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sábado, 2 de novembro de 2013

(6033) - BALADA II ...

 
Amigos,  é necessário sair da nossa ilha para se ver a realidade da nossa própria ilha e, sobretudo, compararmo-nos com os outros, ver as nossas limitações e ajudarmos a nos conhecermos a nós próprios. Isto é uma recomendação válida para o mundo inteiro, mas sobretudo para povos ilhéus: sair do mundinho, conhecer outras realidades e, estando em Lisboa, a nossa metrópole, ir para além do Rossio, caso contrário multiplicaremos as pirraças a que nos vamos habituando, porque alguns acham que podem inventar a roda. Nenhum povo, nenhuma nação se consegue desenvolver olhando unicamente para o seu umbigo. Afinal, somos todos um pouco ilhéus dentro de nós, os outros, são os nossos continentes.

Abraço,
José Fortes Lopes
 
 

(6032) - BALADA...


Mindelo, Doce Mindelo

23 de Outubro de 2013 às 13:39

À medida que escrevo estas palavras envoltas na melancolia que aprisiono, sinto a brisa fresca desse meu mar da Praia de Bote. Meu e de todos os mindelenses que sentem o mar e a marginal como parte integral das suas integridades e suas variadas personalidades. Miro o edifício da Rádio e vejo a imagem imponente que dele tive, no verão em que pratiquei vela sobre esse mesmo mar eutrófico e lodoso. Deslizava sobre esse meu mar, nosso mar, no barco da classe optimist e sentia a liberdade que o vento me entregava em mãos ao fustigar a vela, enquanto sussurava as amarguras de Mindelo em meus ouvidos. E as gruas velhas, enferrujadas, enormes e impávidas, ladeadas de montanhas de conchas na ponta do velho cais da alfândega, que sempre me levaram, numa autêntica viagem, ao tempo em que protagonizaram braços-de-ferro ferozes com as cargas destinadas aos vapores que sempre alegraram a sumptuosa Baía. No horizonte deste mar, azul, manso, resiliente, jaz o gigante guardião desta cidade esquecida no tempo e perdida na vida. O Monte Cara, se pudesse, hoje chorava, soluçava e berrava de angústia. Ele que presenciou o esplendor desta cidade nos tempos áureos da presença inglesa, onde o carvão era o motor da economia da ilha, hoje choraria ante o desamparo desta ilha que outrora foi berço de inovações, foi fruto do engenho dos filhos da ilha para ultrapassar as vicissitudes arquipelágicas que todo o ilhéu conhece. Passeio a mente pela marginal, pensando nesta minha ilha, nesta minha gente e indagando o motivo, o percurso histórico e as soluções para este meu Mindelo, Doce Mindelo. Desespero perante este cenário triste em que se afunda Mindelo a cada dia que passa nesta nossa cronologia. Fecho os olhos e oiço os apitos na Baía quando se dão as 12 badaladas anunciando o final do ano e ínicio do Ano Novo, vejo a alegria contagiante com que as pessoas festejam. Consigo ver os esplêndidos e fulgurantes andores do carnaval e sentir o ribombar das batucadas que nos fazem mexer automática e freneticamente, mesmo que sejamos péssimos dançarinos. Vejo a creatividade estampada no rosto e nas vestes dos actores do carnaval de rua, onde as críticas sociais, personificadas em verdadeiros circos ambulantes, são ladeadas pela pura demonstração do humor típico do mindelense, quando este se transforma nos mais variados personagens. Vejo a Rua de Lisboa agora enrugada, caquética e a gritar por um bálsamo que lhe traga a jovialidade de outrora. Sinto o cheiro característico da Rua da Praia, o cheiro a peixe. Por momentos incomoda, porém ao me fazer relembrar que este é o cheiro da luta dos pescadores que madrugam, arriscando a vida, em perseguição do dia de trabalho, animo-me e até celebro haver este cheiro no ar. Este cheiro da vida das peixeiras que, com a sua lábia característica e aperfeiçoada com o passar do tempo, convidam a comprar a bela cavala que para nós olha com os olhos lânguidos. Celebro este cheiro por ser o cheiro da vida das gentes deste meu Mindelo, Doce Mindelo. Continuo o meu passeio pela cidade que me viu nascer e crescer. Vejo a praça Estrela, o campo de ténis,  Liceu Ludgero Lima, o Liceu Velho, a Praça Nova, o Campo Novo, o Fortinho, a Ribeira de Vinha e ainda a minha eterna Ribeira Bote, palco das minhas mais belas e atrevidas aventuras. Lugares de excelsa importância na vida desta minha gente. Mas que agora carregam uma atmosfera lúgubre fruto da desilusão que a ilha sofre. Será o povo, será a História, será o tempo ou será a reconversão de certos valores humanos intrínsecos? Qual o motivo desta decadência, visível e entristecedora, desta minha eterna Cidade? Meu Mindelo, Doce Mindelo, orgulho-me de ser fruto das tuas entranhas, orgulho-me deste mar imenso que te abraça em consolo hoje em dia, orgulho-me essencialmente por ter vivido tudo aquilo que hoje me alegra, me fortalece e me faz ser quem sou.  Sendo filho da ilha, espero poder dar o meu contributo para a reabilitação dos pilares desta tua magnânima estrutura que muito suporta e suportou. Desabafo nestas linhas o meu orgulho e minha actual tristeza por esta minha Cidade do Mindelo, Doce Mindelo.
"É necessário sair da ilha para se ver a ilha. Não nos vemos se não saímos de nós." (José Saramago)

Teu Filho, James Silva Ramos


 O amigo Adriano Lima, leu o texto, disponilbilizado pelos tios do autor e, claro, comentou com o brilhantismo que lhe reconhecemos...
 
 
Realmente, é belo este texto do vosso sobrinho, Fátima e José. Bordado em poesia, o jovem deita para fora a sua nostalgia e a saudade não mitigada de imagens oníricas que se mantêm perenes, resistindo a estes tempos de desamparo por que passa a nossa ilha natal. Mas se a ilha ainda assim conserva e suscita o mistério que mantém vivo o sonho, há razão para não desesperarmos. Só uma realidade viva é capaz de manter o sonho intacto, e este provém dos recessos de uma alma colectiva em que se misturam pulsões, sentimentos, encantamentos e paradoxos, mesmo que por vezes sem o nexo causal que permite aquela materialidade que alguns alegam não possuirmos. Mas esses têm é inveja de não conseguirem olhar para além disso como nós somos capazes. É esta a diferença. O ser mais evoluído é o que consegue perscrutar-se e inventar-se para melhor percepcionar o que o cerca. A minha filha mais nova acompanhou-me no ano passado na viagem que fiz a S. Vicente e ela confessou-me que se comoveu por algo de místico que sentiu na nossa ilha. Disse ela qua não obstante os sinais de pobreza indisfarçável que viu em algumas pessoas, notou-lhes um ar de quem inventa e mantém uma permanente alegria dentro de si.
Abraço
Adriano

 

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

(6029) - DESABAFOS...

Quando veremos em S.Vicente placas alusivas aos nossos ilustres nas casas onde nasceram ou onde viveram, onde exerceram ou onde faleceram ? Quanto custa uma simples placa do tamanha das que anunciam o nome das ruas?

Mais de uma vez trouxe o assunto, sugeri a um amigo membro da Câmara Municipal mas... nada.
Sempre que vou à livraria passo  ao lado de uma placa que diz: Aqui nasceu Balzac.
Porque não essa homenagem aos nossos ilustres que não tiveram (ainda) o seu nome numa rua ou numa praça?
Se tivesse a oportunidade de votar, além de outros como este meu professor, dava logo o meu boletim para "Nesta casa viveu César Marques da Silva, o criador do Éden Park". A nora, que ali está rija e valente, aceitaria reconhecidamente.
E somos muitos a ir fazer uma peregrinação!

...oooOooo...

Isto escreveu Valdemar Pereira, a propósito de uma foto de Nhô Baltas, publicada no blog "Esquina do Tempo"...Lá dos Estados Unidos, veio um éco, que tomamos a liberdade de dar à estampa:

Date: 2013/11/1
Subject:
To: Valdemar Pereira
Meu Caro Amigo
No nosso Cabo Verde são poucos os que se lembram do César Marques da Silva, dono do Eden Park que, durante muitos anos, serviu de escola para vermos como era o mundo lá fora... Quando saíamos de SVicente não chegávamos "Brobe", ou melhor, "espantados", a lugar algum porque já tínhamos visitado esse lugar através do ecran do Eden Park. O povo é ingrato e não vale a pena tentar corrigi-lo...
Envio-te um comovido abraço de agradecimento por ainda te lembrares dele: Nho César de cinema!
Saudacões amigas do sempre amigo
Tony Marques

terça-feira, 29 de outubro de 2013

(6009) - O EDEN-PARK, DE NOVO - Episódio III

O MEU COMENTÁRIO AOS COMENTÁRIOS AO
POST 6005, COM AS MINHAS SAUDAÇÕES...
 
Bloggerzito azevedo disse...
Amigo Val, custa a qualquer cidadão mínimamente sensivel ver a desaparecer ou a desmoronar-se peças do patrimonio cultural e social da sua terra, sejam quais forem as motivações...Veja-se, a propósito, o que escreveu o anónimo que, daqui, saúdo!
Os responsáveis fazem o papel de filhos pródigos que, em dois tempos, desbaratam a fortuna que os pais e os avós amealharam ao longo de centenas de anos de sabe-se lá quanto sacrifício e trabalho árduo e honesto...O que se está a passar na terra que amo é vergonhoso e, infelizmente, temos que ser nós, os mais velhos, a levantar a voz, pois os jóvens, ao que parece, estão mais interessados noutras actividades, quiçá mais lúdicas, e nem se dão conta que, em vez de património, estão a herdar ruínas!
Braçona, de amizade e revolta!
Zito
29 de Outubro de 2013 às 10:07

domingo, 27 de outubro de 2013

(6006) - O EDEN-PARK, DE NOVO - Episódio II...

Ainda Eden Park, Facebook, desta vez João Branco...
Vejam imagens de decadência e  incúria nestas imagens ao fundo do Eden Park, cada dia que passa é um passo para a demolição. Qualquer dia aparecerão os tais cidadãos mindelenses que gostam do moderno e do progresso da nossa terra a reclamar a demolição urgente deste pardieiro, lixo da história...
Mas bolas! Quando é que o Eden Park o Fortim e o Liceu Velho terão uma resolução favorável??? Ah Calê!
JMN é mesmo …., ganharia S. Vicente pegando nestes três projectos:
Um cluster da Cultura para S. Vicente, pourquoi pas, só pela cultura é que se pode salvar esta ilha!
 
José Fortes Lopes
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(6005) - O EDEN PARK, DE NOVO...

 
 

https://fbcdn-profile-a.akamaihd.net/hprofile-ak-ash2/1117923_100000792514684_1282711234_q.jpg
há 10 horas · Editado
Infelizmente, falando do Éden-Park é esta triste realidade que temos. Condenado, apodrecido, abandonado. Provavelmente, o maior património coletivo cultural do arquipélago. Quantos passaram por lá? Uma nação inteira

 
(Com a devida vénia)

(6004) - MATIOTA, ANOS 60 -Episódio II...

Um comentário meu sobre a Matiota no blogue http://arrozcatum.blogspot.pt/
A DESAPARECIDA PRAIA
DOS FALCÕES...
S,Vicente - Cabo Verde
A Matiota esta praia secreta descoberta pelos ingleses que a baptizaram de Step, devido ao trampolim que aí construíram, posteriormente adotada pelos mindelenses, era uma autêntica estância turísticas à escala da ilha e do tempo, frequentada por milhares de banhistas de todos os extractos sociais. O acesso não era tão fácil e a estrada deve ter sida construída tardiamente. A Matiota era também um lugar de memória, é um património hoje registado na nossa alma. Foi um ponto de encontro de toda a sociedade saovicentina tendo inclusivamente transformado num ponto de referência cultural de toda a ilha, com as famosas noites cabo-verdianas imortalizadas pelo saudoso Bana. Quando penso nesta praia só tenho saudades da minha infância e das coisas que por aí passaram. É possível um dia pensar na reabilitação deste local e de toda a área circundante que inclui a Laginha (daí muitos mindelenses terem saltado a tampa quando ouviram falar das obras da Praia nesta outra praia), não seja para a preservação desta memória já que o local foi aparentemente a jamais condenado para um local de actividades económicas e portuárias. Não farei nenhuma consideração política pois já o fiz abundantemente noutros post.
 
José Fortes Lopes

sábado, 26 de outubro de 2013

(6003) - MATIOTA, ANOS 60...

A DESAPARECIDA PRAIA
DOS FALCÕES...
S,Vicente - Cabo Verde
 



Fotos cedidas por
Manuel Marques da Silva
 

terça-feira, 22 de outubro de 2013

(5986) - TUTUTA...

O filme acabou ontem de ganhar o prémio de melhor filme no Cabo Verde International Film Festival!

Se não conseguir visualizar esta mensagem correctamente,clique aqui.
B'LIZZARD
/RTP2
e a Cinemateca Portuguesa-
Museu do Cinema
têm o prazer de a/o convidar
para a ante-estreia do documentário de João Alves da Veiga
DONA TUTUTA
Portugal, 2013 – 54 min
Sex. 25 de outubro às 21:30 | Sala Dr. Félix Ribeiro
Documentário sobre a lendária pianista cabo-verdiana Epifânia Évora. Ao longo da sua carreira, Epifânia Évora transformou dor e alegria em melodias e tocou-as, rompendo convenções. Para esta nonagenária cabo-verdiana, filha do "inventor da coladera", a vida só faz sentido com a música. Uma viagem pela biografia de uma mulher apaixonante e uma celebração da cultura singular de um país de músicos, que carinhosamente a trata por "Dona Tututa". No filme, admiradores de diferentes gerações dão o seu testemunho sobre o enorme contributo da compositora/instrumentista para a música popular de Cabo Verde.
com a presença de João Alves da Veiga
• Convite válido para duas pessoas, mediante troca na bilheteira da Cinemateca, no próprio dia,
e no limite dos lugares disponíveis •
• Horário da bilheteira da Cinemateca: das 14:30 às 15:30 e das 18:00 às 22:00 • Não há lugares marcados •
• Informação diária sobre a programação: Tel. 21 359 62 66
• Transportes: Metro: Marquês de Pombal, Avenida • Bus: 2, 9, 36, 44, 45, 90, 91, 732, 746 •

Rua Barata Salgueiro, 39 LISBOA •www.cinemateca.pt

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sábado, 27 de julho de 2013

(5652) - CARINHAS...




ESTAS SÃO AS "CARINHAS" DE TRÊS GRANDES AMIGOS,
DOIS DOS QUAIS, INDELIZMENTE, JÁ DESAPARECIDOS...
FORAM RETIRADAS DE UMA FOTO DE CONJUNTO, QUE
DATA DE 1954, AQUANDO DA PASSAGEM PELO
MINDELO DO CANTOR FRANCISCO JOSÉ...
QUEM OS RECONHECE?!

quarta-feira, 10 de julho de 2013

(5583) - O OCEANO-LENÇOL...


 
"QUERIA QUE O OCEANO FOSSE UM LENÇOL QUE EU PUDESSE PUXAR, PARA CABO VERDE FICAR MAIS PERTO!"
 
Esta frase é obra da minha amiga Nouredini, de S.Salvador da Bahia, Brasil, ilustre e cultíssima bloguista, autora de textos do mais fino recorte literário, sensível, apaixonada e, pelos vistos, sugestionável...
Visitadora habitual deste vosso expositor de ideias, a minha amiga sempre se deixa impressionar pelos textos e fotos de Cabo Verde a que dou estampa, sentindo-se conquistada pela beleza, por vezes agreste, das paisagens, a doçura das gentes e, até, as construções que, na sua traça colonial, tanto se assemelharão com a sua cidade de S.Salvador...
Dir-se-ia que, por uma qualquer osmose extrasensorial eu consegui, e disso me posso orgulhar, passar para Nouredini todo o amor apaixonado que cada dia alimento pelas gentes e pelas terras de Cabo Verde, sobretudo, pelo Mindelo, a menina dos meus olhos, cansados pela idade, ditosos por o terem podido contemplar...

quinta-feira, 9 de maio de 2013

O ADEUS A MARY...

Recebi a noticia com o mesmo aturdimento do céu desabando sobre a minha cabeça: MARY, MORREU !!!
Mas, pensei, não pode ser: gente como Mary não morre, ainda por cima tão jovem!
Conheci Mary, ou Mary Melo, ou Mary de Tuta, ainda ela era uma criança...Esta foto, com ela já espigadota, fi-la eu na Vila da Ribeira Brava, quando passava por S.Nicolau em Busca da Ilha Brava e da minha amada...Era uma loura natural, linda de morrer e não conheci nenhum fulano da minha criação que não suspirasse ao vê-la passar, airosa, alegre, comunicativa, de uma simpatia sem limites...
Mary era um bálsamo para os nossos olhos e para os nossos sentidos e tinha com ela aquela aura invisível que transmitia a essa atracção um sentimento de quase veneração...Nunca ouvi falar que alguma vez, um qualquer "voluntário" lhe tenha faltado ao respeito: é que, mesmo quando era jovem, Mary já era uma Senhora...Rezam as crónicas que assim se manteve, até ao fim dos seus breves dias...
Eu, que tive o privilégio de a ter conhecido bem e com ela ter partilhado a amizade que contraí com os pais, choro lágrimas verdadeiras de uma dor profunda mas mansa porque iluminada pelo seu sorriso inesquecivel... ADEUS, MARY, CRETCHEU DE MINDELO!

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

MINDELO - A MORTE LENTA...


O amigo A. Mendes, chamou a nossa atenção para um artigo publicado em "A Semana", de 18 do corrente e, sobre o assunto, esta foi a melhor foto que encontramos, embora seja de 2007...
É porque nela se vê, perfeitamente, na única esquina focada, algo que já não existe, o Café Portugal... Segundo consta fechou portas precisamente, no dia 31 de Dezembro do ano que nesse dia findou, também...
Fundado, salvo erro,  pelo amigo Jack Alfama, homem pequeno, irrequieto, empreendedor, o Café Portugal foi palco de muitas e variadas ocorrências em que a história mindelense é fértil, sem esquecer as tardes clássicas com musica a condizer e, sobretudo, os pastelinhos de peixe da saudosa Faninha, o melhor aperitivo que já conheci para o almoço, empurrados, claro, por um groguinho de S.Antão de cuja qualidade Nhô Jack fazia questão...Havia jogos de damas, de dominó, conversas amenas e um entra-e-sai de gente conhecida que fazia do Café Portugal um local mítico onde iam ter todos os caminhos do Mindelo e em cuja esquina, mesmo depois de fechado, passei horas inesquecíveis em bate-papos intermináveis com amigos daqueles que não se fazem mais!
Saber e, sobretudo, sentir, que as suas portas se terão  cerrado para sempre é como agredir, de forma pungente e dolorosa parte da nossa memória ligada a momentos de felicidade irrepetíveis e, por isso mesmo do mais elevado valor sentimental..
Primeiro, foi  o Royal agora, o Portugal: o que é que sobra?

sábado, 21 de julho de 2012

ADEUS, IRMÃO...


MINDELO FICOU ÓRFÃO DO SEU MAIOR CRONISTA...COM A MORTE DE ZIZIM
DESAPARECE O MAIS INSPIRADO, MAIS CONHECEDOR, MAIS DEVOTADO
CONTADOR DE HISTORIAS DA SAGA MINDELENSE DESDE SEMPRE...
PEQUENAS DELÍCIAS DE LITERATURA ESCORREITA A ESCRITA
DE ZIZIM TEM OS SONS DA TERRA QUE ELE TANTO AMOU
E A PROFUNDA SINGELEZA DA AUTENTICIDADE DE
QUEM VIVEU O SEU TEMPO INTENSAMENTE,
INTERESSADAMENTE, DE CORPO E ALMA
INTEIROS, COM  A SERENA PAIXÃO
QUE É APANÁGIO, APENAS,
DOS PREDESTINADOS!
ADEUS, IRMÃO!

sexta-feira, 15 de junho de 2012

RECORDAÇÃO...


Às vezes a gente lembra-se de pessoas queridas e bate aquela saudade que não tem, nem tamanho nem explicação...Meus pais seguiram viagem, há já tempos, tempos que não conseguem nem minorar a dor nem mascarar a saudade...Por isso tenho necessidade de os rever, de tempos a tempos...

quarta-feira, 2 de maio de 2012

SODADI...


Surripiei esta foto a uma interessante colecção de "esquinas" de Mindelo que o amigo  Brito Semedo publicou em Na Esquina do Tempo o que, estou certo, me será perdoado, até porque este belo edifício, frente ao Palácio, está ligado a 11 anos da minha vida em S.Vicente, entre 1963 e 1974...Efectivamente, ali vivi, com mulher e dois filhos, no primeiro andar a que correspondem as sete janelas visíveis. No rés-do-chão funcionava a Farmácia Teixeira e o resto do edifício, à excepção do rés-do-chão, direito, era ocupado pelo Rádio Clube Mindelo, a quem prestei colaboração durante mais de vinte anos. Era a esta porta que estacionava o mais "chic" táxi do Mindelo, um Mercedes branco que tinha sempre por perto o seu prorietário e condutor, o saudoso amigo Blá...e já nessa altura era pouso de conversadores a quem nunca faltava assunto...Prolongadas tertúlias que terminavam quando o Blá. ensonado, murmurava o habitual "Ó mnis, mi 
jam'bai..Té manhã!" e lá ía, rua acima, ao som do ronco dos muitos cavalos do imaculado Mercedes. Como diria Frusoni, "Um vez Soncente era sábi..."

segunda-feira, 23 de abril de 2012

ADEUS, AMIGO...


Era um dia ensolarado do mês de Outubro de 1943 o da minha primeira aula da 3ª classe, na Escola Camões, na hoje chamada Rua do Tejo, que desemboca na Pracinha da Igreja,  arejada cidade do Mindelo, da Ilha de S.Vicente de Cabo Verde...Nesse dia tive o primeiro contacto com condiscipulos que se transformaríam em amigos para toda a vida, como o Álvaro Lopes da Silva, o Rui Miranda, o José Almeida (Djô), o Dario Fernandes...Destes, alguns já se foram, infelizmente, como o Djô, falecido nos Estados Unidos, e o Álvaro, ambos levados ainda jovens...O Rui, já o não vejo há muito mas creio que esteja de saúde lá no Alentejo profundo onde há muito se radicou e, aquele que mais vezes revia e confraternizava, tive a triste notícia que, inesperadamente, também nos abandonou..,
O Dario foi, durante estes últimos cerca de 70 anos, uma presença da qual guardarei as mais gratas recordações como homem bem disposto, alegre, mesmo, alto e esguio com um sorriso que lhe iluminava todo o rosto, piadista, amigo dedicado como poucos, cuja morte abre na minha alma um vazio e uma sensação de orfandade difíceis de minorar...São assim, aqueles a quem chamamos amigos do peito: são com o irmãos e por isso sentimos a dor da ausência com tal dimensão...
Adeus, Dario, amigo-irmão...Um dia destes a gente vê-se, sabe-se lá onde...

terça-feira, 11 de outubro de 2011

ENVELHECER OU CRESCER...

Esta simpática velhota aparece hoje aqui não apenas para ilustrar a frase mas porque é a cara chapada de Dona Lucília,  minha avó materna, que sempre conheci de cabelo branco coberto com lenço negro, vestida de cores escuras, da cabeça aos pés, pachorrenta, bom garfo, gostava da sua pinguinha às refeições...Diziam que quando era nova gerira, com meu avô, uma Casa de Pasto, que era como se chamavam os restaurantes na época e consta que era uma cozinheira de estalo, corriam os anos de 1900/1910...Foi mãe de mais três rapazes, meus tios mas passou a maior parte da sua vida depois de enviuvar com o tio Augusto, o homem mais alto da família...D.Lucília adorava figos, mesmo verdes e que, por azar, lhe estavam vedados por razões de saúde...Por isso andava, sempre, de avental, cujo bolso lhe escondia os frutos proibidos, sempre que conseguia dar uma escapada até à sua figueira preferida...Eu, por meu lado, adorava vê-la comer os figos, começando com uma profunda dentada do único incisivo que lhe restava, dilacerando o fruto com extrema precisão, de alto a baixo, deixando-o à mercê dos poucos molares restantes...Creio que teria conseguido aparecer no Guiness..."Olá, avó, desejo que haja muitos figos aí no Céu!"