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terça-feira, 8 de novembro de 2016

[9885] - A ILHA FASCINANTE...


SEIS FACTOS QUE FAZEM DE SÃO VICENTE UMA ILHA ENCANTADORA
7 NOVEMBRO 2016 // NURIA NATURAL

Quando ainda era criança, a minha mãe nos levou eu e o meu irmão cá de Santo Antão para viver em Mindelo – uma cidade encantadora cercada por uma baía linda de água aquamarina, Mindelo era um terreno fértil para viajantes, poetas, músicos e escritores prolíficos, e se ainda me lembro bem, camiões de areia.

Mas após alguns anos a nossa mãe viajou para os Estados Unidos e nós seguimos para a ilha de Santiago onde passamos a viver com o nosso pai.  História típica, quiçá, da família cabo-verdiana.  De aí em diante passámos todas as nossas férias na ilha de Santo Antão nas casas das nossas avós e dos nossos tios.  Mesmo anos depois, após seguirmos para os Estados Unidos, sempre que regressávamos dividíamos o nosso tempo entre Santiago e Santo Antão, passando por Mindelo obrigatoriamente sem muito interesse em ficar mais do que um só dia.  Assim, fomos perdendo a ligação que um dia tivemos com aquela cidade.   No entanto a nossa mãe, sempre fascinada nos falava da ilha com uma sodade que não éramos capazes de sentir.  Embora tenhamos sido felizes, Mindelo nos recordava as separações, as partidas, e todas as mudanças que vivemos quando éramos pequenos.

Corremos a fita e em 2015 planeava regressar às ilhas à sério, prometi a mim mesma que ia redescobrir São Vicente, dar-lhe uma oportunidade, deixar me levar e quiçá também me apaixonar pela cidade que a minha mãe sempre amou e sempre fez questão de ser parte.  Mindelo, a cidade que transmite diversão e a criatividade infinitas.  Finalmente parei mais que uma noite, e entre Julho e Fevereiro, vivi momentos que me fizeram por fim compreender todo o fascínio da minha mãe por esta ilha encantadora!  Ainda assim tenho a certeza que não vivi e nem senti metade do que ela ali um dia viveu e sentiu.

Amizade 

Liguei um dia para o meu irmão nos Estados Unidos só para lhe informar que estava feliz em Mindelo onde eu podia ver os meus amigos diariamente.  (Coisa rara na minha antiga vida nos Estados Unidos e mesmo hoje quando passo pela ilha de Santiago).  Amigos com quem fazer uma serenata na praia do Lazareto, ou jogar tênis na praia da laginha, pessoas com quem conversar e partilhar um chá e uma fatia de cuscus quentinhos na cidade.  Companheiros para ir ao teatro, amigas com quem passar um domingo no Calhau debaixo de um pé de amêndoas gigantesca, decorada com cadeiras e mesas de materiais reciclados.  Amigos com quem dançar aos Sábados na Rua de Lisboa e ainda percorrer todos os bares da cidade para ouvir um pouco de música aqui e ali.  Enfim, Mindelo é único nesse sentido, um lugar onde os amigos estão sempre presentes e dispostos a partilhar os encantos da sua cidade.

O Mercado

Tanto o plurim na Praça Estrela como o Mercado Municipal continuam a ser o meu restaurante favorito em todo o arquipélago.  Neste último, um edifício de dois pisos se encontra diariamente uma variedade de alimentos numa exposição que assemelha a um arco-íris.  Veludo, mancarra, tamaras, simbron, calabacêra, groselha, goiaba, abacate, banana, papaia.  É para lá que normalmente vou na hora do almoço para escolher as frutas da época, emprestar talheres e pratos nos restaurantes por perto e fazer uma refeição improvisada, sentada lá no piso 2, para deliciar num piquenique único com o rosto para a cidade e a sua linda baía.

Literatura

Qual é o valor de uma cidade sem uma única biblioteca ou livraria?  Pergunto-me todos os dias cá em Porto Novo onde a biblioteca da minha infância parece que há muito deixou de existir.  Adorei São Vicente pela variedade de espaços dedicados ao estudo, à leitura, aos livros.  Quer na biblioteca municipal, onde ainda se pode embriagar com o aroma dos livros que enchem as suas estantes, quer na Mediateca ou nos Centros Culturais, ou até mesmo nos café-bares como Livraria Nhô Djunga ou La Pergola, Mindelo continua sendo a cidade que sempre respirou o amor às artes e à literatura.

Música e mais Música

Nenhuma outra ilha vive tão intensamente a música de Cabo Verde!  Fiquei absolutamente fascinada quando cheguei no verão do ano passado.  Pois embora havia deixado todos os meus discos cabo-verdianos nos EUA, a sensação que tive foi que nunca houve tal separação.   Por onde quer que eu passava podia escutar as mesmas canções que ouvia nos EUA – nas casas de pessoas amigas, nas rádios, nos estabelecimentos comerciais, nos restaurantes, nas ruas.  Enfim, nunca me senti tão em casa. Para além disso, nas noites de Sábado a Rua de Lisboa serve de palco onde os músicos da ilha são encarregados de entreter o povo.  Para sempre lembrarei das tardes de Domingo a passear na praça da cidade do Mindelo com a minha mãe e o meu irmão quando éramos pequenos.  Comíamos mancara e algodão doce ao som da banda municipal que se instalava numa espécie de varanda a tocar pela noite adentro.  Fiquei feliz por descobrir que a tradição continua ainda hoje.  Só que agora somos crescidos, portanto depois da Rua de Lisboa e da praça, ainda podemos ir aos outros recantos da cidade para ouvir mais música!

A vida calma

É impressionante como em Mindelo parece que sempre há tempo para tudo!  Ninguém reclama que tem que ir às compras ou buscar os filhos na escola.  Pelo contrário, as pessoas madrugam-se para exercitar o corpo diariamente caminhando ou pedalando rumo às belas praias da ilha.  Ou para preparar as refeições para as suas famílias.  Como se não bastasse, ainda resta sempre tempo para tomar um café relaxado, ir ao encontro dos amigos na praia após o trabalho, levar as crianças ao parque, assistir uma peça de teatro e só depois preparar para o dia seguinte.  Em Mindelo sim, somos lembrados que como dizia um amigo no outro dia, o dia tem 24 horas e não 12 como muitos pensam.

Força de vontade

A qualidade que mais aprecio nas pessoas dessa ilha é o seu desprendimento, a vontade que sempre têm de realizar novas experiências sem medo de errar.  Desde o Aquiles-Eco Hotel localizado na praia de São Pedro feito totalmente à base de materiais sustentáveis e que ainda conta com um sistema de re-utilização de água entre várias outras características que o tornam num projeto ecológico exemplar no mundo!  Às noites de cinema no meio da baía da cidade que pude presenciar no ano passado e até mesmo o enterro do Carnaval que foi algo completamente diferente do que havia imaginado.  E para completar a exposição continua da Cesária Évora no Palácio do Povo, onde 825 peças estão em exibição desde 2015 graças à dedicação e ao trabalho do colecionador Francisco Rocha.

Não cometam o erro que um dia cometi, e pensar que já viveram tudo ou que já conhecem de cor toda a experiência desta ilha, que embora tenha a fama de ser a ilha onde as pessoas realmente sabem fazer uma festa, há muito ainda sobre ela por descobrir.  Aliás isso sempre foi evidente quer nas composições ou na literatura dos seus autores, compositores e os demais filhos de São Vicente, a ilha fascinante.

4 comentários:

  1. Em São Vicente, como no restante Cabo Verde, não apenas os "nossos" amigos são simpáticos. Mesmo aqueles com quem nunca falámos e com os quais por isto ou por aquilo acabamos por ter de falar são também simpáticos (com as inevitáveis excepções que, como sempre, confirmam a regra).

    Quanto ao resto, são confirmações do que já sabíamos. E esperemos que assim continue a ser.

    Braça são-vicentina,
    Djack

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  2. OlÁ, AMIGO JACK...JÁ TINHA CONSTATADO O SEU REGRESSO Á REDE...
    Abraço
    Zito

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    1. Depois do trabalho, há sempre regresso. Mas já se perfilam outras tarefas no horizonte. Uma de escrita, para despachar até dia 15, outra de mais longo desenrolar e complexidade, para 2017, ambas com Cabo Verde pelo meio. Logo daremos notícias.

      Braça atunal,
      Djack

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  3. A narrativa de alguém que redescobriu Mindelo.

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