que as transportadoras consigam sobreviver no cada vez mais competitivo mercado aéreo. Mas quando, no caso de Cabo Verde, a posição geográfica central a coloca longe das plataformas de distribuição – hubs – o problema torna-se complicado e é mesmo de questionar se algum privado estará interessado no negócio. Proliferam as companhias low cost e as companhias charter, alterando completamente o modelo tradicional.
Como sobreviver neste cenário? Há quem diga que a TACV tem elevados custos de manutenção mercê do número sobredimensionado do pessoal que a serve. Bastará o emagrecimento do pessoal para que o problema se resolva? Não sei, e por isso não adianto palpites porque não estou devidamente informado e não sou um especialista no assunto.
Adriano conclusão Cabo Verde é um busílis quanto mais se se acrescentar populismo demagogia gestaão ruinosa ou danosa. Aqule país está feito ao bife!!
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