segunda-feira, 23 de julho de 2018
sexta-feira, 13 de julho de 2018
[10075] - CAMPEONATO DO MUNDO DE FUTEBOL - FINAL
domingo, 8 de julho de 2018
[10074] - MUNDIAL DE FUTEBOL RÚSSIA - MEIAS FINAIS
Neymar - Acabou por passar ao lado de um grande Mundial. |
Porta aviões ao fundo!
Caiu mais um dos grandes favoritos, o Brasil. Embora
praticando um futebol de grande qualidade, faltou baliza aos canarinhos, e
quando falo de baliza, é da adversária. Numa equipa onde o ponta de lança, faz
todos os jogos e não marca qualquer golo… fica difícil!
Por outro, lado a Bélgica montou um sistema tático
irrepreensível e muito inteligente, fixando Hazard e Lukaku nas pontas, junto à
linha de meio-campo, que prenderam sempre 3 elementos da seleção do Brasil,
brilhante!!! Depois teve uma transição atacante venenosa e vertiginosa, com um
De Bruyne a comandar as tropas. Pecou somente o selecionado belga na
segunda parte, por falhar a definição do último passe, de outra forma, teria sentenciado
a partida mais cedo.
Quanto ao Brasil, tentou de tudo, é verdade, mas não houve
acerto no último momento, e quando era preciso aparecerem, a verdade é que as estrelas se apagaram, e além do mais, no futebol é necessário
concretizar!
A Europa ficou assim com e exclusividade das meias finais do
torneio. E ficam três das equipas mais consistentes deste campeonato do mundo,
e que melhor futebol têm praticado: França, Bélgica e Croácia, embora esta
última, pareça já presa por arames!!!
FRANÇA-BÉLGICA
Grande partida em perspetiva, naquela que seria provavelmente
a final mais “justa”. Os franceses e os belgas, chegam a esta meia-final com um
registo de vitórias em todos os jogos efetuados, e diga-se que de forma clara e
justa!
Torna-se quase impossível fazer um prognóstico para esta
contenda, tal o equilíbrio entre os dois conjuntos. Pela maior constância e
inteligência tática, para além da tremenda qualidade demonstrada em todo o
torneio, vou arriscar uma ligeira vantagem belga.
CROÁCIA – INGLATERRA
Este “lado” da grelha, propiciou, e não acho que apenas teoricamente,
uma campanha menos exigente. A Croácia eliminou uma Rússia, que apesar de tudo,
acaba por surpreender, pela persistência em fazer a vida difícil aos seus adversários,
a Espanha que o diga. Mas não dá para abusar da lotaria dos penaltis… um dia a “sorte”
muda!
Os ingleses, não tiveram ainda uma partida a sério, frente a
uma seleção de 1ª linha (a derrota com a Bélgica na fase de grupos, não entra
para estas contas). Parece-me uma equipa curta e com algum déficit de
criatividade. Seria de esperar que neste particular os croatas fizessem a
diferença, o que pode bem acontecer, porque têm uma equipa, com mais talentos,
o pior é que parecem já bastante desgastados e com dois prolongamentos a mais. Parece
pouco? são só mais 60 minutos nas pernas, que poderão ditar uma balança mais
inclinada para os súbditos de sua majestade.
Muito equilíbrio! a condição física vai decidir!
quarta-feira, 4 de julho de 2018
[10073] - MUNDIAL DE FUTEBOL RÚSSIA - QUARTOS DE FINAL
sexta-feira, 29 de junho de 2018
[10072] - CAMPEONATO DO MUNDO DE FUTEBOL - III
ANTEVISÃO DOS OITAVOS- DE-FINAL
FRANÇA – ARGENTINA
A França demonstrou ser um conjunto mais equilibrado, isso
apesar de não deslumbrar. A equipa alviceleste, não convenceu, assim como
Messi, pareceu sentir a falta dos seus companheiros do Barça. Será com certeza, um dos jogos mais interessantes de seguir desta fase, tratando-se quase de uma final antecipada.
Com as devidas reservas, parece-nos que a França parte com
alguma dose de favoritismo.
URUGUAI – PORTUGAL
O Uruguai passou pela fase de grupos com três vitórias, mas
a verdade é que não foi posta completamente à prova. Quanto a Portugal, ainda
não convenceu, tendo como atenuante o fato ter estado num grupo, claramente mais
competitivo.
Estamos perante uma “tripla”, pelo que tudo se resolverá nos
“detalhes”. Esperemos que um deles seja um CR7 inspirado.
ESPANHA – RÚSSIA
Se tudo correr com normalidade, e apesar do “factor casa”, a
Espanha também parte como clara favorita nesta eliminatória. Na verdade, a Rússia,
soçobrou claramente, no único verdadeiro teste da primeira fase contra o
Uruguai.
A Espanha parte como clara favorita.
CROÁCIA – DINAMARCA
O futebol de grande qualidade e eficácia, praticado pelos
croatas, um dos conjuntos que encerraram a primeira fase, só com vitórias,
deverá ser suficiente para uma Dinamarca, pragmática, mas com acções muito previsíveis.
Quanto a mim, os croatas perfilam-se para serem uma das
grandes “surpresas”, deste campeonato.
BRASIL – MÉXICO
O México começou em alta e acabou em baixa a fase de grupos,
deixando poucas razões para acreditar que tem soluções para derrotar um
super-favorito Brasil, que apesar de ter contra, o comportamento egoísta de Neymar,
tem claramente mais argumentos.
Com grande dose de confiança, o Brasil, pode ir marcando o
hotel para a próxima fase.
BÉLGICA – JAPÃO
À Bélgica terá saído o brinde desta
fase de apuramento. O futebol não é uma ciência exacta, mas não acreditamos que
os Nipónicos tenham o mínimo de argumentos para esta talentosa selecção belga.
A Bélgica parte com uma dose muito elevada de favoritismo.
SUÉCIA – SUIÇA
No jogo de menor cartaz destes oitavos-de-final, defrontam-se
duas equipas muito parecidas, embora a Suiça tenha individualidades mais
criativas do seu lado. Contudo, já assistimos (Suécia – México), como o
conjunto sueco pode ser terrível mente eficaz.
Guardo aqui, uma pequena dose de favoritismo para o conjunto
sueco.
COLÔMBIA – INGLATERRA
Mais uma partida com forças altamente equilibradas, isto
apesar de estarmos perante duas equipas com características algo distintas. Os
colombianos, mais repentistas e imaginativos, os ingleses mais físicos, retilíneos,
mas, contudo, mais tecnicistas que em gerações anteriores. Vejamos se o facto desta
Inglaterra, não ter sido realmente posta à prova na primeira fase (a partida
com a Bélgica não contou), não lhe custará o apuramento.
Outro jogo de “tripla”, com ligeiro favoritismo para os
ingleses.
Paulo Azevedo
[10071] - CONTOS EM CRIOULO - 2ª PARTE
TCHUTCHINHA
(CONTINUAÇÃO)
Naquêle nôte pességers en’pude dermi d’rivóde quêle
castigue que tava de riba de Crispin.
Tchutchinha, um mocreta mute mestóra que ta te v’rá sê
camin pe Dacár, f’cá pequentóde:
-- Cuitóde!, se Crispin en’tevêr quem por êle,
êl’ê muito bem capéz de torná v’rá pe Côbe-Verde,
i, inda temá castigue ne c’labôce. Um rapéz assim inda nôve, tchô de coraja
d’impeitá terra d’estrengêr, devia ser pertigide. Lá ne Dacár ele t’otchá lôg
trabóie i jé’le te podê jedá sê m~e tudes fim de mês. Menhá, sim, que nôs
d’simbarcá, m’ta bâ im cáta de sê ti:
É um pècóde ninguém vèlê,le.
Pósse de mar tava te gripassá ne costóde déquêle navi
i já uns prescadôr que tava tê bem de Gorê, ne sês canôa, bâ tchegônde pa perte,
te perguntá s’êle en’dinha grôgue pe trocá pa pêxe. Nhô Tiôfe mandá pô pêpêl im
dias i, espôs de tude na fórma de lei, êle tive ordá pe daxá desimbarcá
pessêgêr. Assim que senal abri, quêle navi intchê de fí de Cóbe-Verde, uns te
pedi nutiça, ôtes te trèzê inc’menda, cada um te lêvá sê perênte que tinha
tchegóde, num brafunda de braça, tchôre i sodêde. Despôs contra meste bâ bescá
Crispin.
-- Bô tem denhêr pe pagá esse viaja?, g’rinha sim?
-- Nõ senhor!, nhe ti Jõ tinha mandóde dezê qu’êle
tava pagá êi, ne Dacár. Cê derâ-me ba pa terra, qu’ hoje mesma nô ta bem trezê
conta desse passaja.
-- Crispin, já-me ti te fezê demâs. D’êi de borde, bô
en’de sêi.
Menhá, na bóca da nôte, gente te levantá fèrre i bô
tem que v’rá pe Cóbe-Verde, pe p’liça temá conta de bô destine. Inda se bô
tevésse denhêr dêsse viaja, nhe Tiôfe ta fetchá ôie; assim êle te riscá mâs
prejuize.
-- Nunca Dês desimpará sês fi! Sô se m´fôr mute
meldiçuóde pe en’percê um alma de cridéde pe bâ na terra tchemá nhe ti Jõ, quê
p’êle bem velê-me! M’te bradá pe conciença de cês tude pe mí-ne tem que v’rá
ôte vez, pe bâ pená n’incristia de marga vida i cadêa. Cês tude vèlê-me p’amor
de Dês!
Foi nesse dezende-fêzende que Tchutchinha antrá ne
conversa:
-- Môce!, mim, ê que ti ta bâ ter c’bô ti. C’pitõ mas
lôg m’tê bem. Cê podé cunfiá nâ mim. Mim ê c’nhecida ne tude esse Dacár! M’tem
créte c’gente de q’lidéde. Nhe padrin ê Antône Alcantra; cê en’de c’nhecê-le?
Qónde te bem navi ê ne nha casa que português –de-lisboa te bem desprajá. M’tem
fama na tude esse Dacár!
Nha nôme ê Tchutchinha, lá des Fontaínha de Nª Sª de
Livramente
-- Nõ, en’de percezá mâs estóra! M’t’ estratá de saída
desse navi i q’ónde m’vrá m’qrê otchá esse trapaça resulvide.
Tchutchinha en’bêm nequêle datérde i nhô Tiôfo,
especencióde, mandá trancá novamente Crispin ne paiôl. Naquêle outrom dia, sôl
já te cambá na mar, gente de terra tinha
vinde pe despedí i trezê inc’menda pâ
sês famía. Um canôa bem te tchegá i trezê ne sê pôpa Tchutchinha, te çaná cúm
lence, sês ôie resguardóde c’uns ôcle escure.
-- Nome de M’rissentissima!, onde ti de Crispin?
-- Êle m’rrê esturdia, debóxe dum lingada de vapor!
-- Dióbe d’inferne. Nôs tem que levá esse desgraçóde
na volta.
-- Nhe Tiôfe, cê en’dí ta bâ levá côsa nenhuma! Cê ti
t’esquecê margura dum pobre que ti te fegí de sê terra, im cáta de trabóie
n’estrangêr, pur via de planeta mó ne sê rebêra de nescença. Ocê quê de nôsse
naçõ, cê tem alma i conciença de torná m’tê ne penitença um fí de Côbe-Verde?
Já cê esquecê tante precisóde te pedi ajuda? Cê ao mim ê honróde, sem vergonha
de dezê que mim ê mocreta limpa, sô de gente princepal ne suciadéde de Dacár,
ma mim ê incapéz de en’vèlê um cuitadin. M’espêra q’ômènes cê preduésse esse pêcador
i fezêsse um c’ridéde p’êle g’rentisse um pô pe sê m~e . D’onte pâ hoje m’temá
imprestóde, m’ganhá denhêr vive n’honra de nhô côrpe pe m’remésse esse despesa
de passaja de Crispin. Cê temá esse conta i Dês que dá ocê boa viaja, nhe
Tiôfe!
Mim ê limpa i honróde i cunecide ne suciadéde de tude
esse Dacár. M´’tem créte m’tem fiadôr qu’ê nhe padrim Antône Alcantra. Esse
denhêr foi ganhóde debóxe de goste de nhô côrpe. Nunca m’bençuá tante nhe
mucindéde c’mê desd’esse nôte, prequê m’jedá um fí de nhe legar otchá um greta
pe podê trabaá pe sê vida i leviá pena de sê m~e.
Cê mandá cumfrí esse dinhêr i soltá Crispin pe m’lêv’êle
pa terra! Dês e as alma santa tem que dá ocê boa vija ne mei desse mar, nhe
Tiôfe.
L. Romano.
COLABORAÇÃO: DJEU
terça-feira, 26 de junho de 2018
[10070] - CONTOS EM CRIOULO - 1ª PARTE
TCHUTCHINHA
CONTO:
Linguajar caboverdiano da Ilha de Santo Antão / Extraido do “Negrume”
Já
aluz de porte de Dacár ta te parcê naquele bóca da nôte.
Túdes pessêgêr dexá sês legar pe bem temá fê de
nutiça. Nhe Tiôfe metê ne sê japona, infiá sê barrête i mandá p’inclercê farôl
de prôa pe seg’rança de sê navi. Ele tava tê bem de Semecente c’rregóde de
gente. De Dacár quele viajá tava continuá p’a Costa., tê Bissau.
Assim c’m’ assim, sô naquêle ótrum dia ê qu’êle táva
antrá pe largá férre. P’rinquênte êle tinha que guentá véla, te bordêjá i
perveitá algum rofêga pe tchegá mas perte de terra, que gente inda en’dá t’oiá,
ma ôie ta dev’nhá pe quêle nóda escure que tava te lemiá quês luz de farôl na costa.
Êle tch’má contra-mêste i êle dá órda pe pôve bésse pe
sês legar no prõ, i en´destrovésse marnhêr trofêgá, nem trepaésse mendamente na
hora de bordada.
Foi assim: que pe móde êle ter ingatóde ne pertalôa de
cambra de c’pitõ, que quêle môce de Sentantõ bem num cuncluta espancá de riba
de nhô Tiôfe. Bordada foi demâs i luz tava pagóde naquele cónte.
-- Iszus! Nome d’Iszus, quem ê bô criatura?
-- Cê perdoê-me! Nha nome ê Crispin dus Santu.
-- Crispin dus Santu? Bô ê pessêgêr?
-- M´ti ta bem pe Dacár ter c’nha ti Jõ.
-- Vigia!, tchmá contra-mêstre p’êle trêze um lempiõ i
dôs mar’nher pèquê nôs te c’um desgraçóde fegide!, nhô Tiôfe ba te dezê já
sujeitónde quêle dióbe pe catchóce, num dataria de desofôr i meldeçõ. Árra c’u
dióbe!
·
Crispin foi
sujegóde i éntes quês metêsse êle p’plôit na côrpe êle tive que descubri_ --
que sê ti jõ ranj’êle carta de chamada, ma que félt’êle recurse pe comprá
passaja i destratésse de p’ssaporte pe Dacár. Êle tinha preveitóde daquele navi
ne Semecente, onde êle gátchà ne p’rõ, de nôte ne mei d’ôtes pessêgêr. Espôs,
sempre escundide num atóde de culchõ, assim êle guentá; tê que quele pôve en’dá
pe êle ,te t’m’éle tembê p’um pessêgêr.
-- I vames a vêr um côsa, pequê bô fegi?
-- Pequê m’tinha caíde-na-sorte i mí-ne q’ria dexá
nhã m~e –vêa sem um ajuda d’um vintem de
Dês.
-- Bô ê de Sentantõ?
-- Mí ê, nhe Tiôfe. Nhe pépé era cunecide pur Ontône
Meguêl dus Santu; ele tinha side cóbe-chéfe ne R’bês’Alta, terra de tude nhe
naçõ de famía.
-- M’oiá lôg que bô era gente de Sentantõ! Terra de
pôve mas lançóde de mundo! Nunca vi!, te tchegá estebaquêróde, t’antrá num navi
alheie sem pedi lecença, te f’cá imberóde na funde de p’rõ, n’industra de pendê
p´estrengêr, sem veluá tramóa qu’êle te bem ranjá menhá céde ma guarda de
c’petanía de Dacár. Sem sebê qu’esse navi ti ba ser multóde, n’imperpine de
f’cá de corentêna, esse carga de riba de nha lombe, pequê mi qu’ê responséve.
Árra c’u dióbe!
-- M’oá lôg que bô era de quêle terra de Sentantõ: sem
méde, sem fiança i sem p’ssaporte.
-- Pur uvir a dezêr cê tembê cê ê d’alá!
-- Ni ê de banda de Senagóga, ne Rebêra Grânde.
-- Nhe Tiôfe, m’te pedi ocê pêrdõ! Inda m’tem quem pur
mim ne Dacár. Em tchegónde m’te mandá rècóde i nha ti Jõ te bem bescâ-me, te
pagá fiança i cê te dexâ-me bá pa terra ganhá um ajuda pe-me mandá nha m~e que f’cá ne deficuldéde. M’incostá n’ocê
pèquê me sube que cê era de Sentantõ.
-- Ondê que te morá bô ti Jõ? C’me sê nome intêr?
-- Morá mí-ne sébe derei temente. Na êle ti te vevê êi
ne Dacár, dias-há! Sê nome ê Jõ Meguêl dus Santu. Nesse navi tem cristõ que
sébe donde êle t’assistí. Ê sô mandá recóde menhá, qu’êle méme te bem tema
conta de mim. Cê jedé-me, nhe Tiôfe! M’te f’cá ingregonhóde lá funde de p’rõ, i
q’onde/ p’liça ba’mbôra, mite fiança ocê nhô mo de palavra que mí-ne da ba intojá sê vida nem
sê trabóie.
-- Môce!, dexá de cunfiadeza d’inchené-me nhes
ubrigaçõ. Dexá de ser/tchefre! Contra-meste!, cê manda ftchá esse lançóde ne
paiôl de convês, tê m’resolvê sê destine, depôs de vezita de c’petania, manhá
céde.
(CONTINUA)
COLABORAÇÃO: DJEU
[10069] - CAMPEONATO DO MUNDO DE FUTEBOL - II
25 JUNHO - RICARDO QUARESMA - RÚSSIA 2018
Portugal nos Oitavos
|
Ao Irão era obrigatório ganhar, para almejar a próxima fase, à equipa da quinas, bastava o empate, ficando a ideia que o seleccionado, tinha ordens para adormecer o jogo, e foi o que fez na maioria do tempo, com posse de bola, mas sempre muito longe da área adversária.
Faltou à equipa das quinas, matar o jogo, como se diz em linguagem futebolística, quando Cristiano Ronaldo falhou a conversão de uma grande penalidade aos 52 minutos, este factor revelou-se num verdadeiro tónico para a equipa do Irão, que ganhou confiança e se lançou ao ataque.
Nessa fase, ficou patente a nossa incapacidade de construir jogadas de perigo em transição, de forma a aproveitar o maior balanceamento dos iranianos. Houve uma maior pressão sobre o nosso meio campo e defesa, mas temos que destacar neste particular, a assombrosa exibição de Pepe, um muro intransponível!
Diga-se que tivemos demasiadas intervenções do VAR, num jogo muito quezilento, principalmente por parte do conjunto treinado pelo português Carlos Queiróz, os iranianos tanto se queixaram do VAR, que lá conseguiram arrancar, em período de descontos (93 minutos), uma grande penalidade (quanto a mim inexistente), e que trouxe, o já habitual final dramático das partidas do conjunto de Fernando Santos.
A melhor notícia é que o empate chegou para passar aos oitavos-de-final da competição, onde vamos encontrar o Uruguai.
A Espanha, mercê do empate tardio que conseguiu contra a surpreendente Marrocos, qualificou-se em 1º lugar, no grupo de Portugal e vai defrontar a Organizadora, Russia, na próxima fase.
O Irão e Marrocos terminam assim a sua participação no Campeonato do Mundo de Futebol - Russia 2018.
É permitido sonhar mais um pouco, até ao próximo sábado... pelo menos!
Paulo Azevedo
domingo, 24 de junho de 2018
[10068] - OS DEGREDADOS
DEGREDADOS
Foi numa madrugada de janeiro melancólica e lúgrebe
com um carme dantesco. Sob uma chuva miúda e fugida entre duas filas de guardas
de baioneta armada, marcham para o cais os degredados.
Na rua erma e gélida qual catacumba em que a romper o
silêncio apenas ressoava o passo regular da soldadesca, um taberneiro
madrugador abria a loja, especava-se depois entre portas a ver desfilar aquele
cortejo de desgraça e, erguendo o braço espalmando a mão suja murmurava rindo
alvarmente:-- “ São vadios…”. E eles os párias que a justiça proscrevia,
passavam cabisbaixo e andrajosos dardejando olhares de fome.
Eu, quedei-me a examinar esses presos dos quais apenas
uns seis, de melenas e ar gingão inspiravam asco; a maioria dos da leva uns
vinte talvez, tinham o tipo d’operários sem trabalho e caminhavam com uma
atitude de verdadeiras vítimas da imperfetibilidade social.
Horrorizava ver, numa selva de baionetas, marchar para
a morte lenta ou para o vício, esse contingente do grande exército dos sem pão;
e levavam o sinete do vilipêndio, esses desgraçados que poderiam ser cidadãos
honestos e generosos. O taberneiro o dissera! Eram vadios…
****
Chegada ao
cais a força fez alto, uniu as fileiras, e as coronhas da Mauser batendo
pesadamente no solo produziram um som cavo e profundo como um dum rumor
subterrâneo; as águas barrentas e revoltas do rio batiam numa fúria impotente
contra a muralha do molhe e, de lá em baixo, fortemente atracado, o rebocador
bambaleava-se galhardamente de popa à proa esperando fumegante o momento de
conduzir os presos para o paquete.
-- Agora, no cais procedia-se à chamada; um sujeito
grave, de certa idade bradava já em voz irritante o último nome da lista que
tinha na mão: “ João Maria”, pronto! Disse um rapaz ainda imberbe que chorava
em silêncio.
Uma mulherzita sua conhecida que chorava a meu lado
contou-me a sua história. Ele era enjeitado, aprendiz de carpinteiro, um dia
despediram-no e o pobrezito, depois de procurar em vão em que ganhar a vida,
viu-se sem dinheiro e sem abrigo e passou a dormir nas praças públicas; foi
preso várias vezes; por último deram-lhe parte e agora lá o mandaram para essas
áfricas …
Afastei-me
confrangido ao ouvir esta história que tinha tanto de singela como de trágica.
E enquanto os
clarins dos navios de guerra tocavam a alvorada n’um tom plangente e triste
como uma marcha fúnebre, a bordo do rebocador, esse contingente do grande
exército dos sem pão dispunha-se de lágrimas nos olhos e coração opresso a
partir para a morte ou para depravação se não morressem pelas febres
aprenderiam a ser criminosos!
Eram vadios….
Armando D’Aquino
Em “ A luz” Lisboa, 25 janeiro de 1909
Nota: - “ Cabo Verde – A deportação portuguesa para
Cabo Verde parece ter sido verdadeiramente significativa no século XIX. De
acordo com os dados de António Carreira, foram deportados para o arquipélago
2.433 condenados, dos quais 81 mulheres”
COLABORAÇÃO: DJEU
quinta-feira, 21 de junho de 2018
[10067] -CAMPEONATO DO MUNDO DE FUTEBOL - I
ANÁLISE GERAL - 20 JUNHO
GRUPO A
Rússia – Ganhou
confiança com a goleada da estreia, não tendo ainda sido posta realmente à
prova. Não me parece com tarimba para muito mais, contudo o facto e jogar em
casa, pode ser galvanizador.
Arábia Saudita –
Claramente uma das mais frágeis seleções do torneio. Alguma técnica, mas pouco
mais.
Egipto – Com a
estrela, Salah, em défice físico, e a derrota a abrir, as coisas ficaram muito
complicadas, para uma seleção que prometia fazer uma gracinha.
Uruguai – Sem
grande brilhantismo, mas com competência suficiente para passarem á segunda
fase. Não nos parece uma equipa talhada para grades surpresas.
GRUPO B
Portugal – Uma
entrada em bom plano e um apagão de ideias, uma equipa deprimida e muito
previsível. Se não mudar os seus processos, será mais uma desilusão para os
fans de Ronaldo, que parece estar muito mal acompanhado.
Espanha – Até ao
momento, a equipa que praticou o melhor futebol, confirmando o seu estatuto de
favorita. Uma equipa experiente e muito rotinada, vai ser difícil bater esta
Espanha.
Marrocos – Uma
equipa bem arrumada e altamente competitiva. Pode-se queixar de alguma falta de
sorte, mas de qualquer forma, no futebol é preciso concretizar. Deixou contudo,
uma boa imagem do seu futebol.
Irão – Bem
arrumada defensivamente, mas com carências notórias, quando se torna necessário
atacar, coloca-se em posição de ser a equipa que vai decidir sobre a
classificação do grupo.
GRUPO C
França – Uma
entrada tímida, mas com um potencial que convém confirmar. Grandes
individualidades que ainda não acertaram como equipa. esta França não deixa de
ser uma das mais fortes candidatas.
Austrália – O seu
estilo de jogo direto e muito físico, deixa antever grades dificuldades para
todos os que os defrontarem, no entanto, não nos parece ter ainda consistência
para almejar chegar a uma fase mais adiantada.
Perú – Uma equipa
com um futebol alegre e de ataque, no entanto, pareceu faltar alguma
experiência destes palcos, num grupo muito equilibrado, vai ter a vida muito
difícil.
Dinamarca – A
experiência e competência, são adjetivos que colam bem com esta equipa muito
compacta, complementada com elementos que podem desequilibrar, é uma seleção
talhada para fazer a vida difícil a qualquer adversário.
GRUPO D
Argentina –
Quando o seu astro Messi, não acerta, a equipa fica órfã de ideias, vida muito
complicada para a seleção da Pampas, que teima em não acertar como equipa.
Islândia – Um pouco á imagem da Austrália,
mas neste caso, com ideias de jogo mais concretas. Á imagem do Euro 2016, já
provou que pode ainda causar alguma contrariedade aos favoritos à passagem no
seu grupo.
Croácia –
Recheada de nomes sonantes, que jogam nas principais ligas europeias., esta
seleção tem tido, contudo, alguma dificuldade em afirmar-se, estamos sempre à espera que apareça a interpor-se entre as mais cotadas, veremos se é desta.
Nigéria – Um
começo em falso para a seleção mais cotada de África, e o facto de estar num
grupo muito equilibrado, vai tornar a tarefa de passagem á próxima fase, numa missão
muito difícil.
GRUPO E
Costa Rica – Como
em outras situações, vem de um grupo de apuramento, onde os competidores, estão
num nível médio inferior às restantes confederações, pelo que mostra quase
sempre o mesmo déficit competitivo. Para além do mais, ficou num grupo forte,
onde as suas hipóteses são pouco mais que nulas.
Sérvia – Outra
equipa recheada de excelentes individualidades, mas onde parece faltar ainda
alguma consistência coletiva. Parece-nos tarefa muito difícil, contrariar o
favoritismo da Alemanha e do México.
Brasil – Um
futebol demasiado redondo e algo fulanizado, pode deitar tudo a perder, para
uma das mais interessantes gerações de futebolistas brasileiros das últimas
décadas. Vamos ter que esperar pelo segundo jogo, para aquilatar da real
capacidade competitiva desta equipa, o que passa por termos um Neymar mais
solidário.
Suíça – Uma
equipa sem grandes individualidades, mas muito arrumada, que tornou a vida do
Brasil muito difícil na primeira jornada. Cremos que discutirá a palmo, a
qualificação com a Suécia e o Brasil.
GRUPO F
Alemanha – outra
entrada em falso de um crónico favorito. No entanto, e pela inegável qualidade
da equipa, se não se agudizarem alguns dos problemas internos, continuará a ser
um dos principais candidatos à vitória neste mundial.
México –
Surpreendeu a capacidade de anular a equipa alemã na primeira jornada, mas a
verdade é que estamos a falar de um coletivo que já tem muita experiência
internacional, e que está muito rotinado. Será com certeza uma equipa para
chegar a uma fase mais adiantada da competição.
Suécia – Uma
seleção que já nos habituou a atuar como um pendulo. Na linha de outas seleções
escandinavas, será sempre um oponente desconfortável. Contudo, não lhe vemos
qualidade suficiente para ir além da segunda fase.
Coreia do Sul –
Um estilo muito próprio e alguma qualidade técnica, ainda não são suficientes
para esta seleção almejar a mais do que uma passagem pela fase de grupos.
GRUPO G
Bélgica – Uma das
seleções mais prestigiadas do certame, fruto da sua história recente e da posição
no ranking. Contudo, demora em confirmar aquela, que para muitos, é a mais
dotada das gerações de futebolistas Belgas, esperamos sempre ver um pouco mais.
Panamá – Uma
passagem pela fase de grupos, e pouco mais se espera desta equipa de completos
desconhecidos do planeta do futebol. Se conquistar algum ponto, será com
certeza um feito assinalável.
Tunísia – Assim
como as suas congéneres africanas, subiu um patamar na qualidade de jogo,
contudo, parece-nos que ainda lhes falta a necessária experiência destes palcos,
para poder sonhar com algo mais.
Inglaterra –
Desde 1966 que esperam por algo grandioso, no entanto, e apesar de estarmos
perante uma equipa recheada de excelentes executantes, não nos parece que
tenham futebol suficiente para altos voos. passará sem problemas a fase de
grupos, porque está num grupo claramente acessível.
GRUPO H
Colômbia – Está
inserido num grupo onde partia como claro favorito, mas fruto da escorregadela
inicial, ficou à mercê dos sortilégios de um dos mais equilibrados e imprevisíveis
grupos.
Japão – Com
aquele espírito lutador e alguma capacidade técnica, este japão tem vindo a
crescer, de participação em participação. O empate com a Colômbia, estará
intimamente ligado ao facto de esta ter jogado em inferioridade numérica, quase
toda a partida, mas diga-se, que por culpa própria. Será a equipa capaz de
desempatar o grupo? veremos!
Polónia – A sua
estrela, esteve meio apagada na primeira contenda, contudo é uma equipa com
excelentes argumentos, mas com um plano de jogo sempre muito linear, estamos em
crer, que esta previsibilidade não a deixará ir muito mais longe.
Senegal – Um bom
começo da seleção africana que já tem no currículo uma vitória a abrir com a
França. Muito fortes estes senegaleses, são claros candidatos a passar à
próxima fase, mas não terão ainda argumentos para muito mais.
quarta-feira, 20 de junho de 2018
[10066] - CONVERSAS COM O MONTE CARA - I
“FALA” COM
MONTE CARA
-- Cmód bocê stá?
-- Fóra quel dorzin na costa… óli’m tâ
bai….
-- Mninin de
Deus, diazá bô câ dá’m um falinha…
-- Cmô bô
sabê, és vida câ stâ fass….
-- Nim pâ mi
nim pâ bzôt…
-- Rapáz que temp sabê… sin falta de trabái… Tcheu navio de tudo nason!
-- Mont Cara
dzê clarin pâ tud mund…
Ovi:- Tem um
mont marinhêr na cidade…Bô câ maginá! Lá na Lombo, anton, era negóce de tud
spêce que bô podê pensá! Descontód uns briguinha mód uns groguin d’màs, era
temp d´ligria de pôv!....
COLABORAÇÃO: DJEU
sexta-feira, 1 de junho de 2018
[10065] - O DIA DO JOSÉZITO
Pai,
Neste que será sempre o teu Blog, não poderíamos deixar passar em claro, tamanha efeméride. O nosso amigo TÓZÉ, enviou-nos um "belo desabafo", que com a devida vénia, tomo a liberdade de partilhar com outros amigos... Ergamos então os nossos gins e brindemos!!!
Porque não apareces para fazer um bacalhau à Zé do pipo?
Não esperes pelo dia em que for ter contigo … aparece… Serás sempre bem-vindo!
Até já!
TZ
Neste que será sempre o teu Blog, não poderíamos deixar passar em claro, tamanha efeméride. O nosso amigo TÓZÉ, enviou-nos um "belo desabafo", que com a devida vénia, tomo a liberdade de partilhar com outros amigos... Ergamos então os nossos gins e brindemos!!!
Olá Grande Chefe,
Espero que estejas bem (nunca te tratei por “tu", mas como nos conhecemos há 40 anos, dou-me agora a essa liberdade! ), porque nós ansiamos o teu regresso desta viagem que, convenhamos, já se alongou demasiado!...
Mas já que resolveste ficar desse lado, cabe-nos aceitar… Falo no plural, porque a Rosário sente o mesmo. Olha, ela está a mandar-te um beijo e um braça, daqueles que só tu sabes dar e receber. Está ali sentada a beber um gin tónico. Como sabes, ela diz que foste tu quem a ensinou a gostar desse mix.
Sabes, em 2016 eu também quis fazer a viagem, mas o teu filho não deixou… Agora estaríamos os dois a degustar um qualquer “são brás", sem correrias, preocupações, desilusões, tristezas, perdas… Enfim… felizes!
Feliz estarias tu se o nosso Sporting não se tivesse tornado num “monte escatológico" de “gente” que derivou da normalidade para caminhos ínvios, desnorteados por carácteres oprobriosos…
Natural, isso sim, é o facto de ausente estares e seres presente. No tempo, que agora é todo teu, estás no nosso. Nos diversos brindes, nos gestos que ensinas, na gargalhada que se ouve e nos abraça; nos locais onde não vais, mas onde te evoco e Lhe peço para que continues bem…
No nosso presente, continuas a ser um presente que temos, daquele tipo que não cabe sob a copa de qualquer árvore de Natal. Estás presente a cada gesto e passado … só se for o tornedó…
Estive muito tempo ausente no que concerne a esta exteriorização de sentimentos e tenho alguma dificuldade em ver a Maiúca.
Contudo, tu sabes que falo muitas vezes contigo, não é verdade?!...
Sem mails, facebook, whatsapp, esta carta vai selada com a vontade de te rever.
Espero que estejas bem (nunca te tratei por “tu", mas como nos conhecemos há 40 anos, dou-me agora a essa liberdade! ), porque nós ansiamos o teu regresso desta viagem que, convenhamos, já se alongou demasiado!...
Mas já que resolveste ficar desse lado, cabe-nos aceitar… Falo no plural, porque a Rosário sente o mesmo. Olha, ela está a mandar-te um beijo e um braça, daqueles que só tu sabes dar e receber. Está ali sentada a beber um gin tónico. Como sabes, ela diz que foste tu quem a ensinou a gostar desse mix.
Sabes, em 2016 eu também quis fazer a viagem, mas o teu filho não deixou… Agora estaríamos os dois a degustar um qualquer “são brás", sem correrias, preocupações, desilusões, tristezas, perdas… Enfim… felizes!
Feliz estarias tu se o nosso Sporting não se tivesse tornado num “monte escatológico" de “gente” que derivou da normalidade para caminhos ínvios, desnorteados por carácteres oprobriosos…
Natural, isso sim, é o facto de ausente estares e seres presente. No tempo, que agora é todo teu, estás no nosso. Nos diversos brindes, nos gestos que ensinas, na gargalhada que se ouve e nos abraça; nos locais onde não vais, mas onde te evoco e Lhe peço para que continues bem…
No nosso presente, continuas a ser um presente que temos, daquele tipo que não cabe sob a copa de qualquer árvore de Natal. Estás presente a cada gesto e passado … só se for o tornedó…
Estive muito tempo ausente no que concerne a esta exteriorização de sentimentos e tenho alguma dificuldade em ver a Maiúca.
Contudo, tu sabes que falo muitas vezes contigo, não é verdade?!...
Sem mails, facebook, whatsapp, esta carta vai selada com a vontade de te rever.
Porque não apareces para fazer um bacalhau à Zé do pipo?
Não esperes pelo dia em que for ter contigo … aparece… Serás sempre bem-vindo!
Até já!
TZ
quinta-feira, 31 de maio de 2018
[10064] - PEDRA DE NOSSA SENHORA - SANTO ANTÃO
RIBEIRA DO PENEDO
-- ROCHA SCRIBIDA
SANTO ANTÃO
“…. Baltazar
Lopes da Silva, em carta remetida a Arnaldo França, e que este deu a conhecer
num artigo editado em 1999 na revista “EKOS do PAÚL”, embora assumindo-se como
um “ epigrafista menos que amador”, opta pela tese de se tratar de uma
inscrição de portugueses, eventualmente dos primeiros navegadores que aí
aportaram.
Baseando-se
nos conhecimentos que adquirira no curso de românicas concluído em Lisboa, o
escritor identifica palavras portuguesas. “Diogo” e ao pé da cruz Antº
(António) a fez”, e ainda uns caracteres “XPTO” que admite serem uma
abreviatura de “Cristão” …”
IN – “Noticias lusófonas” – 18 Nov. 2003
Há algum tempo denunciamos este “crime”….
Voltamos para perguntar
se já foi restaurada?!
COLABORAÇÃO: DJEU
domingo, 27 de maio de 2018
[10063] - AREIAS DE CABO VERDE - HISTÓRIA
EÇA DE QUEIROZ |
AREIA DE CABO-VERDE |
…” Tendo
deixado de falar para resolver, o actual sr. Ministro da marinha nem fala nem
resolve.
O parlamento
fechou-se sem que sua ex.ª lhe apresentasse:
O orçamento
do ultramar.
O relatório
do seu ministério.
O
mais simples e exíguo projecto de lei.
Da actividade com que sua ex.ª ocorre ao expediente
dos negócios pendentes da sua secretaria, daremos ao leitor uma ideia contando
uma história.
À exposição de Paris de 1867 mandou um habitante do
arquipélago de Cabo Verde uma amostra das areias daquela costa. Examinou em
Paris as referidas areias, a École des arts et des métiers, e em Lisboa a
sociedade farmacêutica. Averiguou-se então que a areia das costas de Cabo Verde
continha partículas de ferro.
Há tempos a casa A. Dubois & C.e, de Rouen, tendo
catorze navios em navegação entre o nosso arquipélago e os portos europeus,
lembrou-se de pedir ao governo português licença para exportar, como lastro, a
areia de Cabo Verde, pagando ao governo a quantia que ele arbitrasse a cada
tonelada de areia, e obrigando-se a casa Dubois a fixar o mínimo das toneladas
exportadas, a fim de que o governo pudesse desde logo fixar no orçamento do
estado esta nova receita.
Um amigo nosso, o sr. Regnauld, sócio da casa Dubois,
negociantes milionários, cuja respeitabilidade foi afiançada em Lisboa pelo
próprio sr. Thiers, o sr. Regnauld dizemos, veio pessoalmente a Portugal tratar
do negócio, e expô-lo em toda a sua simplicidade ao sr ministro da marinha. S.
ex.ª mandou ouvir a junta consultiva do ultramar. Esta deu o seguinte parecer
sibilino:
Que, havendo aço na areia de Cabo Verde, e sendo o aço
um metal, a exportação da sobredita areia se deveria regular pela legislação
das minas!
De sorte que, tendo-se primeiramente decidido, sobre a
praia, que a praia se considerasse mina, resolveu-se depois sobre a mina, que a
mina se considerasse praia.
O Sr. Regnauld apresenta-se, pede, suplica, exora: --
Meus senhores, considerem a areia como muito bem quiserem, considerem-na praia,
considerem-na mina, considerem-na pano cru, considerem-na óleo de mamona, mas
respondam-me uma coisa: digam-me sim ou digam-me não, como lhes aprouver, mas
respondam-me por quem são, porque eu estou aqui a morrer de calor e de tédio, e
quero ir-me embora para casa!
Tal tem sido em cada dia a linguagem do nosso amigo, o
qual está em Lisboa há noventa dias: O seu requerimento foi apresentado há dez
meses!
Não se lhe responde nada, senão que se está meditando
o assunto.
IN- FARPAS- EÇA DE QUEIROZ – RAMALHO ORTIGÃO
COLABORAÇÃO - DJEU
terça-feira, 15 de maio de 2018
quarta-feira, 9 de maio de 2018
[10061] - A DESCOLONIZAÇÃO - CABO VERDE VI
O Governo de Transição
O Governo de Transição tomou posse a 31 de Dezembro de 1974, na cidade da Praia. Foi constituído pelo Alto-Comissário, Almirante Vicente Almeida d’Eça, pelo Major Manuel Vaz Barroso (Ministro da Administração Interna), tenente-coronel Vasco Wilton Pereira (Ministro do Equipamento Social e Ambiente), e da parte cabo-verdiana, nomeados pela direção do P.A.I.G.C., os Drs. Carlos Reis (Ministro da Justiça e Assuntos Sociais), Amaro da Luz (Ministro da Coordenação Económica e Trabalho) e Manuel Faustino (Ministro da Educação e Cultura). 56
Logo no mês seguinte à tomada de posse do novo Governo, o Alto Comissário Almeida d’Eça expôs da seguinte forma às autoridades portuguesas a situação económico-social que o arquipélago então enfrentava:
“(…)
Não constitue, por certo, surpreza para ninguém se vos disser que o Governo de Transição veio encontrar uma situação alimentar e uma situação financeira extremamente difíceis.
Falando unicamente em géneros essenciais, as existências em açúcar e leite estavam a acabar-se, como veio a acontecer; quanto a milho, a reserva não era de forma alguma tranquilizante; apenas em relação a feijão se não levantavam problemas imediatos.
Do ponto de vista financeiro o tesouro encontrava-se em sérias dificuldades, praticamente sem reservas. (…)”57
Já na reunião da Comissão Nacional de Descolonização, de 25 de Janeiro de 1975, o Almirante Almeida d’Eça tinha concluído a sua intervenção com um pedido de apoio financeiro:
“Para terminar deseja-se unicamente dizer que se não for concedido pelo menos para os próximos 6 meses verbas para o subsídio não reembolsável e para o Plano de Fomento, a situação de Cabo Verde, que já é crítica no que respeita a aspectos alimentares, tornar-se-á catastrófica em pouco tempo.”58
Com efeito, o arquipélago estava então a enfrentar um período de sete anos de seca, seguida de uma praga de gafanhotos que tinha destruído as últimas culturas. Como consequência, considerou-se que 90% da população ativa, dedicada ao sector agrícola, estava no desemprego. 70% do gado tinha sido dizimado pela seca prolongada.
Relativamente ao sector industrial, o chefe do Governo de Transição afirmou
que:
“ (…) À parte uma ou outra pequena empresa, principalmente ligada à pesca, nada existe de significativo.
A CONGEL, uma das grandes empresas cabo-verdianas com capital de 50 mil contos, tem 160 mil contos de dívidas e entrou na situação de falência técnica. (…)”59
Aquando da visita da Missão do Comité de Descolonização da O.N.U. a Cabo Verde, entre 25 de Fevereiro e 5 de Março de 1975, Abílio Duarte, na qualidade de dirigente do P.A.I.G.C., interveio perante representantes do Governo português e delegados da O.N.U., fazendo uma exposição em que apresentou de forma mais detalhada a situação socioeconómica do arquipélago.
Considerou que havia na altura cerca de 300 mil habitantes no arquipélago e 300 mil cabo-verdianos residentes no exterior. O PIB em 1973 tinha sido de 44 milhões de dólares, com participação de apenas 22% dos sectores produtivos. Em 1974, os subsídios não reembolsáveis por parte do Governo Português tinham constituído cerca de 70% das receitas públicas de Cabo Verde e a taxa de cobertura das importações pelas exportações era de 4%. Com efeito, na altura Cabo Verde importava todos os bens essenciais.
A taxa de desemprego atingia 50% da população ativa, problema que era parcialmente colmatado pelo sistema de “Apoio”, de contratação de mão-de-obra para construção de estradas. O rendimento médio diário per capita era, assim, equivalente a 0,2 US dólares. Na sua comunicação, proferida em francês, Abílio Duarte também caracterizou as condições habitacionais da população em meio rural e urbano:
“Dans les zones rurales et sous-urbaines la majorité de la population ne dispose que de maisons qui sont des constructions rectangulaires en pierre sèche et couvertes, en général, de chaume, avec une seule pièce et une fenêtre, sans électricité, sans eau canalisée et sans installations sanitaires.
Dans les zones sous-urbaines, qui grandissent vertigineusement à cause de la fuite des ruraux vers la ville, pressionés par la longue sécheresse que nous traversons, la situation est plus grave encore. Les constructions en pierre sèche avec les caractéristiques que nous avons mentionné, à cause du manque de logement, sont occupées par plusieurs familles, (…)”60
Importa referir que no Acordo de Transição assinado a 19 de Dezembro de 1974 entre o Governo português e o P.A.I.G.C., diversas cláusulas incidiam sobre a questão das relações futuras entre os dois Estados, como se pode constatar pela leitura dos Artigos 12º ao 16º do referido Acordo. Foram, assim, declaradas as intenções do Governo português de prestar assistência financeira, técnica e cultural ao Estado de Cabo Verde, de celebrar com o novo Estado acordos bilaterais de cooperação em todos os domínios e de não alterar a sua política em relação aos imigrantes cabo-verdianos. Por seu lado, o P.A.I.G.C. comprometeu-se a promover a salvaguarda dos cidadãos e dos legítimos interesses portugueses no arquipélago.61
A independência do arquipélago de Cabo Verde foi proclamada às 12h00 do dia 5 de Julho, na cidade da Praia, e representando Portugal estiveram presentes o Primeiro-Ministro Vasco Gonçalves, os ministros sem pasta Magalhães Mota e Pereira de Moura, o Dr. Álvaro Cunhal, o General Carlos Fabião, os Drs. Manuel Villas-Boas e Fernando Reino, o Eng.º Lopes Cardoso e o Dr. António de Almeida Santos.62 Estiveram também presentes delegados da O.N.U. e da O.U.A. e muitas delegações de países estrangeiros. Representando o novo Estado independente, presidiu à cerimónia o Presidente da Assembleia Nacional recém-eleito, Abílio Duarte, e nela participaram diversos altos dirigentes. Na cidade do Mindelo e na ilha do Sal realizaram-se simultaneamente curtas cerimónias essencialmente militares. No dia 7 de Julho foi realizada uma cerimónia semelhante na cidade do Mindelo.
A bandeira nacional portuguesa foi içada pela última vez às 08h00 do dia 5 de Julho, com honras militares, nas cidades da Praia, do Mindelo e na ilha do Sal.
Aquando do içar da bandeira nacional de Cabo Verde, “as forças em terra prestaram as honras correspondentes, os navios fundeados fizeram as salvas da ordenança. Na Praia, uma formação da Força Aérea Portuguesa sobrevoou o local da cerimónia e lançou flores e panfletos com palavras de saudação ao novo País.”63
Obtida a independência nacional, o então Primeiro-Ministro Pedro Pires confessou que convivia com o fantasma da fome, que durante três séculos assolou a população do arquipélago.64 Com efeito, especialistas do Banco Mundial afirmaram nessa altura que o Estado de Cabo Verde não era economicamente viável.
Contudo, em 40 anos de independência, não somente o espectro da fome foi ultrapassado, como outras grandes transformações ocorreram na sociedade caboverdiana: tendo a população residente aumentado de cerca de 200 mil habitantes em 1975 para quase 500 mil em 2013, em apenas 15 anos o PIB per capita quadruplicou, passando de 180 dólares em 1975 para 759 dólares em 1990. Referindo alguns indicadores respeitantes ao sector da Saúde, a taxa de mortalidade infantil, que era de 96 por mil em 1975, passou a ser de 21,7 por mil em 2003, tendo a esperança de vida à nascença atingido os 72 anos em 2004. No sector da Educação, a taxa de analfabetismo, que era de 70% por altura da independência, tinha diminuído para 25% em 2000(65). Para a obtenção destes e de outros resultados, os governos de Portugal têm sido dos principais parceiros dos governos de Cabo Verde.
56 Lopes, Cabo Verde, 407. 57 AN/TT, DCV - Descolonização de Cabo Verde, Caixa 2, “Governo de Transição do Estado de Cabo Verde” 58 AN/TT, DCV - Descolonização de Cabo Verde, Caixa 2, “Situação em Cabo Verde” 59 AN/TT, DCV - Descolonização de Cabo Verde, Caixa 2, “Situação em Cabo Verde” 60 AN/TT, DCV - Descolonização de Cabo Verde, Caixa 2, Visita da Missão do Comité de Descolonização da ONU a Cabo Verde: “Nas zonas rurais e suburbanas a maioria da população dispõe tão-somente de casas que são construções retangulares em pedra seca, e em geral, cobertas de colmo, com apenas uma divisão e uma janela, sem eletricidade, sem água canalizada e sem instalações sanitárias. Nas zonas suburbanas, que crescem vertiginosamente devido à fuga dos rurais para a cidade, pressionados pela longa seca que atravessamos, a situação é ainda mais grave. As construções em pedra seca com as características que mencionámos, devido à falta de alojamento, são ocupadas por muitas famílias, (…).” (traduzido por mim) 61 AN/TT, DCV - Descolonização de Cabo Verde, Caixa 1 “Acordo entre o Governo Português e o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC)” 62 Santos, Quase Memórias, 260. 63 AN/TT, DCV - Descolonização de Cabo Verde, Caixa 3, “Relatório Final” 64 Lopes, Cabo Verde, 468. 65 Ângela Sofia Benoliel Coutinho, “The Political Trajectory of President Pedro Pires”, Africa Confidential (London, 2011)
O processo de descolonização de Cabo Verde Ângela Sofia Benoliel Coutinho (IPRI/UNL)
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