Uma operação de resgate da democracia em que se implicou uma importante franja da chamada sociedade civil, cada um conforme pôde, na terra-mãe e na terra-longe. De modo que a campanha não foi apenas nos comícios e nas visitas porta-a-porta – ela foi também obra de um movimento de cidadania que se exprimiu em debates públicos, na Imprensa clássica, nas redes sociais...
«oooOooo»
Desta vez os Caboverdianos não foram às urnas unicamente para cumprir um ritual da democracia pluralista. As eleições do dia 20 de março não foram apenas um simples gesto de cidadania a consubstanciar a ordem democrática vigente, até porque eleições é o que não falta por esse mundo fora, quantas vezes para enganar os incautos e legitimar tiranos no poder!
Desta vez foi algo mais: depois de quinze anos e sucessivas eleições, quantas vezes sujeitas a caução, o Povo compreendeu que ERA CHEGADA A HORA DE RESGATAR A DEMOCRACIA, expurgá-la dos resquícios e comportamentos de partido-único, caso contrário ela corria o risco de perder a sua essência. Por isso o pleito eleitoral do dia 20, para além do simples acto de votar, foi, a bem dizer, UMA OPERAÇÃO DE SALVAMENTO!
Uma operação de resgate da democracia em que se implicou uma importante franja da chamada sociedade civil, cada um conforme pôde, na terra-mãe e na terra-longe. De modo que a campanha não foi apenas nos comícios e nas visitas porta-a-porta – ela foi também obra de um movimento de cidadania que se exprimiu em debates públicos, na Imprensa clássica, nas redes sociais... Nele pontificaram jornalistas, professores, escritores, estudantes, funcionários e tantos outros democratas, uns claramente afectos à Oposição, outros por acreditarem que quando estão em causa a ética e a equidade face aos favoritismos de clã, devemos ser capazes de passar por cima de militâncias partidárias e lembrar que somos, antes de mais, cidadãos.
Dito isto, importa reter o seguinte: mais do que o MpD, quem ganhou estas eleições foi a sociedade civil - porque o pleito eleitoral, desta vez, transcendeu os partidos. O partido da militância não conseguiu travar o amplo movimento de cidadania que foi tomando forma face às injustiças, discriminações e nepotismo declarado que, se já vinham da independência e atravessaram a década de 90, fizeram escola na primeira quinzena deste século, numa espécie de retorno à "democracia" monopartidária.
E no dia 20, o Povo, com o seu voto, fez o resto, enviando uma mensagem clara e inequívoca à classe política: nenhum regime com resquícios de partido único será legitimado nas urnas! Porque o Povo, soberano, também é sábio: quando um clã de iluminados se agarra mordicus ao poder e a democracia corre o risco de ser confiscada ao serviço de compadres e comparsas, ele próprio, Povo eleitor, pela mesma via - a das urnas - volta a restabelecer a alternância que se espera de uma democracia digna desse nome. Que todos os partidos políticos escutem esta mensagem! (in Cabo Verde Direto)
Mantenhas da terra-longe, 23 de março 2013
David Leite | davleite@hotmail.com
Penso que o título diz tudo: RESGATADA.
ResponderEliminarMas foi dado apenas o primeiro passo. O que está para vir será o mais espinhoso até que a democracia possa sentir-se livre das grilhetas.