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domingo, 23 de outubro de 2016

[9825] - MEMORIAL EM ÉVORA...


Na Praça Grande uma pedra nova e branca,
Redonda como a roda da tortura
Em que sofreram os que depois queimados
Expiaram a culpa, de não ter culpa
De não ter medo!
Uma roda branca, de mármore
Gravado de palavras mudas
Que escurecem os céus
Da nossa memória
Gritadas agora no passar dos séculos
Em homenagem aos torturados
Massacrados, queimados vivos
Em labaredas acesas de ódio e intolerância
Que morreram gritando a sua culpa
De não ter medo!

Rasa no chão, como um túmulo,
Cercada de granito como árvore
Pronta a florescer,
No lugar da fogueira que antes foi!
Ostenta calada, num silêncio ensurdecedor
Um tempo que a memória não apaga
Mas que hoje naquela pedra molhada
Pede perdão, com símbolos gravados
Sem cor, entalados entre círculos 
Inclusivos e concêntricos.
É uma pedra rasa num mármore
Mais antigo do que o homem, 
Feita de memória, tolerância, perdão e paz, 
Por isso é branca.

Évora, 22 de Outubro de 2016
Blogue "A Cinco Cores"
Poema: Maria Barradas
Foto: Ana Beatriz Cardoso
Escultura. João Sotero

1 comentário:

  1. Boa ideia teve o Zito em publicar este poema. Que é lindo e ajustado aos factos.
    Senti curiosidade em ir ao blogue citado, "A Cinco Tons". A respeito deste poema encontrei lá o seguinte comentário de alguém: "Daqui a outros 400 anos, teremos as nossas gerações futuras a lembrar as vitimas dos sucessivos governos de Esquerda deste país..."
    É este tipo de pensamento que me leva a crer que a Inquisição não foi ainda completamente extirpada dos nossos espíritos. Dá impressão de que há influências malignas na alma que se impregnam de tal maneira que entram na genética e vão passando de geração em geração. Até quando vão desaparecer de vez? Será que é preciso organizar um exorcismo colectivo?

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