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segunda-feira, 23 de maio de 2016

[9239] - O ESTATUTO DA POLÉMICA...

Logo após o anúncio do primeiro-ministro, os regionalistas começaram a manifestar as suas opiniões contrárias ao estatuto. Consideram estranha esta “unidade” entre o MpD e o PAICV e defendem que, em vez de fazer alianças com o partido derrotado, Ulisses Correia e Silva deveria primar pelos consensos


O anúncio foi feito pelo primeiro-ministro durante a sessão solene que celebrou o dia do município: a Praia vai ter um Estatuto Especial Administrativo, uma velha reivindicação da autarquia da capital, que agora recebe também o apoio do PAICV, manifestando disponibilidade para se juntar ao MpD e somar os 2/3 necessários para aprovação no Parlamento.

Quem não concorda com a ideia são os regionalistas que, nas redes sociais, vieram já atirar “fogo” contra a iniciativa e esta “unidade” entre MpD e PAICV. É o caso de um dos rostos mais conhecidos do Movimento para a Regionalização de Cabo Verde-Diáspora, José Fortes Lopes.

“Nem passou o estado de graça e este governo, que parece ter saído da CMP, vem com um anúncio polémico, controverso, altamente lesivo para os interesses e a dignidade das outras ilhas deste arquipélago”, considera o professor da Universidade de Aveiro (Portugal), interrogando: “Será que o governo do MpD vai poder honrar os compromissos com o povo ou vai ser a imagem do espelho do PAICV?”.

O professor da Universidade de Aveiro (Portugal) e natural de São Vicente alega que o governo “devia primar pelos consensos” em vez de aparecer “com o estatuto saído da cartola em acordo exclusivo com o partido derrotado”, e denuncia aquilo que considera ser o “lobbismo” praiense, que tem por detrás a associação PróPraia.

“É claro que a regionalização vai ser boa para Santiago, vai consagrar as duas regiões e arrecadar mais dinheiro. De resto, Santiago é a única ilha de cabo Verde com regionalização”, diz o professor, acrescentando que “tudo leva a crer que este Estatuto Especial vem sendo cozinhado de longa data através do lobbismo”.

Segundo José Fortes Lopes, “a dimensão da situação é tal, que o antigo presidente da CMP, agora primeiro-ministro, informou que tinha-se batido para que este estatuto fosse para a frente”, mas, ainda segundo o professor, é sabido “que isso não foi para a frente porque o PAICV não se viu seguro com este projeto polémico”, quando estava no governo.

Para José Fortes Lopes, o argumento do primeiro-ministro de que “a capital tem um desafio permanente de ser uma cidade mais inclusiva, que consiga resolver os problemas ainda básicos que existem nos bairros e requalificação urbanas, acesso à água e o saneamento”, é uma falsa questão, já que, o mesmo argumento poderia aplicar-se a outras cidades do mundo. “A questão que se coloca é se para resolver estes problemas que o PM invoca é preciso estatuto especial. Então, bolas, todas as cidades do mundo devem ter o tal estatuto especial, é só vir à Praia estudar, pedir conselhos à PróPraia e está feito”, diz com ironia o professor, sublinhando que, caso vá para a frente, a Praia será a primeira capital do mundo a ter um Estatuto Especial.

Estes problemas da capital, ainda segundo o professor, “têm a ver com políticas erradas e incúria, que se acumularam durante décadas”, através da “concentração humana, falta de planificação, imprevisibilidade” e “corrupção”, entre outras. “O caos da cidade da Praia só se resolve com boas políticas e não com dinheiro e mais regalias”, sublinha José Fortes Lopes.

Redação - Cabo Verde Direto

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